Grécia testa austeridade em referendo de alta tensão
Os relógios estão em contagem decrescente na Grécia e na Europa. As urnas para a votação no referendo grego abrem às 07.00 e fecham às 19.00 (05.00 e 17.00 em Lisboa). Duas horas depois é esperada a primeira projeção oficial dos resultados, que se pode atrasar caso a incerteza seja tão grande como revelam as sondagens. Os gregos dizem nai (sim) ou oxi (não) às propostas que os credores apresentaram em Bruxelas e que implicam mais austeridade, um voto que os líderes europeus dizem ser na realidade sobre a continuação do país na zona euro.
As sondagens mostram que os gregos estão divididos depois de o país ter falhado o reembolso ao FMI e o governo ter decretado o controlo dos capitais: a diferença entre sim e não é inferior a 1%, dentro da margem de erro. São chamados às urnas 9,8 milhões de eleitores e o referendo é válido com os votos de 40%. Na véspera, milhares de pessoas participaram nos comícios finais do sim e do não, onde não faltaram declarações acesas, quer contra o Syriza quer contra os credores. O dia de ontem foi de reflexão, mas as palavras ditas na véspera ainda ecoavam nos jornais e nos sites.
O ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, disse ao espanhol El Mundo que o que os credores "estão a fazer à Grécia tem um nome: terrorismo" (leia a entrevista nas páginas 8 a 10) e no grego Kathimerini escreveu que amanhã "começam as verdadeiras negociações com os credores". Por seu lado, o homólogo alemão, Wolfgang Schäuble, disse ao alemão Bild que o chamado grexit poderia ser apenas temporário.
"A Grécia é um membro da zona euro. Não há dúvida sobre isso. Quer com o euro ou temporariamente sem ele: só os gregos podem responder a esta questão. E é claro que não vamos deixar as pessoas em apuros", disse Schäuble. Mas não é claro como poderia funcionar uma suspensão temporária do bloco de 19 países da moeda comum.
Segundo o ministro das Finanças austríaco, Hans Jörg Schelling, o grexit "seria facilmente manejável economicamente" para a Europa. Mas, disse ao site Die Press, "seria considerado mais dramático" para a Grécia. Já o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, falou ao Welt am Sonntag da hipótese de se darem "créditos de emergência como medida de transição, para que os serviços públicos possam continuar a funcionar e as pessoas necessitadas recebam dinheiro". E admitiu que "para isso haveria dinheiro a curto prazo em Bruxelas".
Schelling também referiu que tem de ser estudado um novo programa de ajuda: "O velho está morto e não pode ser alargado. Um novo leva tempo. E não pode haver um novo empréstimo sem condições." Contudo, segundo indicou ao jornal grego Kathimerini o presidente do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, Klaus Regling, esse novo programa não precisa de ser tão duro como os anteriores: "As medidas necessárias são muito mais pequenas do que no passado."
Num artigo no Le Monde, o ex--presidente da Comissão Europeia Jacques Delors pediu aos europeus para fazerem todo o possível para resgatar a Grécia. Incluindo "examinar sem tardar o peso da dívida grega e dos outros países" nos quais houve um programa de assistência. Mas também deixou um aviso a Atenas: "Uma saída da atual crise implica uma mudança na Grécia: requer a expressão de um desejo claro de quebrar com os últimos 40 anos, assim como resistir à tentação de imputar o essencial dos problemas de Atenas a causas externas."