Grécia não pagou ao FMI e admite agora cancelar referendo. Eurogrupo discute hoje ideia de um 3.º resgate
O Eurogrupo rejeitou ontem um novo pedido do governo grego para a extensão do seu resgate seguido de um terceiro programa de assistência. O atual programa terminou à meia-noite, sem o desembolso de verbas e com a consequente falha dos pagamentos de junho ao FMI. O fundo confirmou ontem à noite que Atenas não reembolsou os 1,5 mil milhões devidos e que irá avaliar o pedido grego para que seja concedido ao país um adiamento do prazo reembolso dessa quantia. Os ministros das Finanças da zona euro reiniciam o debate às 10.30 em nova teleconferência.
"A teleconferência é para falarmos sobre o novo resgate", confirmou ontem o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, para quem "pedir um novo programa é sempre possível", a qualquer país do euro. "A Grécia é um membro da zona euro [e] é membro do Mecanismo de Europeu de Estabilidade e pode pedir assistência financeira", afirmou, dando a entender, porém, que do ponto de vista político, pode não ser tão fácil conseguir um resgate com o atual governo grego. Dijsselbloem espera que algo mude.
O vice- primeiro-ministro grego, Yannis Dragasakis, admitiu entretanto ontem numa entrevista à televisão pública que o referendo anunciado para domingo poderia já "não ser realizado". Em 2011 quando o ex-primeiro-ministro George Papandreou quis fazer um referendo, o atual chefe do governo Alexis Tsipras foi contra a ideia da consulta.
Ontem, Dragasakis também indicou que Atenas pediu ao FMI para adiar o prazo de reembolso dos 1,5 mil milhões que tinha de pagar e, ao final da noite, o fundo confirmou ter recebido o pedido e ir avaliá-lo em devido tempo. A Grécia tornou-se assim o primeiro país desenvolvido a falhar um pagamento ao FMI, a par do Sudão, da Somália e do Zimbabwe.
Na carta que enviou ontem ao presidente do Eurogrupo - "iniciativa do governo grego", como pedira o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker -, o primeiro-ministro grego pediu que o Mecanismo Europeu de Estabilidade fosse acionado, tendo em conta os "problemas financeiros urgentes" que a Grécia enfrenta "na segunda metade de 2015 e em todo o ano de 2016". Tsipras sugeriu, assim, uma extensão do atual programa e um terceiro resgate sem o FMI bem como um perdão da dívida. Foi tudo rejeitado pelos ministros da zona euro que se reuniram por teleconferência com o homólogo grego Yanis Varoufakis.
Até agora é conhecida a vontade de Atenas de afastar o FMI de futuros resgates ao país. Mas também é conhecido que esse não é nem nunca foi o desejo da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e do seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble. Ambos veem com bom olhos a participação do FMI nas assistências financeiras a países europeus.
Na verdade, o tratado consolidado do Mecanismo Europeu de Estabilidade refere que quando "um Estado membro da zona euro solicita assistência financeira ao MEE espera-se que envie, sempre que possível, pedido semelhante ao FMI". O mesmo artigo refere: "A instituição do MEE não deve ser considerada como uma resposta autónoma à crise de dívidas soberanas."
Ontem, num comunicado, o diretor executivo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira , Klaus Regling, considerou "lamentável" o fim do programa sem que tivesse sido encontrada uma "disposição de acompanhamento", pondo em risco "os resultados positivos" alcançados através da intervenção internacional "até à primeira metade de 2014".
O presidente do Eurogrupo notava ainda: "A conclusão sobre o pedido de extensão chegou [ontem] demasiado tarde." Espera-se que hoje Varoufakis especifique ou apresente novas alterações às propostas contidas na carta de ontem.