Giorgia Meloni é a primeira mulher a liderar um governo em Itália

Líder do Irmãos de Itália terá como vice-primeiros-ministros o líder da Liga e o número dois do Força Itália.
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A líder do partido de extrema-direita Irmãos de Itália, Giorgia Meloni, foi nomeada primeira-ministra italiana esta sexta-feira, tornando-se a primeira mulher a chefiar um governo na Itália.

Meloni, de 45 anos, chegou à residência oficial do Presidente da República, Sergio Mattarella, minutos antes da hora marcada, eram 15:30 em Lisboa, preparada para constituir um executivo com os seus parceiros de coligação, Matteo Salvini, da Liga, também de extrema-direita, e Silvio Berlusconi, do conservador Força Itália, dividindo ministérios e outras posições.

Foi a segunda vez que Meloni se encontrou esta sexta-feira com Mattarella, que a convocou esta manhã juntamente com os seus aliados para consultas prévias levadas a cabo pelo Presidente da República, a quem a coligação propôs o nome da líder dos Irmãos de Itália, o partido mais votado a 25 de setembro, com 26 por cento.

A nova líder do governo italiano confirmou que o dirigente da Liga e o número dois do Força Itália serão vice-primeiros-ministros no futuro Governo, no qual ocuparão também as pastas das Infraestruturas e Negócios Estrangeiros, respetivamente.

Matteo Salvini, da Liga, retomará o cargo de vice-primeiro-ministro já ocupado no executivo do primeiro-ministro Giuseppe Conte (2018-2019), que na altura acumulou com a pasta do Interior.

António Tajani, do Força Itália, encarregar-se-á também da diplomacia italiana, apesar das polémicas declarações do líder do seu partido, o três vezes primeiro-ministro e magnata da comunicação social Silvio Berlusconi, que esta semana reafirmou a sua amizade com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, obrigando Meloni a esclarecer que o seu Governo será aliado da Europa e da NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental).

O partido de Berlusconi ficou, contudo, sem a pasta da Justiça, para a qual foi nomeado o ex-juiz Carlo Nordio, deputado pelos Irmãos de Itália (FdI) na atual legislatura.

Meloni falou à imprensa pouco depois de apresentar a Mattarella a lista de ministros já completa do Governo que este a encarregou de formar.

O novo executivo tomará posse no sábado de manhã, como foi já anunciado pelo palácio do Quirinal, sede da Presidência da República de Itália.

Nascida em 15 de janeiro de 1977 em Roma, a líder dos FdI teve um início de vida difícil. A sua mãe, Anna, teve que criá-la sozinha, juntamente com a irmã mais velha Arianna, depois de o pai as ter abandonado e partido para as Ilhas Canárias.

A sua mãe conseguiu vender o que restava da casa em que moravam e mudaram-se para o bairro operário de Garbatella, onde entrou em contacto com a política, à qual dedicaria a sua vida.

A líder dos FdI vive com o jornalista Andrea Giambruno, e com filha de ambos, Ginevra.

Aos 15 anos, em 1992, Giorgia Meloni decidiu entrar para a Frente da Juventude, uma organização do antigo Movimento Social Italiano (MSI), partido neofascista fundado em 1946 por seguidores do falecido ditador Benito Mussolini.

Na juventude, Giorgia Meloni era admiradora confessa de Mussolini, que governou a Itália entre 1922 a 1943, num governo que apoiou a Alemanha nazi durante a II Guerra Mundial.

Em 1996, tornou-se responsável pelo movimento estudantil do partido Aliança Nacional (AN), o novo rosto do MSI. Num programa do canal de televisão France 3, declarou: "Mussolini foi um bom político, tudo o que fez, fez pela Itália".

No seu percurso político, foi eleita conselheira da província de Roma pelo AN, liderado por Gianfranco Fini, em 1998 e, posteriormente, Meloni foi nomeada em 2004 presidente da Ação Jovem, a secção juvenil da AN, e tornou-se a primeira mulher presidente de uma organização juvenil de direita.

A sua ascensão foi meteórica e em 2006, aos 29 anos, foi eleita pelo AN para a Câmara dos Deputados, na qual foi vice-presidente até 2008, quando foi nomeada Ministra da Juventude no governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

Em 2012, fundou o Irmãos da Itália, partido considerado como o novo herdeiro do MSI, e manteve Sílvio Berlusconi como aliado, aproximando-se também da Liga, partido de Matteo Salvini, nas eleições de 2013.

Em 2014, Giorgia Meloni torna-se presidente do FdI.

No ano de 2016, tentou ser autarca de Roma, sem sucesso, mas ganhou grande popularidade ao fazer campanha durante a gravidez. Já em 2018, nas eleições gerais, obteve 4,3% dos votos e o FdI tornou-se o quinto partido do país.

O FdI foi em 2021 o único partido de oposição ao Governo de Unidade Nacional do primeiro-ministro cessante, Mario Draghi.

Giorgia Meloni considera importante uma Europa voltada para os valores cristãos. Apoia a "família natural", é muito crítica da ideologia de género, mostra-se contrária ao que classifica do 'lobby gay', condena o aborto, deseja maior segurança das fronteiras europeias, é contra a migração em massa e contra a violência islâmica.

A líder dos FdI é próxima de partidos extrema-direita europeus, como o espanhol Vox, e é admiradora do Presidente da Hungria, o ultraconservador Victor Órban.

Em 10 de agosto, em plena campanha eleitoral, Meloni publicou um vídeo em inglês, francês e espanhol para se distanciar do fascismo.

"A direita italiana relegou o fascismo à História há décadas, condenando inequivocamente a privação da democracia e as infames leis antijudaicas. E, obviamente, também é inequívoca a nossa condenação do regime nazi e do comunismo", declarou.

Meloni foi hoje encarregada pelo Presidente, Sergio Mattarella, de formar governo em Itália, anunciou o secretário-geral da presidência.

A líder dos FdI assumiu a responsabilidade, tornando-se na primeira mulher a ser chamada para o cargo na história do país e apresenta ainda hoje a composição do seu governo, que deverá tomar posse no sábado de manhã (08:00 TMG) no Palácio do Quirinal.

Os FdI obtiveram nas eleições de setembro 26 por cento dos votos.

A Liga, de Matteo Salvini, conseguiu 8,8% dos votos (contra 13% em 2018), e a Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, 8,1% (14% em 2018), de acordo com os números do Ministério do Interior, citados pela agência francesa AFP.

A coligação destes três partidos e de uma formação mais pequena com menos de 01% obteve 43,8% dos votos, traduzindo-se em 237 dos 400 lugares na Câmara dos Deputados, e em 115 dos 200 lugares no Senado.

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