Grande Oriente Lusitano aprova entrada de mulheres na organização
A maioria das lojas do Grande Oriente Lusitano (GOL) aprovou a entrada de mulheres e agora caberá ao parlamento maçónico (Grande Dieta) decidir o modo como esse processo se irá realizar, anunciou esta segunda-feira o grão-mestre da organização.
Em entrevista à agência Lusa, Fernando Cabecinha explicou que, nos últimos meses, as 103 lojas que compõem a obediência maçónica mais antiga de Portugal foram ouvidas sobre a iniciação de mulheres e a maioria aprovou a sua entrada.
"Posso dizer que neste momento há uma vontade maioritária do povo maçónico no sentido de que o GOL seja uma obediência" onde trabalham "lojas masculinas, femininas ou mistas", afirmou Fernando Cabecinha, reconhecendo que a "questão da iniciação das mulheres ao Grande Oriente Lusitano é um processo muito delicado" porque exige vários procedimentos e pode obrigar à alteração da constituição maçónica.
O tema foi trazido pelo grão-mestre, que tomou posse há dois anos, respondendo a uma discussão interna, com vários elementos a reclamarem a modernização da organização.
Trata-se de "uma decisão que competiria ao povo maçónico: ele foi ouvido no âmbito das lojas e agora vai ser ouvido na Grande Dieta, que é uma espécie de parlamento que nós aqui temos", com uma média de dois representantes por loja.
Agora, disse Fernando Cabecinha, "caberá a esse órgão (...) definir qual é o caminho, quando, como e em que condições esse processo se deverá desenvolver".
O grão-mestre ficaria agradado se o processo ficasse concluído antes do final do seu mandato: "Eu gostaria que sim, mas não está nas minhas mãos".
A "única coisa que eu disse ao povo maçónico é que seja qual for a decisão que a Grande Dieta venha a tomar, desde que seja de forma inequívoca, eu a ratificarei", acrescentou.
Um dos pontos de honra do grão-mestre é não entrar em choque com a maçonaria feminina portuguesa, quando o GOL começar a aceitar mulheres no seu seio. "Temos um tratado [de amizade] que vamos cumprir na íntegra", mas "não há competitividade nem há competição entre as obediências" maçónicas.
O grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) mostrou-se preocupado com a degradação do direito à habitação ou à saúde e criticou a falta de empenho dos eleitos na resolução destes problemas.
"Vivemos uma crise internacional, mas também nacional. Hoje o direito à habitação tem de ser melhorado", como "o direito a um ensino de qualidade, o direito à saúde, que é fundamental para todos" ou o "direito a uma justiça equitativa", afirmou, em entrevista à Lusa, Fernando Cabecinha.
Os "pilares da democracia estão todos em crise, muito por ação dos atores sociais", porque "parece que se perdeu a noção de serviço público", disse.
"Os eleitos são eleitos para promoverem o bem-estar dos cidadãos e penso que isto está hoje afastado da realidade", lamentou.
Essa preocupação com a coisa pública é uma prioridade da organização com os seus membros, independentemente do cargo ou das funções que ocupem.
"Obviamente faz parte da prática que se requer a qualquer maçom que tenha noção, quando está em cargos públicos, que tenha essa noção de serviço público" e de "estarem ao serviço dos cidadãos", afirmou Fernando Cabecinha, rejeitando que a organização vise algum tipo de liderança política ou social.
"Nós procuramos ser uma elite moral e não uma elite social" e os membros têm "profissões que impactam mais ou menos na sociedade", explicou.
Contudo, o objetivo é ajudar os obreiros a "desenvolverem-se para serem mais úteis à sociedade", numa lógica inorgânica, que segue os princípios humanistas que levaram à fundação da maçonaria.
"A maçonaria é feita pelos maçons e é inorgânica na sua ação", disse Fernando Cabecinha, dando o exemplo do 05 de Outubro de 1910, quando "havia maçons do lado republicano e do lado dos monárquicos".
"Quem trabalha na sociedade são os maçons, têm as suas responsabilidades e vêm aqui colher os ensinamentos, os conhecimentos para melhor atuarem na sociedade, quer no plano social, da filantropia, cultura ou educação", explicou.
Eleito há dois anos, Fernando Cabecinha entra agora no seu último ano de mandato sem esclarecer se será recandidato. "Ainda é cedo", sorri.
Apesar disso, faz um "balanço positivo" do trabalho, procurando recuperar a organização após a pandemia.
Com 103 lojas espalhadas pelo país e 2500 membros (mais cem que no início do mandato), Fernando Cabecinha diz que o GOL mantém capacidade de atração de novos elementos, mesmo num tempo em que o prestígio está associado à visibilidade pública.
"A desilusão que as pessoas vão sentindo em relação a outras organizações, torna a maçonaria interessante", disse.