Gasolina já baixou 19% desde o pico mais alto, gasóleo só caiu 7%

Com o início da guerra, em fevereiro, os preços dos combustíveis dispararam e atingiram o máximo em junho, com subidas de quase 20% na gasolina e de 25,6% no gasóleo. Esta semana voltam a descer
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Depois de três aumentos de preço consecutivos, os combustíveis vão descer esta semana. A redução esperada é de um cêntimo no gasóleo, que deverá passar, considerando os valores médios da última semana, para os 1,944 euros por litro, e de seis cêntimos na gasolina, para os 1,826 euros. São já mais de 34 cêntimos de redução na gasolina desde o pico mais alto, atingido em junho, e de 13,6 cêntimos no gasóleo, o que significa que, a descida acumulada, considerando já a desta semana, é de 19% na gasolina e de 7% no gasóleo. As expectativas dos analistas é que os preços se mantenham altos. Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, admite mesmo que as perspetivas para o próximo inverno "não são nada animadoras".

Se olharmos para os preços médios praticados em Portugal continental em outubro de 2019, antes da pandemia de covid-19, o gasóleo custava então 1,365 euros por litros e a gasolina 1,475 euros, ou seja, eram 43,15% e 27,86% mais baixos, respetivamente. Com a pandemia e o mundo confinado, caíram para o valor mais baixo em maio de 2020, altura em que chegaram a 1,118 euros no gasóleo e os 1,23 euros na gasolina. Mantiveram-se relativamente estáveis, com ligeiras alterações, até novembro, altura em que iniciaram a trajetória ascendente. Este ano arrancou com o gasóleo nos 1,513 euros e a gasolina nos 1,693 euros e a invasão da Ucrânia acentuou a tendência, com os combustíveis a dispararem 25,6% no gasóleo e 20% na gasolina para o patamar máximo dos 2,080 e 2,171 euros, respetivamente, atingido em junho.

Desde agosto que o gasóleo está mais caro do que a gasolina e tudo indica que assim se manterá, devido a um "problema estrutural", diz António Comprido, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO), lembrando que a Europa é deficitária em gasóleo - ao contrário da gasolina, em que é excedentária - , que importava, em grande parte, da Rússia. A guerra na Ucrânia e as consequentes sanções à Rússia levaram a uma redução de stocks, agravada pela diminuição da capacidade de refinação por via das greves das refinarias em França. Tudo isto tem gerado uma "escassez crescente" deste combustível, levando a que a cotação do gasóleo cresça a um ritmo muito superior à da gasolina e do petróleo.

Já Paulo Rosa lembra que a "evolução nos próximos meses vai depender muito do rigor do próximo inverno", já que o gasóleo é usado como fonte de aquecimento, de geração de energia elétrica e como substituto do gás natural. E com o gás aos preços astronómicos que tem estado, a procura pelo gasóleo tem vindo a aumentar.

É por todos estes fatores combinados que Ricardo Marques, analista da IMF, considera que, mesmo que haja uma queda das cotações do petróleo, "o gasóleo poderá nem sequer baixar". Mais, o embargo europeu aos produtos refinados russos começa em fevereiro "o que poderá complicar ainda mais a situação", admite.

Já António Comprido considera que não é possível fazer grandes previsões enquanto durar toda esta instabilidade [dos mercados], e que "poderá até ser acentuada pela questão do alegado fornecimento de armas do Irão à Rússia e a eventualidade de o país vir a ser sujeito também a sanções, quando se caminhava já no sentido contrário, de um acordo e de um eventual retomar das exportações iranianas". A incerteza quanto à recuperação da economia chinesa, um grande consumidor de produtos energéticos, também não ajuda. "Não podemos ter grandes esperanças de grandes melhorias [nos preços dos combustíveis]", refere o responsável da APETRO, para quem é claro que "podemos contar com algumas descidas pontuais, seguidas de algumas subidas, mas não podemos estar muito otimistas".

Além disso, a decisão, anunciada há dias, pela OPEP e seus aliados, de cortarem a produção diária de petróleo em dois milhões de barris, a partir de novembro, só vem complicar ainda mais uma situação que já tem tudo para se manter instável. E, por isso, o economista sénior do Banco Carregosa fala em perspetivas "nada animadoras" para o próximo inverno. "A existir algum alívio nos preços dos combustíveis nos próximos meses seria, provavelmente, por uma razão indesejável, ditada por uma recessão mais generalizada e mais acentuada na zona euro", frisa Paulo Rosa.

Por fim, falta saber o que vai acontecer em termos do imposto sobre produtos petrolíferos em novembro, já que, no início de outubro, o Ministério das Finanças anunciou o prolongamento dos apoios aos combustíveis, mas com uma redução no desconto do ISP em 4,4 cêntimos na gasolina e 0,1 cêntimos no gasóleo.

ilidia.pinto@dinheirovivo.pt

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