Grandes bancos emagrecem. Estrangeiros contratam barato
Os maiores bancos portugueses estão a emagrecer todos os anos os seus quadros de trabalhadores e a encolher a rede de agências para rentabilizar o negócio, abalado pela crise financeira e pela crescente digitalização dos serviços bancários. Só neste ano, a Caixa Geral de Depósitos e o Novo Banco já anunciaram novos programas de rescisões de quase mil trabalhadores; desde 2016 são mais de 4200 os que ficaram sem emprego só nos cinco maiores bancos. Um cenário negro que apenas está a ser suavizado pelo facto de muitos bancos estrangeiros estarem a instalar em Portugal centros de serviços, aproveitando a elevada percentagem de licenciados - e a mão-de-obra barata.
A política de fecho de agências bancárias por todo o país prossegue. Até porque os problemas da banca não estão todos resolvidos. "As condições operacionais/financeiras dos bancos melhoraram no período pós-crise, com a generalidade dos bancos a concretizar planos significativos de redução de custos e/ou redimensionamento das estruturas", refere uma análise do banco BiG à banca portuguesa. A redução de custos, a par de "alguma limpeza do balanço e melhoria das condições macroeconómicas", ajudou a mitigar os principais problemas da banca doméstica que "acabam por persistir, em menor escala". Mas é preciso emagrecer mais, pois os desafios da digitalização e dos novos players da internet estão aí.
Ao todo, Caixa Geral de Depósitos, Novo Banco, BCP, Santander Totta e BPI tinham ao seu serviço, no ano passado, pouco mais de 31 600 trabalhadores; em 2016, esse número quase chegava aos 34 mil. Mas o banco público, o maior empregador, com 8321 funcionários, já avisou que, entre rescisões amigáveis e reformas, pretende cortar mais 570 postos de trabalho neste ano; a instituição que nasceu das cinzas do BES revelou, na semana passada, que vai eliminar mais 400 empregos ao longo deste ano. E até o Santander Totta, sem avançar números, deixou no ar a possibilidade de reduzir mais os quadros, em resultado da integração do Banco Popular Portugal.
No caso da CGD e do Novo Banco, existem obrigações impostas por Bruxelas. O banco público, que recebeu uma injeção de capital estatal de 5000 milhões de euros, tem um plano de reestruturação, acordado entre o governo e a Comissão Europeia em 2016, que prevê a redução de pelo menos 2200 trabalhadores até 2020. A Caixa terá de ficar com 6650 funcionários. No espaço de dois anos perde 1100 trabalhadores. O número de agências tem de encolher para um máximo de 490; no final de 2017 tinha 587 balcões. "A Caixa, fechando sucessivamente balcões, na prática está a ser nacionalizada", afirma Paulo Marcos, presidente do Sindicato Nacional dos Quadros Técnicos Bancários (SNQTB).
No âmbito da venda ao fundo de investimento norte-americano Lone Star e de uma possível injeção de até 3,89 mil milhões de euros por parte do Fundo de Resolução, o Novo Banco, que fechou 2017 com um total de 5297 trabalhadores, anunciou já a saída de mais 400 trabalhadores neste ano e o fecho de 73 balcões. Desde a sua criação, após a resolução do BES, em agosto de 2014, o Novo Banco já dispensou um terço dos seus trabalhadores.
Além da redução da rede de balcões e do número de trabalhadores, os bancos estão agora também a apostar na contratação de serviços de outsourcing. "Em 2017 agravou-se a tendência de os bancos substituírem trabalhadores qualificados, de meia-idade, por trabalho em outsourcing, frágil, desregulamentado, barato e não suscetível de criar relações para o futuro", denuncia Paulo Marcos.
O cenário da banca só não é mais negro porque muitas instituições estrangeiras estão a recrutar pessoal. BNP Paribas, Natixis, BAI, BAE e Bankinter são alguns exemplos. "Portugal é um país muito atrativo para os bancos estrangeiros instalarem centros de competência", afirma Paulo Marcos. O Natixis tem um centro de excelência de tecnologias da informação no Porto e vai contratar mais 300 trabalhadores até ao fim de 2019, além dos 300 que já recrutou. O BNP Paribas emprega já 5000 trabalhadores em Portugal. Razão? Boas qualificações e salários baixos.