Grexit ou adiamento

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A Cimeira do Euro extraordinária (Conselho Europeu restrito aos países que integram a zona euro) reúne-se hoje. O que está em causa, na minha perspetiva, não é a escolha entre a saída da Grécia da zona euro e um acordo que a impeça definitivamente. Na verdade, o melhor que poderemos esperar (partindo do princípio de que o Grexit, dada a sua enorme margem de incerteza, seria o pior) é mais um adiamento. A urgência é extrema. Dia 30 de junho, termina o segundo resgate, e também o prazo para que Atenas não entre em incumprimento com o FMI. Nesse caso, o BCE seria obrigado a cortar o soro da vida que sustenta ainda o corpo do sistema bancário helénico (a liquidez de emergência, ELA). Só Angela Merkel poderá evitar esta situação que conduziria a um verão quente na Grécia e ao regresso da dracma nos primeiros dias de Julho. O falecido sociólogo alemão, Ulrich Beck, foi quem melhor penetrou no processo decisório da chanceler, num ensaio também publicado em Portugal (Europa Alemã, Edições 70, 2013). Ele definiu o mecanismo mental de Merkel como "a arte da hesitação como estratégia disciplinadora". Como poderia funcionar essa "arte" numa altura em que a Grécia tem mais de 17 mil milhões de euros de dívida a saldar até ao final de agosto, e apenas 7,2 mil milhões a receber, ainda do segundo resgate? Um adiamento teria de passar pelo prolongar do segundo resgate, permitindo libertar pelo menos dois mil milhões dos 7,2 em falta, para impedir o default junto do FMI, e pelo alargamento indeterminado da cedência de liquidez de emergência do BCE a Atenas (essa espécie de dívida que é invisível para o público e parlamentos). Se Merkel não quiser ficar, já hoje, como a coveira da zona euro, vai precisar da cumplicidade activa de Mario Draghi. Vamos ter a resposta no final do dia.

*Professor universitário

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