Gabriel García Márquez: 24 anos de vigilância pelo FBI
1961. Gabriel García Márquez tinha 33 anos e chegava a Nova Iorque com a mulher e o filho pequeno. Uma particularidade física do então jovem escritor e jornalista colombiano: "Usa bigode." Outra característica: o inglês limitado. A informação não provém de fotografias ou gravações, mas do ficheiro que lhe é dedicado nesse mesmo ano pelo FBI (agência federal de investigação norte-americana), então dirigida por J. Edgar Hoover.
São 24 anos de informação reunida por agentes do FBI que estiveram no encalço dos passos do escritor. Nesse período de tempo, "Gabo" - como era conhecido entre amigos e admiradores - escreveu as suas obras maiores como Cem Anos de Solidão ou Amor em Tempos de Cólera e recebeu, em 1982, o Prémio Nobel da Literatura.
O ficheiro da agência norte-americana, classificado como "confidencial", foi aberto a pedido do jornal The Washington Post. Todavia, o acesso apenas foi autorizado a 137 páginas. O conteúdo das restantes 133 permanece desconhecido, tornando "pouco claro" - conclui a investigação daquele jornal - o que suscitou o interesse da agência norte-americana em García Márquez, que morreu a 17 de abril de 2014.
Quando a pasta foi criada, em 1961, García Márquez acabara de chegar aos EUA para abrir uma delegação da agência noticiosa cubana Prensa Latina (fundada por Che Guevara). Um dos primeiros registos do ficheiro - que data de 8 de fevereiro de 1961 - mostra uma ordem que aparenta ter vindo de Hoover, diretor do "Bureau" (como é habitualmente chamado o FBI) durante quase 50 anos: "Se ele entrar nos Estados Unidos por qualquer motivo, o "Bureau" deve ser prontamente notificado." No mesmo dia, outro registo arquivado no ficheiro afirmava que a agência Prensa Latina incluía "uma série de comunistas e pró-comunistas". Curiosamente, conta o filho primogénito do escritor ao Washington Post, Rodrigo García, o seu pai terá sido despedido da agência cubana "meses depois" da chegada ao país, por ser "não ser suficientemente radical".