Grande colecção de jornais do século XIX em perigo

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Uma das maiores colecções de jornais dos séculos XIX e XX que existe no nosso país corre o risco de se perder para sempre se não for digitalizada.

A direcção da Sociedade Martins Sarmento, sua proprietária, não tem dinheiro para investir num scanner de leitura vertical que permitiria, através de um processo tecnologicamente avançado, registar esta memória histórica e preservar um valioso espólio arquivístico.

O presidente da instituição, Amaro das Neves, disse ao DN que, embora o equipamento de que necessitam custe cerca de 30 mil euros, a sociedade não dispõe desse dinheiro para adquiri-lo. "Nós efectuámos uma candidatura a um programa que contemplava este tipo de aquisições, mas a meio do processo as condições foram alteradas e exigiam-nos a realização de investimentos adicionais para os quais não temos fundos. Temos de adiar o projecto, embora seja para nós uma prioridade urgente, dado o estado de degradação a que está sujeita a colecção."

A preocupação é justificada pelo valor do espólio, onde se incluem jornais que datam de 1822. Por outro lado, a intensa procura dos documentos, por parte de investigadores, historiadores, estudantes, jornalistas e cidadãos curiosos, que os manuseiam e consultam sistematicamente "têm contribuído para acelerar os processos de deterioração dos materiais".

Esta colecção de jornais antigos foi impressa em papel muito ácido, que se rasga e escurece facilmente. "Para evitar a sua perda, já estamos a restringir as consultas", explicou Amaro das Neves, apesar de se tratar de jornais que registam 150 anos de história da cidade, da região e do País, tendo por esse motivo uma procura constante para trabalhos de investigação.

Na hemeroteca da Sociedade Martins Sarmento estão guardadas as colecções dos jornais O Comércio de Guimarães - que se publica desde 1874 - e do Notícias de Guimarães - cujo primeiro número foi editado a 11 de Janeiro de 1932 e que mantém o mesmo director, Antonino Dias.

Existem também exemplares de folhas publicadas na época do liberalismo, em que se destaca o Azemel Vimaranense, um jornal que foi alvo de perseguição por parte da censura miguelista e levou à detenção e condenação à morte do seu director, o jornalista José de Sousa Bandeira, um defensor dos princípios liberais da-quela época.

A Sociedade Martins Sarmento é uma instituição cultural, fundada em Guimarães no ano de 1881 pelo arqueólogo Francisco Martins Sarmento.

O museu desta sociedade é um dos mais antigos do País e nele está preservado todo o espólio descoberto nas prospecções arqueológicas efectuadas no século XIX e inícios do século XX, tanto na citânia de Briteiros, em Castro Sabroso, e diversos sítios arqueológicos do Noroeste de Portugal que poderão vir a integrar, brevemente, a lista do Património Cultural da Humanidade, instituída pela UNESCO.

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