Gabriela Albergaria tem uma parede só dela na feira ARCO
"É uma transposição do que se estava a passar nos estúdio nos últimos meses", explica Gabriela Albergaria (1965), sobre as peças da sua autoria que a partir de hoje se podem ver numa das paredes brancas do espaço de Vera Cortês na ARCO Lisboa, na Cordoaria Nacional. "Normalmente, a Vera dá uma parede maior a um artista, este ano calhou-me a mim, como tenho uma parede muito semelhante, ia fazendo as peças e ia colocando na parede. Quatro que se relacionam e mais três que são independentes, mas com as quais crio relação de leitura". Sete obras.
Na véspera da inauguração, a artista preparava a apresentação das peças. As mais recentes resultam de um trabalho feito a partir de uma folha de palmeira do Parque Burle Marx, em São Paulo. "Trouxe em 2016 uma folha e comecei a fazer uma espécie de diário da alteração das cores da palmeira. Quando ela estava mais verde, até esta agora...", diz mostrando a mais amarelecida. "São peças sobre o tempo", explica.
A peça central é uma espécie de tear em que vão passando as amostras de cor de palmeira pela qual o tempo passou. Registam as cores da passagem do tempo sobre a natureza fazendo um degradé, que há de terminar no vazio, mas deixando à vista os fios. É o trabalho de uma artista que viveu em Nova Iorque e se mudou há um ano para Londres, que prefere as cidades ao campo. "Não me interessa a jardinagem", sublinha. "Mas todas resultam de visitas. A passagem pelo Burle Marx, pelo Jardim Botânico de Brooklyn", diz a artista retomando o trabalho na parede da galeria.
Vera Cortês é uma das galerias portuguesas que está representada na ARCO Lisboa, a Feira Internacional de Arte Contemporânea, subsidiária da homónima espanhola. São 72 ao todo, "20% mais" do que há um ano, afirma o diretor, Carlos Urroz. 60 nacionais e internacionais escolhidas pelo comité organizador. Doze outras encontram-se na secção Opening para espaços com menos de sete anos. Quatro são portuguesas: Balcony, Francisco Fino, Madragoa, Pedro Alfacinha e Hawaii Lisbon. As restantes são de Barcelona, Varsóvia, Londres, Haia, Berlim e Roma. João Laia é o comissário nos bastidores destas escolhas.
"Reativou-se o mercado local", avalia Urroz explicando que aumentaram o número de compradores estrangeiros. "Há peças que se trazem porque vem o MAAT ou Serralves". "Não trazemos nada vendido, mas há muito relação das galerias com os colecionadores", explica o diretor, acrescentando que aumentou em 35% a 40% o número de artistas interessados em participar na ARCO Lisboa.
Uma das novidades em 2018 é o espaço de projetos que reúne trabalhos de dez artistas (ver caixa). "Não tem a ver com a geografia ou com a idade, é por não se terem visto nestas circunstâncias", diz Carlos Urroz. Está, por exemplo, Ester Ferrer, uma artista com mais de quatro décadas de trabalho, pioneira da performance em Espanha e ligada ao movimento Zaj. Estes trabalhos podem ser vistos numa sala da Cordoaria a que se acede no pátio.
E é no pátio que está a instalação criada por João Quintela e Tim Simon, vencedores de um projeto da Trienal de Arquitetura. A dupla criou uma zona de restauração aproveitando esse espaço longitudinal e estreito para criar uma estrutura negra com panos que lembram as velas das caravelas cujas cordas se construíam as cordas. "Quisemos trabalhar a escala pessoal, do restaurante, a pública, da esplanada, e a monumental, de uma estrutura que se vê de fora" , explica o arquiteto João Quintela. E apesar de esta não ser uma obra artística recebe a intervenção de um artista. Carlos Nogueira criou um mastro de bandeira dourado.
Artistas a solo com dez projetos especiais
A edição deste ano recebe dez novos artistas que assim têm a oportunidade de mostrar o seu trabalho a solo. Oriundos de dez galerias, eles são: o português Miguel Januário, representando a Underdogs; o alemão Stephan Balkenhol, pela galeria barcelonesa Senda; o peruano José Carlos Martinat, em nome da Revolver, de Lima; a sul-africana a viver em Londres Selma Parlour, pela galeria britânica Pi Artworks; Sandra Gamarra, da madrilena Juana de Aizpuru; Nuno-Nunes Ferreira, da galeria de Santander Juan Silió; o madrileno Nacho Martín Silva, da José de La Fuente; Fernanda Fragateiro, da galeria Elba Benítez; a portuguesa com background angolano Mónica de Miranda, da galeria Carlos Carvalho; e Esther Ferrer, pela Ángels Barcelona, em Espanha.