Gordon Brown desafia Boris Johnson para duelo televisivo
O antigo primeiro-ministro trabalhista Gordon Brown interveio ontem, pela primeira vez, na campanha para o referendo de 23 de junho sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE), desafiando Boris Johnson, o ex-mayor conservador de Londres e principal rosto do campo que advoga a saída (o brexit), para um frente-a-frente televisivo.
Brown falava numa conferência na London School of Economics e o desafio surgiu no mesmo dia em que Johnson iniciou uma deslocação nacional de autocarro para fazer campanha pela saída da UE. Além de desafiar aquele que, para todos os efeitos, surge como principal figura do campo favorável à saída e proveniente de um partido dividido na questão, Brown criticou-o duramente por mudar constantemente as suas propostas para um futuro fora da UE. "Boris diz hoje o contrário daquilo que disse há dois anos ou há cinco anos." E à pergunta se aceitaria debater com Johnson essas propostas, o trabalhista declarou estar "pronto a enfrentar quem quer que seja por estes dias".
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Para aquele que foi o último chefe de governo trabalhista, antes da chegada ao poder do conservador David Cameron em 2010, a UE tem desempenhado uma função "notável" desde a sua criação, propiciando a paz na Europa por tantos anos consecutivos desde 1945. "Conseguimos encontrar uma forma de tomar decisões que previnem o aparecimento de conflito - não houve uma só guerra entre países membros nos últimos 70 anos", declarou Brown. Por isso, o Reino Unido "deve permanecer" na UE para a "liderar". Para Brown, "estamos numa posição em que devemos ser o líder da UE" e o referendo é, na sua opinião, "sobre que tipo de líder nós somos e que tipo de liderança é que queremos desempenhar". A permanência na UE é também "a melhor forma de garantir empregos entre os britânicos" e para "combater o terrorismo e as causas do terrorismo", disse o trabalhista.
O desafio de Brown - que é creditado com ter dado impulso decisivo ao não à independência da Escócia no referendo de setembro de 2014 - coincidiu ainda com declarações do ministro das Finanças, George Osborne, em que este avisou para a possibilidade de uma crise na balança de pagamentos e possíveis perturbações no normal funcionamento dos bancos em caso da vitória do brexit.
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"Podemos vir a encontrar-nos numa situação em que nos tornaríamos muito mais pobres e em piores circunstâncias do que aquelas que enfrentamos atualmente, porque certamente iremos enfrentar uma crise na balança de pagamentos. É um cenário que já foi aventado por outros no estrangeiro, disse Osborne que falava perante os deputados no Parlamento britânico.
O governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, avisara no dia anterior que uma saída do Reino Unido da UE iria constituir "um teste à bondade dos estrangeiros" face à situação atual da balança corrente britânica, que se apresenta largamente deficitária. A balança corrente engloba a relação entre importações e exportações e as transferências de capitais. Quanto esta se apresenta deficitária, significa que está a ser financiada por capitais externos.
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