GNR de Faro mata-se à hora do funeral de militar amiga
Olhão. Cabo de 29 anos pôs termo à vida com a arma de serviço
Dois suicídios na Guarda em três dias. Militares eram conterrâneos
Um cabo da GNR de Faro, Sérgio Cananão, de 29 anos, suicidou-se ontem com um tiro na cabeça, utilizando a arma de serviço, com calibre de 7.65 mm. O acto foi cometido na cidade do Olhão, junto ao carro da mãe da vítima, a cerca de dois quilómetros da casa onde vivia.
É o segundo suicídio na GNR registado este ano em apenas três dias. Na segunda-feira, uma militar de 30 anos, com o posto de soldado, também pôs termo à vida com a arma de serviço, na localidade de Alcáçovas (Viana do Alentejo), onde nasceu e trabalhava, integrada no Núcleo de Apoio à Vítima.
Segundo apurou o DN, Sérgio Cananão, que vivia há cerca de um ano com uma enfermeira, em Olhão, suicidou-se por volta das 11.00, após ter saído de serviço. À mesma hora, decorria o funeral da colega e conterrânea. O soldado ingressou na GNR em 2002, e após ter prestado serviço em Évora foi transferido para Faro.
"Era muito sociável, não se lhe conheciam problemas pessoais, familiares nem económicos, e ambicionava progredir na carreira num grau de especialidade ao nível da investigação criminal", contaram ao DN vários companheiros daquele militar. Já outros colegas consideraram "estranho" o facto de se terem suicidado dois elementos da GNR naturais da mesma localidade, admitindo por isso que o sucedido com Sérgio Cananão possa estar relacionado com a sua conterrânea, de quem era amigo.
O "excesso de carga horária" também terá contribuído para aquele desfecho, acrescentaram outros agentes, lembrando as queixas da vítima sobre a dificuldade de se deslocar à terra-natal, onde vivem os pais.
"Falta apoio psicológico na GNR. Existem apenas dois ou três especialistas nesta área", denunciaram. Em 2008 suicidaram-se onze militares da GNR, mais três do que em 2007.
Já o presidente da Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda, José Alho, disse ao DN recear que ocorram mais suicídios, sobretudo devido à recente restruturação na Guarda, com "transferências de pessoal e excesso de carga horária", a que se juntam "problemas pessoais e dificuldades financeiras de quem vive longe da família".
Por isso, "é preciso haver muito mais humanidade por parte dos responsáveis", apelou.