Grécia. Nova Democracia resgata governo ao Syriza com maioria absoluta
Com 90% dos votos apurados, a Nova Democracia (centro-direita) tem 39,7% dos votos e o Syriza (esquerda) do primeiro-ministro cessante, Alexis Tsipras, 31,5%. Vertido em lugares no Parlamento, a Nova Democracia deverá obter 158 dos 300 lugares, seguido do Syriza com 86 lugares. Na Grécia, o vencedor das eleições recebe 50 lugares de bónus para facilitar a obtenção de maiorias e a consequente governabilidade.
Segue-se o Movimento para a Mudança, Kinal, da ex-socialista Fofi Gennimata, com 7,9% e 22 deputados; os comunistas do KKE com 5,3 e 15 representantes. A confirmarem-se os resultados, há dois novos partidos no Parlamento helénico: a Solução Helénica (extrema-direita populista), com 3,7% e 10 deputados, e o MeRa 25, partido de Yanis Varoufakis, com 3,4% e nove lugares. Abaixo da barreira de 3% para eleger deputados, o partido neonazi Aurora Dourada fica de fora da assembleia, ao recolher 2,9%.
Kyriakos Mitsotakis, o novo primeiro-ministro, que toma posse na segunda-feira, fez um apelo à união. "A sociedade deu uma mensagem clara em favor do crescimento, da criação de emprego e de segurança. Eu vou trabalhar de forma árdua para representar todos os gregos. Somos muito poucos para ficarmos divididos."
"A transparência e a meritocracia vão regressar à Grécia e a nossa voz na Europa vai ficar fortalecida", garantiu. O novo líder grego disse que o Parlamento não vai fechar durante o verão.
Mitsotakis, que viveu em França na infância e estudou e trabalhou nos Estados Unidos e em Inglaterra dirigiu-se à diáspora grega que emigrou em massa durante a última década. "Não vos peço para regressarem já, mas mantenham os vossos olhos e corações abertos à Grécia. Vamos trabalhar com afinco para mudar o país do qual foram forçados a sair", disse.
O dia de eleições foi marcado pelas altas temperaturas (mais de 40º em vários pontos do país), o que terá contribuído para a subida da abstenção de 41,3%, registado nas europeias, para 44,2%.
Alexis Tsipras reconheceu a vitória da Nova Democracia, tendo telefonado ao líder do partido e futuro primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, de 51 anos. Mais tarde fez uma declaração pública: "Espero que o regresso da Nova Democracia ao poder não conduza a políticas vingativas, em especial no que concerne à proteção dos direitos dos trabalhadores e das minorias", disse, já a marcar terreno como líder da oposição.
"O Syriza ascendeu ao governo durante o tempo mais difícil da história da Grécia moderna", lembrou, tendo reconhecido erros, mas que conseguiu virar a página da austeridade.
O primeiro chefe de Estado a congratular Kyriakos Mitsotakis foi Recep Tayyip Erdogan. O presidente turco ligou ao líder da Nova Democracia a desejar que a sua chegada ao poder contribua para a melhoria das relações entre os dois países e para a prosperidade regional, indicou a agência Anadolu.
O presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker publicou no Twitter a carta que dirigiu ao grego. "Gostaria de felicitá-lo pela clara vitória nas eleições legislativas. Conhece a minha ligação pessoal à Grécia e às pessoas que tanto sofreram na última década. A dignidade, resiliência e o empenho europeu dos gregos ao longo destes anos merecem respeito", começa por escrever. Depois, o luxemburguês diz que tem "confiança total na capacidade" de Mitsotakis e dos gregos para "abrirem um novo capítulo da história" do seu país.
Já o comissário europeu dos assuntos económicos e financeiros, Pierre Moscovici, começou por agradecer a Alexis Tsipras, "que tanto fez pelo seu país e pela Europa" e desejou felicidades ao novo primeiro-ministro.
Os gregos foram chamados a votar pela sexta vez no espaço de uma década, mas pela primeira desde que deixou o terceiro programa de assistência financeira do Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia. O primeiro-ministro Alexis Tsipras viu as eleições europeias como um voto de confiança nos planos do governo."Não se vota no governo mas é claro que não é um voto sem peso. É claro que o povo vai votar no plano político com o qual o país vai ser governado nos próximos anos", disse o líder da Coligação da Esquerda Radical, Syriza.
A jogada custou caro a Tsipras. O partido só desceu dois pontos percentuais e elegeu o mesmo número de eurodeputados em relação às eleições de 2014, mas foi ultrapassado, e por dez pontos, pela Nova Democracia de Kyriakos Mitsotakis. O resultado das eleições confirmou o que as sondagens indicavam desde o final de 2015, pouco depois das eleições legislativas: que o partido de centro-direita era a escolha mais popular, pelo que Tsipras optou pelo fim do governo de coligação com os nacionalistas Gregos Independentes (ANEL) e pelas eleições antecipadas.
A derrota do Syriza nas eleições é resultado da perda de contacto do partido com uma classe média que o apoiou em 2012 e 2015, e agora desencantada por uma década de austeridade e que, ao ver o país a recuperar, com excedentes primários decorrentes da pesada carga fiscal e não do crescimento económico, e sem recuperar rendimentos nem direitos. Segundo a OCDE, nove em dez famílias da classe média sentem dificuldades em satisfazer as necessidades básicas e sete em cada dez gregos dizem que não conseguem fazer face a uma despesa inesperada.
Pelo outro lado, a Nova Democracia, que realizou uma oposição dura durante três anos e meio, aligeirou o tom nos tempos mais recentes, ao dar prioridade ao crescimento económico, ao corte nos impostos, ao aumento dos salários e ao aumento da segurança policial, mas sem nunca esquecer temas que apelam aos eleitores mais conservadores e nacionalistas, como é o caso da sua oposição ao acordo com a Macedónia do Norte.