Generalizar é mais fácil

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Há imagens e mensagens preocupantes que têm estado a chegar desde França. Violência generalizada e desordem pública na República que fundou a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

França tem um passado recente recheado de indignação e manifestação popular. A título de exemplo, há poucas semanas milhares de franceses manifestaram-se contra o aumento da idade da reforma; há um par de anos o protesto dos coletes amarelos bloqueou sem dó nem piedade as estradas, lutando por mais direitos e melhores condições de vida.

Assim, é fácil concluir que o povo francês se faz ouvir muitas vezes e pelos mais variados motivos. Nestes últimos dias a indignação deve-se à morte indevida de um jovem por parte das forças policiais. Estes protestos são justos na sua origem, contudo foram aproveitados para subverter a ordem pública, criar o caos e com ele fomentar o pânico junto da maioria da população.

Os fins raramente justificam os meios e este caso parece não ser exceção. A manifestação é mais do que justa e aceitável, mas o seu crescimento orgânico, a perda do controlo e da essência de origem acabam por ceifar a bondade e a razão que motivou a sua realização.

Foi a própria família do jovem baleado que promoveu uma marca "branca" e pacífica, na tentativa de trazer à razão os que encontraram na desordem os seus verdadeiros fundamentos.

Face ao contexto complexo, havia várias soluções dando-se destaque a duas: esperar que tudo passasse (uma hipótese que raramente resulta) ou responder em força, que foi o que sucedeu e a dois níveis. Reforçou-se a presença das autoridades nas ruas e o papel de cidadania que cabe a cada um acabou por ser o outro nível.

Assim, assiste-se um pouco por toda a França ao que se pode apelidar de contramanifestações. Essas têm por objetivo repor a ordem, repudiar a violência e os desacatos que têm vindo a ser praticados a coberto de um suposto protesto.

Recorrer a generalizações é sempre mais fácil. Agora, perceber os reais motivos que levam alguém a fazer o quê, seja porque uns são mais isto ou menos aquilo, porque têm mais ou menos do que outros, seja económica ou socialmente, será sempre um processo mais intrincado e trabalhoso.

Não é justo elaborar uma análise fina com os dados disponíveis de momento. Mas pode seguramente afirmar-se que há um direito à manifestação e há um limite que a sociedade não tolera que seja ultrapassado. As autoridades podem sair à rua, mas as pessoas saem também. E aqui não há qualquer generalização.

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