Grandes empresas vs. empresas disruptivas
Devemos a Clayton Christensen, em The Innovators' Dilemma, ter elaborado a teoria da inovação disruptiva e as suas possibilidades para os negócios, na senda da "destruição criativa" referida por Joseph Schumpeter na década de 1940.
Cada vez mais empresas relevantes no tecido económico não são grandes, são disruptivas. Disruptivas em função de inovação, de tecnologia ou de outros fatores. Estas empresas disruptivas - Tesla, Uber, Deliveroo, Netflix, Airbnb, Facebook, Instagram, WhatsApp, Alibaba, Amazon, Virgin, Google, Tencent, DJI, etc. - alteraram decididamente a face do mundo. E dizer que são grandes é perder o foco do essencial; ao contrário de outras corporações que permaneceram grandes, estas tornaram-se grandes por terem sido originariamente disruptivas.
As grandes empresas só muito raramente são disruptivas (por exemplo, a Apple no lançamento do iPhone) e nem inovadoras tendem a ser. A inovação não está no coração de uma grande corporação, que já o terá sido em etapas passadas do seu crescimento: tendo conquistado uma relevante quota de mercado, o seu foco não tende a ser direcionado para a criação de novas ideias, mas para garantir que as existentes estejam atualizadas.
Muitos nas nossas elites dirigentes e entidades decisoras e financeiras continuam a seguir a tese velha e gasta da "competitividade das grandes empresas". É vero que as economias de escala permitem uma maior competitividade teórica a grandes empresas. Mas a mudança disruptiva que é necessária não passa por elas.
Portugal teve a sorte de ter tido um governante que percebia quão relevante era criar condições para o florescimento de empresas inovadoras e disruptivas. Começando pelas que, com os modelos de economia digital mais disruptivos e escaláveis, têm a sua génese e crescimento no âmago da economia de partilha e de consumo colaborativo, indo até às empresas de software, hardware, de ciência, farmacêuticas e biotecnologia.
Que percebia que o e-commerce, a IA, a IoT, o M2M, a Nanotech, a impressão 3D, a rotulagem inteligente, a realidade aumentada, blockchain, veículos autónomos, robótica avançada, constituem tecnologias disruptivas no mesmo time continuum que fazem parte de uma quarta revolução digital em curso que se reflete nas relações e nos negócios.
Que assinalava que quase metade do novo emprego é criado por empresas com menos de cinco anos, sendo, muitas vezes, as que pagam mais. Que estas são as que apresentam modelos de negócio mais ambiciosos e disruptivos.
Ah, João Vasconcelos, a falta que tu nos fazes...
Precisamos de elites e dirigentes - aqui incluídos os dirigentes políticos - que apoiem empresas disruptivas, não mastodontes rentistas e ineficientes, que estejam atualizados, que tenham mundo, que leiam a realidade a partir dos factos e não de ideias preconcebidas, que não cedam à tentação de se rodear de yes-men e cortesãos, mas de especialistas independentes e, em se tratando de gestores da res publica, que na sua atuação sejam movidos pelo interesse público; e apenas por ele.
Quando as nossas elites e os nossos dirigentes escutavam o saudoso João Vasconcelos, vinham-me à memória os concertos dos Madredeus no Japão - a larga maioria dos ouvintes adorava a sonoridade, entusiasmava-se muito e batia palmas, mas nunca percebeu verdadeiramente o que ele dizia.
Consultor financeiro e business developer
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