Governo italiano teme uma segunda invasão de migrantes

Desde o início do ano chegaram a Itália cerca de 25 mil pessoas, a grande maioria naturais de países africanos. Matteo Renzi propõe à UE pacto para a migração.
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A Itália espera nova vaga de migrantes e refugiados a partir das próximas semanas, com a chegada do bom tempo a permitir mais travessias do Mediterrâneo, numa tendência que está já a verificar-se de acordo com números revelados ontem em Roma. Assim, desde o início do ano até à passada segunda-feira tinham chegados às costas italianas 25 mil migrantes, segundo números do Ministério do Interior. Em 2015, para o mesmo período de tempo, o número foi de 24 mil chegadas.

Esta situação vai criar pressão acrescida para Itália, considerou ontem o responsável pela gestão do sistema de imigração, Mário Morcone, em entrevista à Reuters. Nos últimos dois anos, só por via marítima, entrou no país um total de mais de 323 mil migrantes: 170 mil em 2014 e 153 mil no ano transato, a grande maioria a partir da Líbia.

"É cada vez mais complicado encontrarmos novos locais para abrirmos centros de acolhimento", declarou Morcone. Este responsável indicou existirem atualmente pontos de acolhimento para 112 700 pessoas, número insuficiente atendendo ao total de entradas no país e para as chegadas antecipadas para o corrente ano.

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A somar a estes fatores, Morcone recordou que o programa de recolocação de cerca de 40 mil refugiados - sírios, iraquianos e eritreus - de Itália para outros países da União Europeia (UE) está a suceder a ritmo extremamente lento. Desde a sua entrada em vigor, em outubro de 2015, só foram recolocadas 560 pessoas. "Os Estados membros [da UE] oferecem poucos lugares, o procedimento é moroso e, na prática, só estamos a recolocar eritreus", já que sírios e iraquianos, até agora, raramente têm viajado para Itália. "Em síntese, a resposta não está à altura do que foi pedido", disse Morcone.

Com o fecho da fronteira da Macedónia com a Grécia e dos restantes Estados na região dos Balcãs e a assinatura do acordo UE-Turquia, que prevê o repatriamento para este país dos migrantes entrados ilegalmente em território grego, Morcone teme que, mais uma vez, o seu país volte a ser o destino privilegiado por aqueles que tentam chegar à Europa. E dá um exemplo: "Três ou quatro chegaram já vindos do Egito". Depois da Líbia, este país pode tornar-se a "nossa principal preocupação", diz o responsável italiano. "Com as pessoas bloqueadas na Grécia, receamos que tentem a viagem através do Egito ou da Albânia, ou até mesmo por Marrocos para Espanha", neste caso naturais da África subsariana.

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Numa tentativa de encontrar uma resposta, pelo menos, parcial para a pressão dos migrantes, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi enviou no passado dia 15 ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, uma proposta para a criação de obrigações europeias (eurobonds) para permitir aos países africanos financiarem-se a taxas mais favoráveis, com garantias da UE, para investimentos e criação de postos de trabalho. Renzi chama-lhe Migration Compact, ou pacto para a migração, e comporta uma vertente de segurança, com cooperação na gestão comum de fronteiras para travar na origem os fluxos migratórios de acordo "com os padrões e regras internacionais", lê-se num extrato da proposta divulgado pelos media italianos. O governo de Angela Merkel já se mostrou muito cético em relação a esta proposta.

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