Futuro da Lusa está nas mãos do presidente que até vende bilhetes

Alexandre de Barros, radialista filho de um português, é o primeiro negro a presidir a um clube paulista e tenta salvar a histórica Portuguesa dos Desportos, que caiu na quarta divisão
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O nome não engana: a Associação Portuguesa de Desportos, clube brasileiro que se aproxima do centenário, tem raízes lusitanas. Afinal, este clube, fundado em 1920, nasceu da fusão de cinco equipas com pergaminhos portugueses: Lusíadas Futebol Club, Associação 5 de Outubro, Esporte Club Lusitano, Associação Atlética Marquês de Pombal e Portugal Marinhense.

A Portuguesa nunca conseguiu emergir propriamente como um dos clubes mais influentes do futebol brasileiro - esteve sempre "tapada" pelos gigantes paulistas Corinthians, Palmeiras, Santos ou São Paulo -, mas habituou-se a estar no convívio entre os grandes.

Mesmo recentemente, em 2011, o futebol aliciante praticado na Série B, que então valeu o título e a subida ao principal escalão do futebol brasileiro, esteve na origem de uma nova alcunha para a Portuguesa: Barcelusa, numa altura em que a Lusa replicava o estilo de jogo tiki-taka dos catalães. Porém, seis anos depois, a Portuguesa encontra-se num abismo ainda sem fundo à vista.

Desde 2013, a Portuguesa desceu três vezes de divisão e está agora na Série D do futebol canarinho, com as memórias dos títulos de campeã paulista que conquistou (em 1935, 1936 e 1973) cada vez mais distantes, bem como o estatuto de vice-campeã do Brasileirão em 1996. Mas há um nome que faz sonhar a Portuguesa com o regresso às glórias do passado: Alexandre de Barros, o primeiro negro a ser eleito presidente de um dos principais clubes paulistas.

Tal como as raízes da Portuguesa, a herança de Alexandre de Barros também é lusitana. O pai, Armando de Barros, nasceu em Vila Nova de Cerveira, em Viana do Castelo. Aos 16 anos, chamado para a Guerra Colonial em África, rumou ao Brasil, onde construiu família e se apaixonou pela Portuguesa - e quando o filho, Alexandre, nasceu fez dele sócio.

Agora, aos 42 anos, Alexandre de Barros tem a missão de reerguer a Portuguesa. Repórter na rádio Tropical Esporte Clube, após vários anos dedicado à cobertura desportiva deu, no dia 5 de dezembro, uma notícia insólita: a sua eleição para a presidência da Portuguesa, após ter conseguido 147 votos contra os 35 de Marcos Antônio Teixeira. E não tardou em, literalmente, meter mãos à obra.

Luz cortada e falta de jogadores

No primeiro jogo de 2017, cerca de 2500 adeptos da Lusa marcaram presença no Canindé, em São Paulo, para assistir ao triunfo da Portuguesa sobre o Barretos, por 1-0. Mas o que mais despertou curiosidade foi o momento da venda de bilhetes: Alexandre de Barros, recém-eleito presidente, esteve na bilheteira a vender ingressos, para gáudio dos adeptos que formavam fila.

"Você não é como os outros, você sente a Lusa", felicitou um dos presentes, numa altura em que a Portuguesa enfrenta grandes dificuldades para sobreviver e corre, inclusive, o risco de não ser admitida nas divisões nacionais do Brasil em 2018. Até o histórico Estádio do Canindé passou por um leilão público para fazer face às dívidas, no final do ano passado, mas acabou por não aparecer nenhum comprador.

Alexandre de Barros tem muitos fogos para apagar e poucos meios para o fazer. Para já, tenta arregimentar outras pessoas que, como ele, trabalhem por amor ao clube. "Pensamos numa equipa semi-profissional, com apoio de pessoas que gostem da Portuguesa", explicou, estando a recorrer aos serviços de administradores, empresários e advogados que não cobrem dinheiro. "Tudo o que não é penhorado é usado para pagar salários e contas que mantêm o clube de pé", explicou, já com planos para modernizar o estádio.

A luz cortada, por falta de pagamento, e o acumular de dívidas tornaram-se um hábito no clube ao longo dos últimos anos, e a falta de jogadores (em quantidade e qualidade) também se fez sentir. No triunfo frente ao Barretos, o treinador Tuca Guimarães só tinha cinco jogadores no banco.

Longe dos tempos em que apresentava nos relvados nomes como Djalma Santos (para muitos o melhor lateral direito da história), Júlio Botelho, Leivinha, Zé Roberto ou Marinho Peres (que fez carreira em Portugal como treinador), a Portuguesa não deixa de estar focada no regresso a um patamar superior. Para já, o plano passa pela promoção ao principal campeonato paulista (A1), ainda que o arranque na divisão A2 não tenha sido o melhor - três vitórias em seis jornadas, a quatro pontos do líder Água Santa.

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