Governo das Comores recupera ilha dominada por militar rebelde
Homem forte da ilha era considerado próximo de meios islâmicos radicais
Tropas fiéis ao Presidente das Comores, Ahmed Abdallah Sambi, apoiadas por um forte contingente de efectivos da União Africana, recuperaram ontem a ilha de Anjouan, que se encontrava sob controlo de um oficial renegado.
A força conjunta de perto de 1600 homens desembarcou de madrugada em Anjouan, aparentemente progredindo sem grande dificuldade até ao centro da capital da ilha, Mutsamudu. Mas as agências revelavam que ainda prosseguiam os combates ontem ao final do dia e indicavam estarem ainda sobre controlo dos militares rebeldes alguns pontos de Anjouan.
O coronel Mohamed Bacar tomou o poder em Anjouan em 2001 através de um golpe de Estado, fazendo-se eleger presidente da ilha no ano seguinte. Reeleito em 2007, os resultados da eleição foram recusados pela União das Comores e pela União Africana. Cada uma das três principais ilhas do arquipélago possui o seu presidente, que responde perante o Presidente da União, actualmente Abdallah Sambi, que tem residência em Moroni, a capital da Grande Comore.
As Comores possuem uma história política agitada desde a sua independência da França em 1975, sucedendo-se ao longo dos anos os golpes e tentativas de golpe de Estado, quatro deles organizados pelo conhecido mercenário francês Bob Denard.
A meio da tarde, um porta-voz oficial garantia que se encontrava sob total controlo a situação em Anjouan, referindo que já se tinham rendido os rebeldes entrincheirados na residência privada do coronel Bacar, a cerca de cinco quilómetros de Mutsamudu. O paradeiro deste era desconhecido, correndo rumores contraditórios. desde a sua prisão ou que conseguira escapar da ilha sob disfarce.
As forças do Executivo de Moroni efectuaram várias prisões entre os membros do governo de Mutsamudu, detendo também responsáveis judiciais e da polícia local. Não foi admitida oficialmente a existência de baixas nem entre os rebeldes nem entre a força conjunta.
O ataque de ontem era dado como inevitável, depois de Estados Unidos e a União Africana se terem pronunciado contra a permanência no poder do coronel Bacar, que recebeu treino militar em França. Este era suspeito de ligações a sectores islâmicos radicais, temendo Washington que Anjouan se transformasse numa base de grupos terroristas. A localização das Comores - a cerca de 400 quilómetros da costa sudeste da África, diante de Moçambique - e o facto de uma das suas ilhas se encontrar controlada por alguém como Bacar, podia favorecer a sua transformação numa plataforma de trânsito entre a Arábia e a África oriental para os militantes radicais e base para estes.
A única reacção crítica à intervenção armada em Anjouan surgiu da parte do Presidente da África do Sul, Thabo Mbeki. Este considerou desnecessário o recurso à força com o argumento de que o coronel Bacar prometera novas eleições no espaço de dois meses. - Com agências