Gigantes e gigantones

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Gigantes e gigantones

Projectado em flashback o filme das 25 jornadas que esta Superliga já tem para contar, é forçoso reconhecer que já nem de "tomba-gigantes" se pode falar, tão banal se tornou uma equipa do meio ou da cauda da tabela ir visitar qualquer dos três "gigantes" do futebol português para lhe roubar dois ou três pontos e, até, dar-lhe uma grande sova. Foi isso que se passou, em mais um fim-de-semana alucinante desta Superliga, com as derrotas do FC Porto frente ao Nacional (0-4) e do Sporting frente ao Penafiel (0-2).

No Estádio do Dragão, os rapazes da Choupana fizeram "gato-sapato" do mítico animal que cospe fogo pela boca, enfiando-lhe quatro secos nas goelas. Um dragão sem chama, que já viu o fogo posto por outros consumir-lhe 22 pontos em casa, foi outra vez ao tapete, goleado e humilhado por uma equipa do meio da tabela, cujo orçamento é dez vezes inferior. Com tantas entradas e saídas de jogadores, o campeão nacional, europeu e intercontinental transformou-se num autêntico albergue espanhol. É, hoje, uma equipa descosida e desnorteada, que parece a pobre imitação de uma escola de samba a desfilar no Carnaval da Mealhada. Não espanta que tenha passado de "gigante" a "gigantone" enquanto o diabo esfrega um olho. Espanta é que continue a ser candidato ao título.

No Estádio José Alvalade, um leão sem juba e sem garras deixou que a modesta equipa de Penafiel se transformasse num rato que ruge, roendo-lhe a corda sempre que o nobre animal se descuidou. Alternar o melhor com o pior já é vício deste leão, que, volta não volta, parece estar a dormir na forma. A rotação obsessiva de jogadores, para os pôr a descansar, esfrangalha a equipa. As substituições antes de tempo, para os poupar, têm sido um desastre. Viu-se em Middlesbrough, depois do 0-3, que se transformou em 2-3. E viu-se em Alvalade, com as saídas de Pedro Barbosa e Hugo Viana ao intervalo. Para já nem falar da falta que fez Enakarhire, poupado ao cartão amarelo. Só que, como disse José Peseiro antes do jogo "Nesta altura, quem errar menos e for mais forte, vai vencer a Superliga". Ora, o Sporting errou e voltou a perder. Ainda há quinze dias estava no topo (exaequo) e já caiu para o quinto lugar, depois de o Boavista - sempre a jogar forte e feio, como quer Jaime Pacheco - ter derrotado o Belenenses (2-0) no Bessa.

A nove jornadas do fim, ninguém sabe no que vai dar esta Superliga alucinante, cuja "sinistralidade" chega a ser hilariante. E ainda será prematuro afirmar que qualquer das cinco equipas da frente já encostou às boxes. Mas é certo que, do quinteto da frente, as equipas do Benfica, do Sporting de Braga e do Boavista são as que têm tirado maior proveito das saídas de De- co, Ricardo Carvalho, Paulo Ferrei- ra, Pedro Mendes, Derlei, Carlos Alberto e José Mourinho do FCP. Comparando a classificação actual com a da época passada, ao cabo de 25 jornadas o Benfica, que vai à frente, com 48 pontos, tem menos três; o FCP, com 45 pontos, tem menos 20; o Sporting de Braga, com 44 pontos, tem mais quatro; o Boavista, também com 44 pontos, tem mais sete; e o Sporting, com 42 pontos, tem menos 16. Relativamente ao máximo de pontos possível em 25 jornadas (75), o Benfica já esbanjou 27 pontos, o FCP 30 e o Sporting 33. Sacar pontos aos três "grandes", fora ou em casa, tem sido um forrobodó. Não é de espantar, por isso, que os "gigantes" do pontapé na bola nacional mais se pareçam, agora, com "gigantones".

Por tudo isto é que me custa tanto perceber por que razão os adeptos do Benfica insistem em assobiar Gio-vanni Trapattoni, um treinador de primeira capaz de colocar no topo da Superliga uma equipa de terceira. Com um grupo de jogadores bem mais fraco do que os outros dois "gigantones", o homem tem conseguido fazer omeletas quase sem ovos. Se o Benfica for campeão, repetirá o "milagre das rosas". Além disso, já é o único "gigantone" que resta na Taça de Portugal. Dá Deus as nozes a quem não tem dentes!

Alfredo

barroso

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