Gene que resiste a antibióticos de último recurso já está em 19 países

O MCR-1 já terá sido identificado também em Portugal, segundo grupo ambientalista norte-americano
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Foi em novembro do ano passado que os cientistas chineses identificaram pela primeira vez um gene capaz de tornar as bactérias resistentes até aos antibióticos de último recurso: nessa altura, o gene designado como MCR-1 tinha sido detetado apenas em alguns doentes e animais na China, mas em dezembro foi identificado na Dinamarca, num doente que sofrera uma infeção no sangue e em cinco amostras de aves importadas.

Tudo indica que o MCR-1 continua a progredir. No final de janeiro de 2016, revela a Bloomberg, já foi detetado em 19 países diferentes, não só em animais mas também em humanos e em carne para consumo, vendida nos supermercados, segundo um relatório do Natural Resources Defense Council, um grupo ambientalista norte-americano sem fins lucrativos. A associação refere que há evidências da presença do gene - que torna bactérias comuns, como a E. coli e a K. pneumoniae, praticamente invencíveis aos medicamentos - no sudeste da Ásia, Europa, Canadá e Japão. Em Portugal, terá sido mesmo detetado em carne vendida para consumo em supermercados. Só na Europa, o gene está em Itália, Suíça, França, Bélgica, Holanda, Alemanha, Reino Unido e Dinamarca, para além do território luso.

O gene MCR-1 torna as bactérias resistentes a uma família de antibióticos conhecida como as polimixinas, usadas como último recurso para combater as superbactérias, quando estas já desenvolveram resistências a todos os outros antibióticos.

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Segundo a Bloomberg, a vasta presença do gene agora detetada não significa que este se tenha transmitido de forma mais acelerada nos últimos meses: os cientistas estão a analisar amostras mais antigas, agora que sabem exatamente o que procurar, já que o fenómeno de propagação poderá ter passado despercebido aos investigadores durante um largo período de tempo. Ainda assim, a presença abrangente do MCR-1 é preocupante, já que a bactéria viaja facilmente através das pessoas, animais vivos e alimentos e está claramente "à procura de casa", disse à Bloomberg Lance Price, professor de saúde ambiental e ocupacional na Universidade George Washington.

A Organização Mundial de Saúde já advertiu que a resistência antimicrobiana pode resultar "num regresso a uma era pré-antibióticos", em que as infeções de cura fácil podem tornar-se fatais.

Por outro lado, no Fórum Económico de Davos, que decorre até este sábado, os grandes grupos farmacêuticos têm alertado para a necessidade de investir no desenvolvimento de novos antibióticos, perante as hipóteses, cada vez mais reais, do aparecimento de uma superbactéria imune a todos os que já se conhecem. Mas o Natural Resources Defense Council sublinha igualmente que é preciso, sobretudo, usar os medicamentos de forma mais prudente e cautelosa, evitando precisamente que as bactérias "aprendam" a contorná-los.

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