Alunos voluntários das sete fa- culdade de medicina do País realizaram terça-feira um exame-pi- loto do que poderá tornar-se a nova prova de aceso à especialida- de. É um teste americano e que não permite a divulgação da chave de correcção nem recurso. Os alunos contestam, embora vejam com muito bons olhos a anulação da actual prova. Há 35 anos que os médicos têm que decorar o calhamaço "Harrison's" para escolher uma especialidade.."Consideramos que o actual exame de especialidade não é o adequado. As pessoas estão preocupadas em se prepararem para a prova, quase só de memorização, e não aproveitam o último ano escolar, que é essencialmente prático", começa por dizer Inês Laíns, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM). .Foi a razão porque participaram na promoção do exame-piloto, que foi realizado por 500 voluntários de todo o País. Falta fazer uma recolha da apreciação dos alunos, alguns dos quais já elogiaram o lado prático do teste, mas há questões a que os estudantes se opõem desde já: "Tem de haver uma bibliografia para nos prepararmos para o exame; é fundamental ter acesso à chave de correcção após a realização da prova e recurso", sublinha Inês Laíns..A justificação da National Board of Medical Examiners, a empresa privada que elabora os exames, é que não é possível haver a indicação de livros de apoio porque é um exame final e visa avaliar os conhecimentos de seis anos de aprendizagem. Quanto à chave de correcção, dizem ter um banco de perguntas e que estas não podem ser divulgadas, para não inviabilizar que voltem a constar da prova.."O objectivo desta prova-piloto não é testar o processo do exame, mas a matriz. Não conheço um médico que defenda o actual exame da especialidade, que avalia a capacidade que os alunos têm de memorizar cinco capítulos de um tratado de medicina interna (Harrison's) e não a capacidade de exercer medicina", explica Nuno Sousa, director do curso de Medicina da Universidade do Minho. Há dois anos que realizam testes da National Board no estabelecimento e que funcionam, apenas, como indicador..Nuno Sousa diz que se trata de uma empresa privada, sem fins lucrativos, credenciada internacionalmente. "É um processo mais democrático de testar a substituição do actual exame de admissão, que toda a gente contesta. E, no final, será feito um balanço", sublinha. .Os exames da especialidade dependem de uma equipa constituída pelo Conselho Nacional de Médico Interno (CNMI), da Ordem dos Médicos, das faculdades e do ANEM, com o acordo Ministério da Saúde. "Este tipo de prova tem por base uma confiança cega no sistema e é todo esse processo que está a ser testado", remata Rui Guimarães, presidente do CNMI.