Governo acelera substituição de Marta Temido na Saúde

Aprovação em Conselho de Ministros da nova direção executiva do SNS, que ainda "prendia" Temido, foi antecipada uma semana. Novo ministro deverá ser anunciado em breve.
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Uma semana antes da data prevista, o Governo aprovou ontem o decreto de criação da nova direção executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), no ato de despedida de Marta Temido da pasta que liderou durante quase quatro anos. A antecipação do diploma deverá também acelerar a nomeação de um novo titular na Saúde, que poderá ocorrer já nos próximos dias, previsivelmente depois do regresso do Presidente da República - em visita ao Brasil por ocasião das comemorações do bicentenário da independência - , e que estará de volta a Lisboa este sábado.

Na despedida, na habitual conferência de imprensa após o Conselho de Ministros, Marta Temido desejou "a melhor sorte" ao seu sucessor e garantiu que continuará a "servir" o SNS, agora de "outras formas". Questionada sobre as razões da saída, e a permanência no lugar já na condição de demissionária, a ainda titular da Saúde remeteu explicações para a nota que emitiu na noite da demissão, no final de agosto, acrescentando apenas: "Tenho continuado a trabalhar e a servir o meu Governo e o meu país, como fiz até agora, grata por esta oportunidade que tive. Naturalmente, tendo a plena consciência de que há ocasiões em que avaliamos também aquilo que é o nosso contexto pessoal e em que avaliamos as condições para prosseguir o caminho. Foi isso que fiz neste momento". Já sobre a designação do futuro diretor executivo do SNS, Marta Temido avançou que será feita por "resolução do Conselho de Ministros sob proposta da área da saúde" e deverá passar também pelo crivo da CRESAP (Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública). Um "novo momento", que já será da responsabilidade do seu sucessor.

E não disse muito mais. Sucessivamente questionada sobre a sua saída e sucessão, foi a ministra da Presidência que se adiantou na resposta - "em articulação com a senhora ministra da saúde". Primeiro, Mariana Vieira da Silva explicou assim a permanência da ministra no Governo após a demissão: "[Marta Temido] colocou o seu lugar à disposição, o primeiro-ministro entendeu que era importante que este passo ficasse fechado. Tem a ver com o momento e com a urgência das respostas que temos que dar. Há aqui uma decisão coletiva do Governo". Depois, repetiu que a sucessão cabe "ao senhor primeiro-ministro em articulação com o senhor Presidente da República". Dada a resposta pela ministra da Presidência, Marta Temido foi-se escusando a tomar a palavra.

Sobre o decreto aprovado em Conselho de Ministros, Mariana Vieira da Silva adiantou que direção executiva do SNS deverá estar em "pleno funcionamento em janeiro de 2023", a par da entrada em vigor do Orçamento do Estado. Uma garantiu que surgiu depois de questionada sobre o anunciado encerramento ao exterior do bloco de partos da maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. "A informação que temos é que já não existe nenhum constrangimento" na maior maternidade do país, referiu a ministra da Presidência, afirmando que este é o tipo de situações que deverá ter resposta da futura direção executiva do SNS. Logo no início do briefing, Marta Temido tinha afirmado que esta nova estrutura visa dar resposta à "necessidade de uma maior coordenação operacional das respostas assistenciais". "Um dos fatores críticos para o sucesso desta direção executiva é a sua relação com as outras unidades do sistema de Saúde", como a administração central dos sistema de saúde ou os serviços partilhados do SNS, explicou, pelo que a nova lei "detalha a forma e as sedes próprias para a articulação".


Na lista de possíveis sucessores de Marta Temido perfilam-se vários nomes. É o caso de Fernando Araújo, médico de 56 anos (especialista em imuno-hemoterapia) que dirige o Centro Hospitalar Universitário São João (CHUSJ). Não sendo militante socialista, foi secretário de Estado adjunto e da Saúde no primeiro governo de António Costa, de novembro de 2015 a outubro de 2018 (com Adalberto Campos Fernandes como ministro). Fernando Araújo tem assumido, mais recentemente, uma posição crítica da gestão do Serviço Nacional de Saúde.

Outro nome apontado como ministeriável é Raquel Duarte, médica pneumologista do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho, com formação académica em Saúde Pública e Economia da Saúde. Raquel Duarte foi também secretária de Estado da Saúde no primeiro governo de António Costa, mas já no consulado de Marta Temido. Integrou a equipa que apresentou as propostas de desconfinamento ao Governo, durante a pandemia de covid-19.

Também médico, mas neste caso saído das hostes socialistas, surge igualmente a hipótese de Manuel Pizarro, atualmente deputado ao Parlamento Europeu. Situação semelhante é a de António Lacerda Sales, médico e militante socialista (foi cabeça de lista por Leiria nas últimas legislativas), atual secretário de Estado Adjunto e da Saúde, no que seria uma solução de continuidade face ao mandato de Marta Temido.

susete.francisco@dn.pt

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