Governos "nunca investiram o suficiente". Incêndios são culpa de "todos"

O comissário Carlos Moedas anuncia 125 milhões de euros para investigação de catástrofes naturais, considera que "todos os governos" são culpados pelos incêndios em Portugal.
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O antigo governante recusa-se a assumir que o pacote de austeridades que ele próprio negociou com as instituições internacionais, nos anos em que o país esteve com intervenção externa possa ter condicionado o investimento, na prevenção e combate aos incêndios, considerando que "todos" tem responsabilidade no que aconteceu.

"A culpa aqui é de todos nós. É de todos os governos. Foi de todos os políticos. (...) Todos os governos, em Portugal, nunca investiram o suficiente. Porque se tivessem investido o suficiente não estávamos onde estamos hoje", considerou, recusa-se, porém, a apontar a austeridade, dos tempos em que esteve no governo, como uma das razões desse desinvestimento.

"Temos que olhar para onde é que houve e não houve investimento", disse o antigo membro do governo de Pedro Passos Coelho, admitido que "não consegue dizer neste momento qual foi o investimento [feito] nessa altura".

"Sei aquilo que se fez e aquilo que se tentou fazer no país em termos de reformas. Mas não posso dizer exatamente, na floresta, o que é que aconteceu, porque não tenho esses dados aqui comigo".

Sem querer "a partir de Bruxelas" interferir na política interna, o comissário apela ao entendimento político para que sejam encontradas soluções, considerando-se tal pode passar pelos chamados "pactos de regime", embora a expressão não seja a sua favorita.

"Os partidos devia estar juntos [e] criar esses pactos de regime (ou chamemos-lhe o que quisermos). Mas, aquilo que é [necessário] é decidir com base naquilo que é importante para as pessoas", defendeu, considerando que tal exige "uma nova forma de fazer política", disse, sugerindo "aos portugueses" que exijam soluções em matéria de incêndios.

"Têm que, com a sua capacidade de voto, dizer: queremos investir na solução, queremos mais e têm de voltar de acordo com isso. Têm de votar em políticos que lhes possam oferecer isso", defendeu.

125 milhões para investigar

O Comissário Europeu para a Ciência e Tecnologia e Investigação falava, em Bruxelas, à margem da apresentação do programa de trabalho do chamado Horizonte 2020, que nos próximos três anos dedica 125 milhões de euros para projeto de investigação ligados a catástrofes naturais.

"Com o que aconteceu em Portugal houve, realmente, uma grande vontade de aumentar o valor que vamos apostar nesta área da ciência, que tem a ver com as catástrofes naturais", disse o comissário.

"Vamos pôr 125 milhões de euros, para que os investigadores possam concorrer a estudar aquilo que se passou. O que é que aconteceu em Portugal?, o que é que aconteceu noutras áreas?, como é que vamos responder em termos de planeamento, em termo de prevenção?", são questões que Carlos Moedas coloca como possíveis hipóteses de análise dos cientistas candidatos ao dinheiro europeu.

"Espero que os cientistas portugueses, das universidades, concorram a estes projetos, porque são importantíssimos para o futuro de Portugal", disse o comissário, dizendo estar "muito contente por ter aqui 125 milhões de euros só para a ciência na área dos desastres naturais.

As candidaturas poderão ser entregues a partir de janeiro de 2018.

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