Futebol, saudade e beleza

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Nunca, como nesta época, a Superliga Galp Energia fez tanta justiça à empresa petrolífera que a patrocina e conseguiu ser tão "deliciosa", "irresistível", "tântrica" ou "afrodisíaca", como está escrito naqueles anúncios classificados sobre "massagens" que prometem "saúde e beleza" a adeptos do pontapé na bola que lêem jornais desportivos. É verdade que já ouvi chamar outros nomes a este tipo de "massagens". Mas, enfim, a decência manda que a hipocrisia prevaleça neste tipo de publicidade, que não sei bem se é erótica ou pornográfica, embora saiba que a pornografia é o erotismo dos outros.

Uma coisa é certa a duas jornadas e a seis pontos do fim desta Superliga, muitos milhares de adeptos dos três "grandes" (só os do Benfica são 14 milhões!) vão precisar, quando este campeonato acabar, de muito "banho grego", de bastante "camoterapia" e, porventura, de algum "canguru perneta" (seja lá isso o que for!?), para conseguirem um "relaxamento total" em "ambiente sossegado". Em suma: com a ansiedade e o stress de tantos adeptos, ainda mais exaustos do que as finanças dos clubes da Superliga, tudo leva a crer que o tal negócio de "saúde e beleza" tem garantido o futuro imediato.

Não me levem a mal. Porque eu também estou ansioso. É que nem o facto de já ter visto e revisto centenas de vezes quase todos os filmes de Sir Alfred Hitchcock (que é um dos meus cineastas preferidos) me consegue libertar dessa ansiedade provocada pelo suspense em que esta Superliga continua a ser fértil. Com 60 anos de vida - e mais de meio século a ver a bola - já não tenho idade para isto. Ainda por cima depois de todo o "sofrimento" que me causou aquele jogo impróprio para cardíacos entre o AZ Alkmaar e o Sporting (3-2), no qual o "mistério" só foi desvendado no derradeiro segundo.

O nervoso miudinho vai aumentar ainda mais na próxima jornada. Sobretudo no fatal Benfica-Sporting programado para o novo Estádio da Luz (e não propriamente para o Estádio Algarve). Um jogo que poderá funcionar como uma guilhotina. E eu, que não quero mal ao Benfica mas sou adepto do Sporting, preferia que fosse o clube da Luz a representar o papel de Maria Antonieta já no cadafalso "Luís, meu querido, acho que estou a perder a cabeça". Com Luís Filipe Vieira a substituir Luís XVI, está claro!

Numa Superliga em que avultam tantos pontos surripiados aos três "grandes" por clubes "médios" e "pequenos", Sporting e Benfica bem podiam dizer, por exemplo, ao Penafiel - tal como o FC Porto, por exemplo, ao Nacional - aquilo que a imperatriz Popeia poderia ter dito a Nero, quando este tocava harpa durante o incêndio de Roma "Pedi-te que aquecesses o ambiente e não que pegasses fogo a tudo." Mas o certo é que o fogo alastrou e provavelmente só será apagado daqui a duas semanas. Ainda por cima, com o Sporting a disputar, pelo meio, a final da Taça UEFA no Estádio de Alvalade.

Devo dizer aos meus leitores que estas piadas sobre famosas damas da História - e não propriamente das "massagens" - me foram contadas (e cantadas), há poucos dias, na Fundação Gulbenkian, pela grande soprano inglesa Felicity Lott, ao interpretar, como só ela sabe, What's a Lady Like Me Doin'in a Joint Like This?, de Murray Grand (letra e música), num recital subordinado ao tema "Mulheres Perdidas e Esposas Virtuosas".

Ainda falta a piada sobre o Titanic. Quando apareceu o icebergue e o famoso navio começou a afundar-se, Murray Grand acha que Molly Brown terá certamente protestado dizendo "Eu pedi gelo, mas isto é ridículo." Foi disto que me lembrei, ao ouvir o major Valentim Loureiro invocar os compromissos do Governo em relação ao "totonegócio" e ao "Plano Mateus" e considerar ridícula a exigência (feita pelo ex-ministro Bagão Félix, creio eu), de pagamento, pela Superliga, das dívidas fiscais dos clubes. Ora, a Superliga não é o Titanic. E aquilo de que o povo mais precisa é de? futebol, saúde e beleza!

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