Greta Gerwig, uma joaninha que se reinventou como cineasta
O clube é restrito. Só quatro realizadoras tinham conseguido a nomeação para melhor realizadora nos Óscares. Greta Gerwig em Lady Bird, em estreia já para a semana em Portugal, conseguiu juntar-se a Sofia Coppola (Lost in Translation - O Amor é um Lugar Estranho), Kathryn Bigelow (Estado de Guerra), Jane Campion (O Piano) e a Lina Wertmuller (Pasqualino das Sete Beldades). E logo com um filme de estreia.
Lady Bird é uma espécie de autorretrato da própria realizadora durante os seus anos de liceu. O filme narra aquele específico momento em que tomamos decisões identitárias que nos marcam para o resto da vida. A joaninha do título é Greta a formar-se como artista no meio de uma educação de classe média em Sacramento e num liceu onde nunca pertenceu ao clube das mais populares. Trata-se sobretudo de um retrato íntimo muito real e feminino, não esquecendo temas como a perda da virgindade e a decisão da emancipação.
O filme, desde o Festival de Toronto, ganhou um forte apoio da imprensa americana, tendo mesmo batido recordes de índices positivos no site Rottentomatoes (e isso hoje vale o que vale...), fator que terá ajudado a tornar-se um dos mais premiados títulos na temporada dos prémios. Que é o mesmo que dizer que Greta Gerwig e o seu Lady Bird caíram no goto. Um filme coqueluche é isto e chegou aos Óscares com uma pujança inapelável. Obviamente em ano de protestos femininos e de movimentos como o #metoo, a presença desta atriz--realizadora nos Óscares é fundamental.
Como atriz, Greta tem um percurso muito respeitado, sobretudo num certo cinema independente. Greta saltou para a fama em Greenberg (2010), comédia realizada por Noah Baumbach. Mas a sua presença mais fulgurante no cinema do namorado foi em Frances Ha (2012), onde também assinou o argumento, na altura, bastante comparado a Woody Allen se fosse mulher. A parceria com Baumbach continuou e juntos fizeram também Mistress America - Quase Irmãs (2015), e um novo filme ainda sem título. Entretanto, notabilizou-se em Mulheres do Século XX, de Mike Mills; A Humilhação, de Barry Levinson, e Maggie Tem Um Plano, de Rebecca Miller.
Como atriz, Greta adota sempre uma postura muito naturalista, tendo-se especializado em personagens de mulheres algo solitárias ou neuróticas. Esperamos apenas que este sucesso em torno da sua realização não abrande o seu ritmo como atriz. Para já, anunciou que o seu desejo é continuar a fazer um pouco de tudo e em marcha está uma trilogia sobre esta sua comunidade em Sacramento.