Guerra de Trump aos media passou das palavras aos atos
Horas depois de Donald Trump ter dito perante uma plateia de conservadores que planeava "fazer algo" para combater a injusta cobertura noticiosa de que era alvo, a Casa Branca limitou o acesso à sua conferência de imprensa diária a vários meios de comunicação social, algo inédito na presidência dos Estados Unidos, transformando-a noutro tipo de encontro com os jornalistas. Aliás, na sexta-feira, Sean Spicer também já tinha feito eco das palavras do presidente. "Penso que vamos reagir de forma agressiva. Não vamos ficar sentados e deixar sair falsas narrativas, histórias falsas, factos imprecisos", declarou o assessor de imprensa da Casa Branca.
Uma atitude que vai contra o que o próprio Spicer havia dito em dezembro, numa entrevista ao site Politico, e na qual garantiu que nunca iria banir um meio de comunicação social. "Conservador, liberal, ou outros, penso que isso é o que faz uma democracia democracia vs uma ditadura", afirmou.
Na sexta-feira, entre os media barrados estão alguns que Donald Trump já criticou abertamente, como a CNN e o The New York Times, mas também BBC, Los Angeles Times, Politico, New York Daily News, BuzzFeed News, Daily Mail, entre outros.
A Casa Branca garantiu que esta decisão não tinha sido tomada para excluir jornalistas de órgãos de comunicação social que têm criticado Donald Trump. Mas a verdade é que em vez da habitual conferência diária, Spicer decidiu dar um briefing sem direito a registo de imagem no seu gabinete. E para o qual convidou vários media que têm sido simpáticos para com o presidente, como o site Breitbart News (até há pouco tempo liderado pelo estratega principal da Casa Branca e assistente de Trump, Steve Bannon), a Fox News e o Washington Times. A par de grandes organizações como ABC, CBS, NBC, The Wall Street Journal, Reuters e Bloomberg.
A revista Time e a agência de notícias AP também foram convidadas, mas recusaram em protesto. O jornalista do The Wall Street Journal assistiu ao briefing, mas sem se ter apercebido das circunstâncias. "Se tivéssemos sabido na altura não teríamos participado e não iremos participar no futuro em briefings deste género", afirmou um porta-voz do jornal.
"Nunca aconteceu nada como isto na Casa Branca na nossa longa história de cobrir várias administrações de diferentes partidos", disse, em comunicado, o editor executivo do The New York Times, Dean Baquet. "O acesso livres dos media a um governo transparente é obviamente de interesse nacional", acrescentou.
A CNN também foi rápida a mostrar o seu descontentamento, usando o Twitter para deixar claro que este era "um desenvolvimento inaceitável pela Casa Branca de Trump. Aparentemente é assim que eles retaliam quanto noticiamos factos dos quais eles não gostam. Mesmo assim vamos continuar a noticiá-los". Na mesma linha, o BuzzFeed, através do seu editor-chefe, garantiu que esta "aparente tentativa de punir os media cuja cobertura não gosta" não irá "distrair-nos de continuar a cobrir esta administração de forma justa e agressiva".
O diretor da delegação de Washington da BBC, Paul Danahar, disse compreender que existem "ocasiões em que, devido ao espaço ou circunstâncias, a Casa Branca restringe o acesso a eventos de imprensa. No entanto, o que aconteceu hoje [sexta-feira] não se insere nesse padrão".
As críticas ao comportamento da Casa Branca vieram também da Fox News, com o seu editor de política, Bret Baier, a pedir aos media conservadores para refrearem o seu contentamento com o que tinha acontecido, lembrando que houve quem defendesse a estação de televisão quando esta foi atacada pela administração Obama em 2009. "Alguns na CNN e no New York Times apoiaram a Fox News quando a administração Obama nos atacou e tentou excluir-nos. Um briefing deve ser aberto a todos os órgãos credenciados", escreveu no Twitter.