Governo promete estratégia de combate à violência na saúde até ao final do mês
"As nossas instituições do Serviço Nacional de Saúde têm de ser seguras em primeiro lugar." O princípio, enunciado pela ministra da Saúde à TSF e ao DN, justifica a "preocupação" com que Marta Temido diz estar a acompanhar as notícias mais recentes de atos de violência contra médicos e outros profissionais de saúde. A ministra garante estar a "trabalhar no sentido de ter uma estratégia para este tema até ao final do mês de janeiro" e já pediu ao secretário de Estado da Saúde que lhe apresente, até ao final de janeiro "uma estratégia para combater estas situações."
Mas, antes mesmo dessa estratégia estar concluída, Marta Temido não tem dúvidas que tem haver uma grande "campanha de informação, que os hospitais já estão a desenvolver", que envolva os profissionais de saúde - e os seus direitos -, mas que também informe os utentes "sobre aquilo que implicam as suas condutas". A ministra defende que é preciso combater "o estigma que sabemos que ainda está associado a estas situações de quem é violentado" e apoiar "o sofrimento emocional e psicológico dos profissionais que se encontram nestas situações e apoiando eventuais medidas de reação que seguem os tramites normais".
O grupo de trabalho, liderado pelo secretário de Estado da Saúde - e onde está também a direção-geral da saúde e a administração central do sistema de saúde - está neste momento a "fazer uma análise daquilo que tem sido a tendência de evolução destes números da violência contra os profissionais de saúde" e a avaliar os resultados dos "pilotos institucionais de combate à violência contra os profissionais de saúde", bem como "aquilo que são as condições físicas do funcionamento em termos de segurança dos profissionais que lá trabalham nos serviços de urgência ou serviços de atendimento complementar onde se têm verificado este tipo de episódios com maior preponderância".
A notícia mais recente que dá conta da agressão de um utente a dois médicos, em Setúbal, depois de ter estado, alegadamente, quatro horas à espera num serviço de urgência, levanta a pergunta óbvia: será esta uma das causas para o aumento da violência contra os profissionais de saúde? Marta Temido acredita que não: "Não devemos tirar conclusões precipitadas. Um utente que está à espera quatro horas num serviço de urgência, a primeira pergunta que devemos fazer é se essa urgência era necessária". Convidada desta semana da entrevista TSF\\DN - que pode ler e ouvir no próximo domingo -, a ministra lembra que "a irritação raramente é boa conselheira" e que "nada justifica um ato de violência.
Nos primeiros nove meses do ano passado registaram-se tantos casos de violência contra profissionais de saúde como em todo o ano de 2018. 900 ao todo, sendo a maioria deles violência verbal contra médicos, enfermeiros e outros profissionais. Os números, avançados por Marta Temido à TSF e ao DN, mostram uma tendência de subida nos últimos anos - em 2017 registaram-se 600 casos. A ministra confirma ainda que "o principal grupo visado é o dos enfermeiros".
Marta Temido reage ainda às críticas de alguns profissionais de saúde que acusam de ir pouco ao terreno. A governante garante que tem "essa preocupação constante de estar perto dos profissionais de saúde" e que tem procurado "corrigir" muitas das situações que são diariamente relatadas na comunicação social.
Esta semana a Ordem dos Médicos recomendou aos seus membros que se recusem a trabalhar, sempre que considerarem que não estão reunidas as condições de segurança devidas. Marta Temido subscreve o apelo da Ordem e "acompanha" essa preocupação.