A direção do PSOL, aguerrido partido de extrema-esquerda, tinha por tradição recorrer ao Supremo, entrar com ações no Ministério Público ou pedir pareceres às comissões de Ética do Congresso logo no instante seguinte ao ex-presidente Michel Temer tomar uma decisão de que discordasse. Tentou agir da mesma forma a cada proposta de Jair Bolsonaro, mas verificou que era perda de tempo porque ainda antes de redigida a versão final do recurso, da ação ou do parecer, já o novo governo havia engavetado o projeto..Os recuos de Bolsonaro - nove nos primeiros dez dias de gestão - levaram até o habitualmente discreto Fernando Haddad, candidato do PT derrotado na segunda volta das eleições, a deixar um conselho via Twitteraos apoiantes do atual presidente. "Antes de defender uma bozoideia espere 24 horas para poupar o esforço de ter de defender o recuo", sendo certo que Bozo, referência a um palhaço célebre das televisões americana e brasileira, é uma das alcunhas depreciativas de Bolsonaro..No Facebook faz sucesso a página O Bolsonaro Já Recuou Hoje?, com quase 15 mil fãs e atualizações diárias..Aos recuos somam-se desencontros entre o presidente e os seus principais colaboradores e entre as diversas camadas - política, económica, militar e evangélica - que compõem o governo liderado pelo ex-deputado. A imprensa brasileira, que condescendeu durante a fase de transição, altura em que Bolsonaro, por exemplo, anunciou duas vezes a extinção e três vezes a criação do Ministério do Ambiente, tenta distinguir agora o que são deslizes naturais numa equipa acabada de chegar ao poder e o que são sinais preocupantes de estrutural incompetência..Além de Bolsonaro, inevitável protagonista das crises, destaca-se também o confuso Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil que é investigado pelo Supremo por ter recebido doações ilegais de campanha. Aos titulares da economia e do Gabinete de Segurança Institucional, respetivamente Paulo Guedes e general Augusto Heleno, pelo contrário, vem sendo atribuído o papel de "adultos na sala", aludindo a uma expressão que vem ganhando força na Casa Branca desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos..Sob o governo paira ainda o chamado "bolsogate", escândalo em torno do motorista do senador Flávio Bolsonaro, primogénito do presidente, que atinge até a primeira-dama Michelle Bolsonaro, destinatária de um cheque. O motorista e Flávio teimam em não dar explicações às autoridades, adensando a crise..Apesar de os mal-entendidos, os desencontros, as gafes e os recuos terem, nalguns casos, acontecido com intervalos de poucas horas, o DN tenta reuni-los de acordo com a data em que se tornaram tema principal do dia em Brasília numa espécie de calendário..1 de janeiro.Caso: salário mínimo.Protagonistas: Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni (ministro da Casa Civil).Onyx Lorenzoni garantiu que as primeiras medidas do novo governo só seriam conhecidas no dia seguinte à posse. Instantes depois, Bolsonaro assina decreto que reajustou o salário mínimo abaixo do esperado..2 de janeiro.Caso: despetização.Protagonista: Onyx Lorenzoni.O ministro da Casa Civil anunciou no dia da sua posse que iria proceder a uma despetização, ou seja, à exoneração de mais de três centenas de funcionários públicos com suposta ligação aos governos do PT. Com a medida, serviços essenciais do Palácio do Planalto paralisaram, como a comissão de Ética Pública, que avalia incompatibilidades dos novos membros do governo, e passou de 17 funcionários para apenas um. Aos poucos, Lorenzoni vai revogando a despetização..3 de janeiro.Caso: rosa e azul.Protagonista: Damares Alves (ministra dos Direitos Humanos).Ainda na tomada de posse dos ministros, um vídeo com a titular dos Direitos Humanos correu o Brasil (e o mundo). Nele, Damares Alves festeja por "menino voltar a vestir azul e menina rosa", sob o novo governo..4 de janeiro.Caso: duas previdências.Protagonistas: Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (ministro da Economia).Depois de Bolsonaro defender em entrevista uma reforma da Previdência Social mais suave, de maneira a ser aprovada sem dificuldades no Congresso, Paulo Guedes afirmou nos dias seguintes que "a reforma que vai para a frente é bem mais profunda"..5 de janeiro.Caso: IOF.Protagonista: Jair Bolsonaro.À margem de um evento no Comando da Aeronáutica, o presidente anunciou que, "infelizmente", teve de "assinar um decreto que aumenta o IOF [imposto sobre operações financeiras]". Horas depois, o secretário das Finanças, Marcos Cintra, disse que não haverá aumento nenhum e reúne-se de emergência com Bolsonaro. Após a reunião, Lorenzoni admitiu que o presidente "se confundiu"..6 de janeiro.Caso: imposto de renda.Protagonista: Jair Bolsonaro.No mesmo evento, o presidente havia anunciado redução do teto do imposto de renda (IRS) de 27,5 para 25%. Lorenzoni, que no dia seguinte veria o seu nome envolvido num escândalo de faturas falsas enquanto deputado, volta a desmenti-lo pouco depois..7 de janeiro.Caso: base militar americana.Protagonistas: Jair Bolsonaro e general Augusto Heleno (titular do Gabinete de Segurança Institucional).Em entrevista ao canal SBT, Bolsonaro avançou com a possibilidade de os Estados Unidos terem uma base militar no Brasil. O seu conselheiro para a área de defesa, general Heleno, negou perentoriamente. O presidente engavetou a ideia..8 de janeiro.Caso: Boeing-Embraer.Protagonistas: Jair Bolsonaro e general Augusto Heleno.Ao pôr em dúvida o acordo entre a Boeing e o fabricante brasileiro de aviões Embraer, Bolsonaro fez as ações das empresas caírem 5%. Heleno confirmaria o negócio dias depois, estabilizando a bolsa..9 de janeiro.Caso: plano de metas.Protagonistas: Onyx Lorenzoni e general Augusto Heleno.Com relativa pompa, Lorenzoni anunciou após o primeiro Conselho de Ministros que havia um ambicioso plano de metas para os primeiros cem dias de governo. Terminado o segundo Conselho de Ministros, Augusto Heleno, desafiado pela imprensa a anunciar as metas prioritárias, desmentiu o colega. "Que história é essa? Um esboço com metas? Eu não apresentei esboço nenhum, tem um livrinho aqui, acho que fala qualquer coisa de cem dias, de Conselho de Ministros, mas não tem nada disso, não.".10 de janeiro.Caso: reforma agrária.Protagonista: Tereza Cristina (ministra da Agricultura).Depois de cinco dias antes ter anunciado a suspensão da política de reforma agrária, que gerou forte contestação de ambientalistas e do Movimento dos sem Terra, um órgão do Ministério da Agricultura recuou. Ouvidos pela imprensa sob anonimato, funcionários desse órgão disseram que o governo "está perdido"..11 de janeiro.Caso: livros didáticos.Protagonista: Ricardo Vélez (ministro da Educação).O Ministério da Educação decidiu que os livros didáticos deixam de ser obrigados a ter bibliografia, revisão ou inclusão de todos os grupos étnicos (poderia ser ilustrado apenas com figuras de brancos, por exemplo), além de permitir publicidade a produtos e serviços. Dada a repercussão negativa, o ministro Ricardo Vélez anulou a medida..12 de janeiro.Caso: filho de Mourão.Protagonista: general Hamilton Mourão (vice-presidente).No dia seguinte a tomar posse, o novo presidente do estatal Banco do Brasil promoveu o funcionário Rossell Mourão, filho do general Mourão, a um cargo elevado na instituição e com salário triplicado. Caso tornou-se recordista de partilhas, indignadas, nas redes sociais..13 de janeiro.Caso: Apex.Protagonista: Ernesto Araújo (ministro das Relações Exteriores).Nomeado por Ernesto Araújo no dia 2, Alex Carreiro, presidente da Associação de Promoção de Exportações (APEX), foi demitido no dia 9, tornando-se a primeira baixa do governo. Em causa, o facto de não ter experiência no setor e de não ser sequer fluente em inglês, condição essencial para o exercício do cargo. Como se recusou num primeiro momento a assinar a rescisão, apresentou-se para trabalhar mesmo demitido. No dia 13, surgiram 26 novos problemas: o que fazer com os 26 funcionários nomeados, entretanto, por Carreiro?.14 de janeiro.Caso: o amigo do presidente.Protagonista: Jair Bolsonaro.Carlos Nagem foi derrotado como candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro em outubro mesmo contando com o apoio mediático do amigo de longa data Jair Bolsonaro. Nem por isso, no entanto, ficou de fora da administração pública: será gerente executivo da Petrobras, empresa na base do escândalo investigado pela Lava-Jato, anunciou o presidente no dia 9. No dia 14, o sindicato dos petroleiros entrou com ação para impedir a nomeação por ser considerada uma "violação hierárquica"..15 de janeiro.Caso: liquidificador.Protagonista: Onyx Lorenzoni.Na sequência do decreto que facilita a posse de arma, Lorenzoni foi confrontado com o risco para as crianças de se ter armas em casa. E respondeu que "a gente vê criança pequena botar o dedo dentro do liquidificador, ligar o liquidificador e perder o dedinho. Então, nós vamos proibir os liquidificadores? Não. É uma questão de educação, é uma questão de orientação. No caso da arma, é a mesma coisa"..16 de janeiro.Caso: auxílio-mudança.Protagonista: Jair Bolsonaro.O presidente da República auferiu 84 mil reais [cerca de 20 mil euros] em dezembro de 2018, 33 mil dos quais [perto de oito mil euros] de auxílio-mudança, um salário extra que a Câmara dos Deputados oferece aos parlamentares no início e no fim de cada legislatura. Os jornais perguntaram a Bolsonaro se ele havia tido custos da mudança do Rio para a sua nova residência oficial, o Alvorada, e se não achava imoral receber o extra, mas o presidente não se manifestou. Cinco deputados abdicaram da verba..17 de janeiro.Caso: guru revoltado.Protagonista: Olavo de Carvalho (filósofo inspirador da direita brasileira).A propósito de uma viagem à China de parlamentares do PSL, o partido do presidente, para se inteirarem de um sistema de reconhecimento de rosto em aeroportos, o filósofo Olavo de Carvalho, cuja influência sobre Bolsonaro levou à escolha de dois ministros, o da Educação e o das Relações Exteriores, ficou revoltado. Chamou-os de "palhaços" e "semianalfabetos" e disse que estavam "a entregar o Brasil à China". Mais tarde acrescentou: "E dizem que eu sou o guru dessa porcaria.".18 de janeiro.Caso: exceção militar.Protagonistas: Paulo Guedes e ala militar.O lóbi militar no governo, traduzido num vice-presidente, em sete ministros, num porta-voz, no próprio Jair Bolsonaro e em mais 20 membros do segundo escalão do executivo, pressiona para as Forças Armadas ficarem de fora da reforma no sistema previdenciário. A ala económica, liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, garante que não haverá exceções. A guerra promete continuar.
A direção do PSOL, aguerrido partido de extrema-esquerda, tinha por tradição recorrer ao Supremo, entrar com ações no Ministério Público ou pedir pareceres às comissões de Ética do Congresso logo no instante seguinte ao ex-presidente Michel Temer tomar uma decisão de que discordasse. Tentou agir da mesma forma a cada proposta de Jair Bolsonaro, mas verificou que era perda de tempo porque ainda antes de redigida a versão final do recurso, da ação ou do parecer, já o novo governo havia engavetado o projeto..Os recuos de Bolsonaro - nove nos primeiros dez dias de gestão - levaram até o habitualmente discreto Fernando Haddad, candidato do PT derrotado na segunda volta das eleições, a deixar um conselho via Twitteraos apoiantes do atual presidente. "Antes de defender uma bozoideia espere 24 horas para poupar o esforço de ter de defender o recuo", sendo certo que Bozo, referência a um palhaço célebre das televisões americana e brasileira, é uma das alcunhas depreciativas de Bolsonaro..No Facebook faz sucesso a página O Bolsonaro Já Recuou Hoje?, com quase 15 mil fãs e atualizações diárias..Aos recuos somam-se desencontros entre o presidente e os seus principais colaboradores e entre as diversas camadas - política, económica, militar e evangélica - que compõem o governo liderado pelo ex-deputado. A imprensa brasileira, que condescendeu durante a fase de transição, altura em que Bolsonaro, por exemplo, anunciou duas vezes a extinção e três vezes a criação do Ministério do Ambiente, tenta distinguir agora o que são deslizes naturais numa equipa acabada de chegar ao poder e o que são sinais preocupantes de estrutural incompetência..Além de Bolsonaro, inevitável protagonista das crises, destaca-se também o confuso Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil que é investigado pelo Supremo por ter recebido doações ilegais de campanha. Aos titulares da economia e do Gabinete de Segurança Institucional, respetivamente Paulo Guedes e general Augusto Heleno, pelo contrário, vem sendo atribuído o papel de "adultos na sala", aludindo a uma expressão que vem ganhando força na Casa Branca desde que Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos..Sob o governo paira ainda o chamado "bolsogate", escândalo em torno do motorista do senador Flávio Bolsonaro, primogénito do presidente, que atinge até a primeira-dama Michelle Bolsonaro, destinatária de um cheque. O motorista e Flávio teimam em não dar explicações às autoridades, adensando a crise..Apesar de os mal-entendidos, os desencontros, as gafes e os recuos terem, nalguns casos, acontecido com intervalos de poucas horas, o DN tenta reuni-los de acordo com a data em que se tornaram tema principal do dia em Brasília numa espécie de calendário..1 de janeiro.Caso: salário mínimo.Protagonistas: Jair Bolsonaro e Onyx Lorenzoni (ministro da Casa Civil).Onyx Lorenzoni garantiu que as primeiras medidas do novo governo só seriam conhecidas no dia seguinte à posse. Instantes depois, Bolsonaro assina decreto que reajustou o salário mínimo abaixo do esperado..2 de janeiro.Caso: despetização.Protagonista: Onyx Lorenzoni.O ministro da Casa Civil anunciou no dia da sua posse que iria proceder a uma despetização, ou seja, à exoneração de mais de três centenas de funcionários públicos com suposta ligação aos governos do PT. Com a medida, serviços essenciais do Palácio do Planalto paralisaram, como a comissão de Ética Pública, que avalia incompatibilidades dos novos membros do governo, e passou de 17 funcionários para apenas um. Aos poucos, Lorenzoni vai revogando a despetização..3 de janeiro.Caso: rosa e azul.Protagonista: Damares Alves (ministra dos Direitos Humanos).Ainda na tomada de posse dos ministros, um vídeo com a titular dos Direitos Humanos correu o Brasil (e o mundo). Nele, Damares Alves festeja por "menino voltar a vestir azul e menina rosa", sob o novo governo..4 de janeiro.Caso: duas previdências.Protagonistas: Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (ministro da Economia).Depois de Bolsonaro defender em entrevista uma reforma da Previdência Social mais suave, de maneira a ser aprovada sem dificuldades no Congresso, Paulo Guedes afirmou nos dias seguintes que "a reforma que vai para a frente é bem mais profunda"..5 de janeiro.Caso: IOF.Protagonista: Jair Bolsonaro.À margem de um evento no Comando da Aeronáutica, o presidente anunciou que, "infelizmente", teve de "assinar um decreto que aumenta o IOF [imposto sobre operações financeiras]". Horas depois, o secretário das Finanças, Marcos Cintra, disse que não haverá aumento nenhum e reúne-se de emergência com Bolsonaro. Após a reunião, Lorenzoni admitiu que o presidente "se confundiu"..6 de janeiro.Caso: imposto de renda.Protagonista: Jair Bolsonaro.No mesmo evento, o presidente havia anunciado redução do teto do imposto de renda (IRS) de 27,5 para 25%. Lorenzoni, que no dia seguinte veria o seu nome envolvido num escândalo de faturas falsas enquanto deputado, volta a desmenti-lo pouco depois..7 de janeiro.Caso: base militar americana.Protagonistas: Jair Bolsonaro e general Augusto Heleno (titular do Gabinete de Segurança Institucional).Em entrevista ao canal SBT, Bolsonaro avançou com a possibilidade de os Estados Unidos terem uma base militar no Brasil. O seu conselheiro para a área de defesa, general Heleno, negou perentoriamente. O presidente engavetou a ideia..8 de janeiro.Caso: Boeing-Embraer.Protagonistas: Jair Bolsonaro e general Augusto Heleno.Ao pôr em dúvida o acordo entre a Boeing e o fabricante brasileiro de aviões Embraer, Bolsonaro fez as ações das empresas caírem 5%. Heleno confirmaria o negócio dias depois, estabilizando a bolsa..9 de janeiro.Caso: plano de metas.Protagonistas: Onyx Lorenzoni e general Augusto Heleno.Com relativa pompa, Lorenzoni anunciou após o primeiro Conselho de Ministros que havia um ambicioso plano de metas para os primeiros cem dias de governo. Terminado o segundo Conselho de Ministros, Augusto Heleno, desafiado pela imprensa a anunciar as metas prioritárias, desmentiu o colega. "Que história é essa? Um esboço com metas? Eu não apresentei esboço nenhum, tem um livrinho aqui, acho que fala qualquer coisa de cem dias, de Conselho de Ministros, mas não tem nada disso, não.".10 de janeiro.Caso: reforma agrária.Protagonista: Tereza Cristina (ministra da Agricultura).Depois de cinco dias antes ter anunciado a suspensão da política de reforma agrária, que gerou forte contestação de ambientalistas e do Movimento dos sem Terra, um órgão do Ministério da Agricultura recuou. Ouvidos pela imprensa sob anonimato, funcionários desse órgão disseram que o governo "está perdido"..11 de janeiro.Caso: livros didáticos.Protagonista: Ricardo Vélez (ministro da Educação).O Ministério da Educação decidiu que os livros didáticos deixam de ser obrigados a ter bibliografia, revisão ou inclusão de todos os grupos étnicos (poderia ser ilustrado apenas com figuras de brancos, por exemplo), além de permitir publicidade a produtos e serviços. Dada a repercussão negativa, o ministro Ricardo Vélez anulou a medida..12 de janeiro.Caso: filho de Mourão.Protagonista: general Hamilton Mourão (vice-presidente).No dia seguinte a tomar posse, o novo presidente do estatal Banco do Brasil promoveu o funcionário Rossell Mourão, filho do general Mourão, a um cargo elevado na instituição e com salário triplicado. Caso tornou-se recordista de partilhas, indignadas, nas redes sociais..13 de janeiro.Caso: Apex.Protagonista: Ernesto Araújo (ministro das Relações Exteriores).Nomeado por Ernesto Araújo no dia 2, Alex Carreiro, presidente da Associação de Promoção de Exportações (APEX), foi demitido no dia 9, tornando-se a primeira baixa do governo. Em causa, o facto de não ter experiência no setor e de não ser sequer fluente em inglês, condição essencial para o exercício do cargo. Como se recusou num primeiro momento a assinar a rescisão, apresentou-se para trabalhar mesmo demitido. No dia 13, surgiram 26 novos problemas: o que fazer com os 26 funcionários nomeados, entretanto, por Carreiro?.14 de janeiro.Caso: o amigo do presidente.Protagonista: Jair Bolsonaro.Carlos Nagem foi derrotado como candidato a deputado estadual pelo Rio de Janeiro em outubro mesmo contando com o apoio mediático do amigo de longa data Jair Bolsonaro. Nem por isso, no entanto, ficou de fora da administração pública: será gerente executivo da Petrobras, empresa na base do escândalo investigado pela Lava-Jato, anunciou o presidente no dia 9. No dia 14, o sindicato dos petroleiros entrou com ação para impedir a nomeação por ser considerada uma "violação hierárquica"..15 de janeiro.Caso: liquidificador.Protagonista: Onyx Lorenzoni.Na sequência do decreto que facilita a posse de arma, Lorenzoni foi confrontado com o risco para as crianças de se ter armas em casa. E respondeu que "a gente vê criança pequena botar o dedo dentro do liquidificador, ligar o liquidificador e perder o dedinho. Então, nós vamos proibir os liquidificadores? Não. É uma questão de educação, é uma questão de orientação. No caso da arma, é a mesma coisa"..16 de janeiro.Caso: auxílio-mudança.Protagonista: Jair Bolsonaro.O presidente da República auferiu 84 mil reais [cerca de 20 mil euros] em dezembro de 2018, 33 mil dos quais [perto de oito mil euros] de auxílio-mudança, um salário extra que a Câmara dos Deputados oferece aos parlamentares no início e no fim de cada legislatura. Os jornais perguntaram a Bolsonaro se ele havia tido custos da mudança do Rio para a sua nova residência oficial, o Alvorada, e se não achava imoral receber o extra, mas o presidente não se manifestou. Cinco deputados abdicaram da verba..17 de janeiro.Caso: guru revoltado.Protagonista: Olavo de Carvalho (filósofo inspirador da direita brasileira).A propósito de uma viagem à China de parlamentares do PSL, o partido do presidente, para se inteirarem de um sistema de reconhecimento de rosto em aeroportos, o filósofo Olavo de Carvalho, cuja influência sobre Bolsonaro levou à escolha de dois ministros, o da Educação e o das Relações Exteriores, ficou revoltado. Chamou-os de "palhaços" e "semianalfabetos" e disse que estavam "a entregar o Brasil à China". Mais tarde acrescentou: "E dizem que eu sou o guru dessa porcaria.".18 de janeiro.Caso: exceção militar.Protagonistas: Paulo Guedes e ala militar.O lóbi militar no governo, traduzido num vice-presidente, em sete ministros, num porta-voz, no próprio Jair Bolsonaro e em mais 20 membros do segundo escalão do executivo, pressiona para as Forças Armadas ficarem de fora da reforma no sistema previdenciário. A ala económica, liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, garante que não haverá exceções. A guerra promete continuar.