Guerra comercial entre EUA e China é oportunidade para a Europa em África - Analistas

Cascais, 30 mai 2019 (Lusa) -- A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China é uma boa oportunidade para a Europa aprofundar o relacionamento com o continente africano e para os empresários apostarem nos investimentos no continente, defenderam especialistas numa conferência.
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"A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos é uma boa oportunidade para as empresas europeias, porque as duas potências económicas distraíram-se", defendeu o presidente executivo da empresa química Kemcore, durante um painel no Fórum Portugal-SADC (Comunidade de DEsenvolviemnto da África Austral), que decorre esta manhã em Cascais.

"As empresas portuguesas não devem perder tempo, as oportunidades estão lá, e os países africanos reconhecem as dificuldades do passado, mas agora perceberam que o que faz crescer as economias é o investimento estrangeiro, e portanto há uma oportunidade, até porque quando os políticos travam batalhas há mais hipóteses de vitória para os empresários", acrescentou o líder desta empresa química fornecedora de 30 operações mineiras em 40 países.

Para o académico Fernando Costa Lima, as necessidades de financiamento em África superam os 100 mil milhões de dólares por ano, e a China colocou-se na frente do financiamento: "Quem se colocou na linha da frente do financiamento foi a China, e isso é uma mochila pesada que está às costas de muitos países em África, e que pode condicionar os próximos passos", disse o professor da Universidade do Porto.

"A Europa só ganhará mais influência em África, metendo-se entre os EUA e a China, se ganhar no financiamento, e com a presidência portuguesa da União Europeia tenho esperança que isso aconteça, mas a questão passa muito por quem ou por que países estão disponíveis para financiar a construção de infraestruturas em África", acrescentou o professor.

Para o líder da consultora PwC, Jaime Esteves, a China é o mais importante ator presente em África: "A China já é o 'player' mais agressivo no continente, e já o é há muitos anos", afirmou.

"A China está extraordinariamente atuante e dominante no continente africano pelos fatores de terra arável, água, recursos naturais, polo de desenvolvimento e exportação de produtos chineses", disse, acrescentando que o gigante asiático "é neste momento o grande player em África e vai continuar a sê-lo devido ao afastamento dos EUA de África".

As duas megatendências que explicam este afastamento, concluiu, são "a autossuficiência norte-americana em termos de recursos energéticos e a distância que existe entre o continente americano e africano se o mapa mundo for visto tendo o oceano Índico no centro".

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