Gubin, uma aldeia encostada à zona de exclusão
Quando o último reator em funcionamento da central de Chernobyl encerrou, a 15 de dezembro de 2000, com grandes festejos e pompa do regime do então presidente Leonid Kuchma - estava longe, ainda, a Revolução Laranja -, a zona de exclusão em torno da central acidentada era terra inóspita. Ouvia-se falar de uns camponeses idosos que teriam regressado a suas casas na região, por sua conta e risco. Mas no trajeto de autocarro para a central, através da zona de exclusão, não havia ninguém. Nem sinais de que pudesse viver ali gente. Nas pequenas aldeias dentro do perímetro mais afetado pela radiação, as casas eram a imagem do abandono, sem portas, com os telhados a cair, sem vida, muitas delas já meio engolidas pelos matos à solta. Como Pripyat, a cidade dos trabalhadores da central e das suas famílias, que só foi evacuada um dia depois da explosão do reator número quatro, porque o secretismo tudo calava na ex-União Soviética. Pripyat era uma cidade-fantasma a desfazer-se e a enferrujar para sempre, a três quilómetros da central. E inóspito é isso mesmo: nos campos não se viam, tão-pouco, animais - os cavalos, veados, raposas, lobos e javalis que hoje, 30 anos depois do desastre, proliferam por lá, numa festa de vida selvagem. Mas, ali bem perto, em Gubin, numa pequena aldeia encostada à vedação que demarcava a zona de exclusão, conheci Alexia, uma mulher nos seus 70 anos, para quem o fecho definitivo da central não tinha grande significado. "É bom que feche, claro", disse- -me, sem entusiasmo. Para Alexia, para as suas amigas Ana, Genya e Olya, e para os outros 101 habitantes de Gubin, nada mudaria nas suas vidas. Ali, junto da aldeia, uma enorme abertura na vedação era a porta para o outro lado. Em Gubin, usavam-na para lá ir aos cogumelos e aos morangos, que depois comiam e vendiam em Kiev.