O general António Indjai, líder dos militares no golpe de Estado de 2012 na Guiné-Bissau, que foi exonerado em setembro, diz que não pensa voltar a pegar em armas para intervir no rumo do país, dedicando-se apenas à agricultura.."Podem confiar que o general está na lavoura. A pegar numa arma? Não é verdade. Não penso nisso, nem hoje nem amanhã, para sempre", referiu numa entrevista em crioulo à RTP África, numa das suas quintas em Bambadinca, Leste da Guiné-Bissau. ."Quero ver o país em desenvolvimento, pelo menos para os nossos filhos poderem estudar. Um general vai pensar em problemas a cada dois anos?", questiona. .Na primeira entrevista desde que foi afastado da liderança das forças armadas, Indjai pediu esta quinta-feira ao governo para esquecer o que está para trás, para trabalharem juntos daqui em diante. ."Lembrar, falar do passado, traz problemas e inimizade. Falo ao povo e ao governo da Guiné-Bissau para fazermos como o presidente da República disse: pormos a mão na lama", uma expressão guineense que significa, "vamos ao trabalho"..Indjai foi exonerado do cargo de Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) a 16 de setembro pelo novo presidente da República, José Mário Vaz, eleito este ano (a par com o novo parlamento e governo), pondo fim ao regime de transição que saiu do golpe de Estado de 12 de abril de 2012. .O general classifica o presidente como um amigo de longa data e considera que o seu afastamento da liderança militar faz parte do jogo democrático.."Saí das Forças Armadas sem problemas, sem nada. Saí porque é assim a democracia", referiu. .Para além da lavoura a que diz querer dedicar-se (culturas de sésamo e arroz), Indjai afirma que espera vir a receber uma pensão de reforma adequada à patente de "general de quatro estrelas".. "O povo deve ficar tranquilo (...), mas se alguém me expulsar da minha quinta, está a criar um problema: como é que eu vou comer? Tenho a certeza de que ninguém vai dizer que eu não posso lavrar a terra", acrescentou o militar que os norte-americanos ainda querem capturar, por alegado envolvimento no tráfico de droga..O general faz um pedido ao povo e ao governo da Guiné-Bissau: "Que guardem a minha vida para que eu possa trabalhar. Se pensarem que estou a fazer alguma outra coisa, que mandem uma delegação [para verificar]. Não tenho nada", sublinhou..Na entrevista à RTP África, António Indjai desvaloriza as acusações da justiça dos Estados Unidos e volta a dizer-se inocente em relação às suspeitas de tráfico de droga internacional..A 18 de abril de 2013, foi acusado pelos norte-americanos de participação numa operação internacional de tráfico de drogas e armas, processo que se mantém em aberto, recaindo sobre o general um mandado de captura..A acusação surgiu depois de um antigo líder da Marinha guineense, contra-almirante Bubo Na Tchuto, ter sido detido dias antes, a 4 de abril, em águas internacionais, perto de Cabo Verde, por uma equipa da agência de combate ao tráfico de droga norte-americana (DEA), juntamente com outros quatro guineenses..António Indjai foi afastado por José Mário Vaz através de um decreto presidencial que já era esperado nos círculos políticos e militares, dada a saída de cena das figuras que tinham tomado o poder após o último golpe de Estado..* Jornalista da agência Lusa