Governo aprova venda da Efacec aos alemães da Mutares
A Mutares, holding alemã especializada na compra de empresas em dificuldades, foi a escolhida pelo governo para ficar com os 71,73% da Efacec que o Estado nacionalizou, há três anos. O ministro da Economia apontou a "credibilidade, idoneidade e capacidade financeira" da empresa, mas também a sua "capacidade de assegurar a sustentabilidade e o desenvolvimento da Efacec" como razões determinantes na escolha. A expectativa dos alemães é que possam ficar com 100% do capital, mas a negociação com os acionistas privados, TMG e grupo Mello, está ainda em aberto, disse António Costa Silva.
Pelo caminho ficaram as propostas do consórcio português formado pela Visabeira e pela Sodecia, bem como dos fundos Oaktree e Oxy Capital, nesta que é a segunda tentativa do governo para reprivatizar a parcela de capital que era detida por Isabel dos Santos, e que foi nacionalizada na sequência do escândalo Luanda Leaks.
Ontem, na conferência de Imprensa para anunciar o vencedor, o ministro da Economia justificou, ainda, a escolha com o "reforço da autonomia financeira da Efacec e a minimização dos encargos para o Estado".
Em causa estão, segundo o governo, 132 milhões de euros injetados na empresa e 85 milhões em garantias. "Meticulosamente analisada", a proposta da Mutares "abre a possibilidade, face a um mecanismo financeiro inovador que é proposto, de o Estado recuperar grande parte do investimento, se não a totalidade", sublinhou. O Estado ficará com um "direito económico" que lhe garantirá uma partilha de valor.
Proteção dos trabalhadores
Mais, a holding alemã, pela sua "competência e qualificação neste setor de negócio", dá "grande conforto e convicção" sobre o futuro da Efacec, já que assegura a sua manutenção como "um grande projeto industrial e tecnológico do país", diz, salientando que é uma empresa "absolutamente fulcral" na economia portuguesa.
E, por isso, é tão determinante o facto de Mutares assegurar "a preservação da força de trabalho" da Efacec, com um compromisso claro "na aposta nas qualificações e no reforço das capacidades de engenharia" da empresa.
Diz Costa Silva que a Mutares, que nos últimos anos realizou 75 operações deste tipo "com elevado sucesso", pretende apostar no desenvolvimento da Efacec em mercados alvo de grande valor acrescentado como a Alemanha e os EUA. Transformadores, aparelhos e equipamentos, soluções de automação e mobilidade elétrica são as quatro grandes áreas de aposta.
A empresa alemã ter-se-á ainda comprometido a capitalizar a Efacec, mas o ministro não avançou valores.
Quanto aos passos seguintes, Costa Silva explicou que a conclusão do negócio está dependente de um conjunto de condições, designadamente da aprovação da Direção-Geral da Concorrência da União Europeia, em Bruxelas. O governo espera que tudo possa estar fechado dentro de dois meses. O ponto mais sensível parece ser a negociação com os credores, em especial a banca, mas Costa Silva diz que alguns "já deram sinais de querer participar" neste esforço.
Contra estão os representantes dos trabalhadores, que sempre defenderam a manutenção da Efacec na esfera pública. Contactado pelo DN/Dinheiro Vivo, Sérgio Sales, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (SITE-Norte), escusou-se a comentar a venda anunciada pelo governo, afirmando "desconhecer os contornos do processo". Lamentou a "falta de informação" aos trabalhadores e seus representantes e reiterou que a venda é "um erro tático para o país".