Governo saudita recebe Obama em clima de frieza

Relação entre Washington e Riade vive momento marcado por suspeitas mútuas.
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A chegada do presidente Barack Obama a Riade não foi mostrada em direto na televisão saudita e não foram anunciados novos acordos no plano económico e no campo da segurança, como costuma suceder em visitas desta natureza. O único ponto de convergência do líder americano e do rei Salman é no combate à influência do Irão na região do Golfo e à ameaça representada pelo Estado Islâmico (EI).

O clima de frieza que marcou o primeiro dia daquela que será a última deslocação do presidente americano à Arábia Saudita resulta da soma de três fatores. O primeiro é aquilo que os Estados do Golfo em geral e Riade em particular consideram ser o desinteresse dos EUA pela região, exemplificado por declarações do próprio Obama. Ainda recentemente, recordava ontem a Reuters, o presidente declarou numa entrevista que os países do Golfo e outros na Europa "andavam à boleia" dos EUA em matéria de segurança, sem fazerem nada por eles próprios. Mais diretamente relacionado com a Arábia Saudita, quando lhe foi perguntado se este país era um amigo dos EUA, a resposta de Obama quase passou os limites da diplomacia: "é uma situação complexa", disse o presidente.

O segundo fator prende-se com o clima de suspeita nos EUA sobre o envolvimento saudita nos atentados de 11 de setembro de 2001. Um recente relatório da comissão dos serviços de informações da Câmara dos Representantes, de que permanecem classificadas como secretas 28 páginas, terá concluído pela veracidade desse envolvimento, pelo menos no capítulo financeiro. Pressuposição desvalorizada pelo principal representante democrata na comissão, Adam Schiff. "A divulgação dessas páginas não irá acabar com o debate, mas irá acabar com os rumores", disse Schiff à Reuters.

A provar-se a ligação, o Congresso dos EUA poderia aprovar legislação permitindo aos cidadãos americanos processar entidades ou países que tenham apoiado grupos terroristas. Riade ameaçou retaliar de forma devastadora para a economia americana. O ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel al-Jubeir, esteve em Washington para dizer que o seu país venderia os 750 mil milhões de dólares que detém em obrigações do Tesouro americano e outros produtos financeiros, antes destes serem congelados pela justiça dos EUA. A Casa Branca anunciou que vetará essa legislação, caso seja aprovada no Congresso.

O terceiro fator resulta das suspeitas de Riade na questão do acordo sobre o nuclear iraniano e a crescente influência deste país na região do Golfo. A questão será debatida hoje na cimeira EUA-Conselho de Cooperação do Golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Emiratos Árabes Unidos, Koweit, Omã e Qatar). Neste ponto, está já acordada a realização de patrulhas navais conjuntas para impedir a entrada clandestina de armas iranianas para a rebelião houthi no Iémen, que contesta o presidente apoiado por Riade.

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