Grémio Literário volta a estar em vias de classificação

Processo anterior fora encerrado em 2006. Procedimento aberto também para os cemitérios dos Prazeres e do Alto de São João
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Quando, a 1 de junho de 2006, foi declarada o encerramento do processo de classificação do Palácio Loures, casa do Grémio Literário desde 1875, o argumento foi que o número 35-43 da Rua Ivens integrava já o Conjunto de Interesse Público da Lisboa Pombalina. Quase uma década depois, a condição mantém-se, mas, por proposta da Câmara Municipal de Lisboa e despacho do Diretor-Geral do Património Cultural, João Carlos dos Santos, o imóvel volta agora a estar em vias de classificação.

O despacho, datado de 22 de dezembro e publicado a 19 de janeiro em Diário da República, não especifica o porquê da abertura, mas as características ímpares do imóvel são bem conhecidas. Construído no século XIX na então Rua de São Francisco por António Esteves da Costa, visconde das Picoas e diretor do Banco de Portugal, o imóvel foi mais tarde adquirido pelo 2.º Visconde de Loures, Ângelo Francisco Carneiro.

De acordo com a informação disponível no site da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), foi este último que, cerca de 1860, "procedeu a diversas obras de remodelação e colocou no tímpano da frontaria a sua pedra de armas, conservada até à atualidade". A partir de 1875, passou a ser a sede do Grémio Literário, fundado por carta régia de D. Maria II de 18 de abril de 1846, onde ainda hoje se mantém. A monarca definiu então como missão da associação que teve como sócio número um o escritor e historiador Alexandre Herculano "a cultura das letras", concorrendo, "pela ilustração intelectual", para o "aperfeiçoamento moral".

Considerado um "edifício exemplar da arquitetura romântica de Lisboa", o Palácio Loures inclui um jardim desenhado originalmente em 1844 e remodelado em 1968 pelo arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles. Um painel de azulejos representando uma cena de caça no hall de entrada, uma biblioteca com cerca de 13 mil volumes, a sala Luís XV, em estilo neobarroco, e um gabinete todo em madeira são, segundo o site do Grémio Literário, alguns dos destaques do edifício que, recorda a DGPC, recebeu em 1912 a primeira exposição modernista em Portugal, na qual expôs o pintor Almada Negreiros.

"Seria bom que fosse classificado", sublinha ao DN Afonso Braga da Cruz, vogal do Grémio Literário, sem querer alongar-se sobre o porquê de considerar que tal deve acontecer. A abertura do procedimento pode ainda ser contestada.

Igualmente publicados a 19 de janeiro em Diário da República foram os despachos de abertura do processo de classificação do Cemitério dos Prazeres e do Núcleo Histórico do Cemitério do Alto de São João, também em Lisboa. Construídos no início da década de 1830 na sequência do surto epidémico de cólera que então assolou a cidade, estão ambos sob gestão municipal desde 1940.

Os jazigos dos Beneméritos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e dos Viscondes de Valmor, este último ladeado, segundo o site da autarquia, por "quatro estátuas dos escultores Costa Mota, Fernandes Sá, Tomás Costa e Moreira Rato (sobrinho), que representam respetivamente a arquitetura, a escultura, a gravura e a pintura" são alguns dos destaques no Cemitério do Alto de São João.

Já o das Prazeres é constituído quase exclusivamente por jazigos particulares, com as peças de autores mais ou menos anónimos a merecerem ser olhadas com atenção.

Os dois recintos são frequentemente alvo de visitas guiadas gratuitas, organizadas pelo município. As próximas são, no caso do Alto de São João, a 30 de janeiro e, no dos Prazeres, a 6 de fevereiro, estando sujeitas a inscrição prévia.

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