Governador McConaughey? O rumor que o ator tem deixado correr
Na autobiografia, Greenlights, Matthew McConaughey lembra a certa altura vir "de uma longa linhagem de pessoas que quebram as regras", descrevendo os familiares como "libertários que votam republicano porque acreditam que isso vai manter alguns fora da lei afastados do seu território". Esta é das poucas frases políticas que se conhecem do ator de filmes como Tempo de Matar, Como Perder um Homem em 10 Dias, O Clube de Dallas (que lhe valeu o Óscar de Melhor Ator em 2013) ou da série True Detective, mas tal não parece impedi-lo de, no mínimo, deixar correr os rumores que o dão como candidato a governador do seu Texas natal (nasceu na cidadezinha de Uvalde) nas eleições de 2022.
Casado com a modelo brasileira Camila Alves e pai de três filhos, McConaughey mudou-se de Los Angeles para Austin, a capital do Texas, em 2012. Mas os registos estaduais mostram que desde então nunca votou nas primárias, tornando ainda mais difícil perceber as suas afinidades políticas. Também não se conhecem doações que tenha feito, seja a candidatos republicanos, seja a democratas.
Verdade é que pouco se sabe sobre as posições políticas do ator. Um assunto que este até costuma evitar comentar em público. Mas no início de março, no podcast The Balanced Voice, McConaughey confessou estar a "considerar seriamente" uma candidatura a governador do Texas. "Estou a questionar-me de novo agora, qual é o meu papel de liderança? Porque acho que tenho coisas para ensinar e partilhar. E qual o meu papel? Qual a categoria em que se insiro no próximo capítulo da minha vida?" Uma posição mais assertiva do que a que tivera em novembro quando, questionado sobre o seu desejo de entrar na corrida a governador, dissera: "Não sei. Isso não iria depender de mim, ia depender dos eleitores". Antes de acrescentar: "A política para mim é um negócio arruinado. E quando a política redefinir o seu objetivo, posso ficar muito mais interessado."
Os eleitores, esses, parecem pouco preocupados com a nebulosa em torno das posições políticas de McConaughey. Segundo uma sondagem do The Dallas Morning News e da Universidade do Texas, 45% estariam dispostos a votar no ator se este decidisse mesmo avançar contra Greg Abbott. O republicano que governa o estado desde 2015 fica-se pelos 33% de intenções de voto, enquanto 22% preferiam ver outro candidato avançar.
E a verdade é que Beto O'Rourke, o homem que em 2018 deu aos democratas uma verdadeira esperança de conquistar o lugar no Senado ao republicano Ted Cruz, ainda não afastou a hipótese de voltar em 2022, agora na corrida a governador. Apesar da pandemia, o antigo congressista tem passado os últimos meses a percorrer o estado e a ouvir os problemas dos eleitores.
E não têm faltado problemas no Texas. A começar pela gestão da covid-19, com o atual governador a tomar medidas polémicas, como quando no mês passado decidiu acabar com a obrigatoriedade do uso de máscara e com o limite de capacidade dentro dos estabelecimentos comerciais. Também a gestão de Abbot da falha energética que em fevereiro, após três semanas de tempestades atingiu o estado, deixando mais de 4,5 milhões de casas e empresas sem água, sem aquecimento e, muitas vezes, sem alimentação. Apesar de o governador ter inicialmente culpado o frio, que congelou turbinas eólicas e painéis solares, acabou por se perceber que foi antes uma falha no aquecimento dos sistemas de distribuição de gás natural.
Mas voltando a Matthew McConaughey. Aos 51 anos, o filho de uma professora tornada escritora, que lhe deu aulas em casa, e de um gestor ligado ao sector do petróleo, o ator que depressa percebeu que o curso de Direito não era a sua vocação parece empenhado em seguir as pisadas de outras estrelas de Hollywood que enveredaram pela política. De Ronald Reagan, que depois de governador da Califórnia, chegou mesmo à Casa Branca, a Arnold Schwarzenegger, o Exterminador Implacável que foi também governador na Califórnia.
McConaughey tem sido uma voz ativa contra a violência armada - defendendo leis mais duras - mas pouco mais. Nem durante as últimas eleições presidenciais falou, apesar de ter sido notícia depois ao criticar a "esquerda iliberal" pela sua atitude arrogante "em relação aos outros 50%". E sugeriu que esta posição levou alguns na mui democrata Hollywood a rejeitar a vitória de Donald Trump em 2016, tal como agora, quatro anos depois, alguns republicanos negaram a derrota do presidente, porque "os alimentaram a fake news".
O que McConaughey ainda não parece ter decidido é qual o partido em que se vai filiar - se é que tenciona fazê-lo em algum. Em março, dizia ao Austin American-Statesman "estou um homem do centro. Quando digo "agressivamente do centro", as pessoas pensam numa zona cinzenta, em compromisso. Eu respondo: "Tretas!" É uma ousadia. Neste momento, é radical. Querem ser corajosos? Venham. Porquê? Porque terão mais agilidade, mais adaptabilidade. Há diferentes situações para os diferentes lados. Às vezes a esquerda é melhor nisto, às vezes é a direita".
Num momento em que são várias as estrelas do cinema e do mundo do espetáculo, como Dwayne Johnson, mais conhecido como The Rock, ou Caitlyn Jenner, a afirmar as suas ambições políticas - o primeiro à presidência, a segunda a governadora da Califórnia - resta saber até que ponto McConaughey está mesmo disposto a assumir este novo papel?