Grupo de quadros critica gestão da Portugal Telecom
Um grupo de quadros da Portugal Telecom elaborou um documento crítico sobre a administração da PT, que acusa de falta de visão estratégica ao privilegiar a remuneração dos accionistas em detrimento da valorização da empresa e dos seus recursos humanos. Isto numa altura em que a sucessão da presidência do grupo está em cima da mesa.
O grupo, auto-intitulado Clube de Reflexão Roma, nasceu de encontros informais regulares de profissionais das comunicações. É formado maioritariamente por quadros da PT, mas integra também pessoas da Anacom, CTT e Oni. Entre os seus 47 membros estão Eduardo Martins e Proença Adão (ex-administradores da PT), Luís Nazaré e Estanislau Mata Costa (presidente e administrador dos CTT, respectivamente). Nem todos participaram na elaboração do documento (é o caso de Luís Nazaré e Mata Costa, que até dizem desconhecê-lo), que os seus promotores dizem ser "fruto de várias reuniões e conversas informais que o grupo teve nos últimos dois anos".
Intitulado "A Importância Estratégica da PT", o texto aponta "fragilidades" na posição da empresa e critica a "falta de ambição da sua gestão". Alude à política de compra de acções próprias como uma "tentativa de fazer passar uma imagem de boa gestão financeira", para que, a 31 de Dezembro, "os membros da Comissão Executiva possam aspirar a uma renovação de mandato".
Depois de criticar a política de recursos humanos (ver caixa), o documento traça um diagnóstico das três principais empresas do grupo PT Comunicações, TMN e TV Cabo. E aqui os autores concluem que "a política triangular - gestão da PT ineficiente, agressividade da Autoridade da Concorrência, rolo compressor da Anacom - conduziu à situação preocupante" destas três empresas. Segundo este grupo de reflexão, que aponta fragilidades e pontos fortes em cada uma das companhias, adiantando mesmo algumas propostas, a empresa mais vulnerável é a PT Comunicações. Alertam para a redução de clientes na rede fixa e para o risco de desemprego que afecta milhares de famílias. Os autores concluem que "o Governo não deve deixar de ter uma importante posição accionista na PT", relembrando o papel de charneira da empresa no desenvolvimento da sociedade da informação.
Fonte da PT diz que as "considerações deste documento carecem de sustentabilidade e até de conhecimento do sector", apontando um "sentimento saudosista de uma empresa pública" por parte dos autores.
Apesar de existirem pessoas com ligações ao PS, o grupo diz-se à margem de qualquer força política. Os elementos que participaram activamente na elaboração do documento são quadros da própria PT, como é o caso de Américo Thomati, António Barata, Proença Adão (já aposentado), Paulo Vaz, Luís de Freitas, Carlos Machado, António Geirinhas, Mário Lourenço e outros. Dizem-se "preocupados" com o futuro da empresa e empenhados em propor "soluções construtivas" para salvaguardar os postos de trabalho.