Glovo: em 2022 o mercado nacional cresceu quase 40%
O negócio do delivery não é novo, mas a pandemia trouxe ao de cima o seu potencial, tendo sido, inclusive, a salvação de muitos negócios. Não é, por isso, por acaso que o cofundador da Glovo, Sacha Michaud, diz que o negócio registou um crescimento incrível a nível mundial. A par disso o executivo reconheceu que nos últimos anos a empresa tem apostado no crescimento das vendas, passando agora a investir na obtenção dos lucros. "Temos de transformar todo este crescimento num negócio economicamente sustentável", afirmou em entrevista ao Diário de Notícias, acrescentando que esse vai ser o seu principal foco para os próximos dois anos.
É certo que o crescimento proporcionado pela pandemia, em que muitos negócios dependeram do delivery para faturar, está a diminuir, mas, no entanto, Sacha Michaud acredita que não irá desaparecer por completo. Apenas atenuar-se. "As pessoas valorizam o seu tempo e a forma como o usam", aponta o cofundador da Glovo. E será esse o grande trunfo do delivery, porque "poupa" tempo aos clientes.
Sacha Michaud acredita piamente que, no futuro, grande parte dos negócios serão digitais. E isso significa não só delivery, mas, também, outras possibilidades, como o pick-up, por exemplo. Questionado se isso não pode levar a alguma perda de negócio o executivo afirma, perentório, que não. E explica que a Glovo é mais do que apenas uma empresa de delivery. Na verdade, também disponibiliza as ferramentas para que outras empresas possam trabalhar essa área do negócio, usando a infraestrutura da Glovo. Tem o nome de Glovo Local e, segundo a empresa, "nasce como uma solução inovadora que visa ajudar as PME"s a digitalizarem-se, com uma série de ferramentas que permitem a todos os parceiros personalizar a sua experiência". O primeiro passo pode ser "apenas" usar as ferramentas de delivery, mas Sacha Michaud acredita que, no futuro, os clientes - na verdade o executivo chama-os de aliados - utilizarão as outras ferramentas digitais disponibilizadas pela Glovo. "É este o nosso posicionamento: ser um aliado digital para as suas vendas onlive ou digitais", afirma.
A convicção é que esta "nova" área crescerá, talvez, a um ritmo mais acelerado do que o delivery. "Acredito que a digitalização do retalho será uma grande tendência na próxima década", antecipa, acrescentando que o novo serviço da Glovo "pensado para as PME" será extremamente útil.
Quanto a Portugal, Sacha Michaud reconhece a sua importância no negócio da Glovo (abriu sede em Lisboa na quinta-feira), apontando que, no ano passado, registou um crescimento de quase 40%, atingindo os 200 milhões de euros, maioritariamente oriundos de restaurantes e lojas. Este ano, revela o cofundador da Glovo, vão investir 50 milhões de euros no mercado nacional, que serão aplicados em três áreas chave: no crescimento do mercado (incluindo investimento em media), nos estafetas e na equipa. Só em Portugal a Glovo tem uma equipa de mais de 200 pessoas, "muito mais do que os nossos concorrentes".
Questionado sobre a política de sustentabilidade da Glovo, Sacha Michaud referiu que a empresa é neutra em emissões (através da compensação da sua pegada de carbono), mas preferiu realçar as ações relacionadas com a sustentabilidade social. É o caso, por exemplo, do apoio aos negócios locais, às PME"s que ainda não iniciaram (ou estão a iniciar) a sua transição digital, assim como a aposta na diversidade e inclusão, sem esquecer os estafetas. A empresa trabalha ativamente para, enquanto garante a flexibilidade da profissão, conseguir atribuir direitos sociais. Convém lembrar que a Glovo é uma das fundadoras da APAD - Associação Portuguesa das Aplicações Digitais, entidade criada em setembro do ano passado com o objetivo de ser "a voz do setor junto do poder". Porquê isto é importante? Porque embora Sacha Michaud considere que ser estafeta deve ser um trabalho temporário ou um rendimento extra, a verdade é que muitos dos contratados pela Glovo vêm nesse trabalho a sua principal fonte de rendimentos.
Quanto a mexidas na legislação, Sacha Michaud refere que é importante manter a flexibilidade - a principal razão para muitos estafetas aderirem à plataforma -, o fácil acesso ao trabalho e um rendimento decente. Se acima disso se conseguir aumentar os direitos sociais e proteção "teremos uma excelente diretiva europeia".
Em todo o percurso que a Glovo fez desde a sua fundação em 2015 Sacha Michaud arrepende-se de, no início, não ter investido mais na parte da engenharia para ter impulsionado a empresa. "Atrasou-nos", admite. Por outro lado, a aposta em ter filiais, com equipas locais, dá-lhe uma flexibilidade e conhecimento do mercado que o cofundador da Glovo considera ser o fator chave contra a concorrência. A prova, afirma, é que a Glovo é líder de mercado em 21 dos 25 (incluindo Andorra) mercados em que está presente.