Fusão com o Atlântico gera 250 milhões para o BCP

Valor conseguido no momento zero da fusão, formalizada hoje, é equivalente ao que Nuno Amado quer pagar já dos 750 milhões que o banco ainda deve ao Estado
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No momento zero, a fusão do Millennium Angola com o angolano Banco Privado Atlântico, que hoje se formaliza em Luanda, gera 250 milhões de euros para o BCP. O valor corresponde ao que o presidente do BCP, Nuno Amado, afirmou ontem, na apresentação dos resultados do banco, querer antecipar já dos 750 milhões de CoCos (capital contingente) que ainda deve ao Estado.

O presidente do banco português afirmou ontem que o pedido para avançar com o pagamento de um terço do que ainda deve dos 3 mil milhões de capital contingente vai avançar nas próximas semanas e "correr os seus trâmites normais". A acontecer, restaria apenas saldar 500 milhões do empréstimo do Estado para capitalizar o banco, contraído há quatro anos e que apenas se vence em 2017. Dando força à possível entrada da instituição liderada por Nuno Amado na corrida pelo Novo Banco - que está dependente de autorização da Concorrência europeia (DGComp) enquanto houver dívida ao Estado.

A criação do Banco Millennium Atlântico resulta numa das maiores instituições financeiras de Angola, ficando em segundo lugar no crédito à economia, com uma quota de mercado de 10% em volume de negócios, 11% no crédito e 9% nos depósitos.

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Um ano para juntar "bancos complementares"

"O maior valor desta fusão é ser feita entre dois bancos cujos negócios se complementam. Não existe numa lógica de cortes mas de crescimento", afirmou hoje Carlos Silva, presidente do Banco Atlântico e vice-presidente do BCP, justificando a decisão tomada em 2014 - a parceria estratégica entre as duas instituições neste mercado recua a 2010 - e a negociação empreendida em maio do ano passado com a vontade de construir maior valor e solidez no mercado angolano.

[citacao:A criação do Banco Millennium Atlântico resulta numa das maiores instituições financeiras de Angola]

"Se quiséssemos só gerir o que tínhamos, estávamos bem. O negócio corria muito bem." Mas não servia a ambição de criação de valor acrescido no país, tornada possível com a fusão do valor do Atlântico e do Millennium Angola (onde o BCP detinha 50,1%, operação que gerou 29 milhões de euros para os resultados do banco português até março).

O Millennium Atlântico nasce, assim, com os rácios de capital ainda mais reforçados do que os dos bancos que lhe dão origem, com um nível de fundos próprios dos mais relevantes do sistema financeiro angolano (a rondar os 700 milhões de euros), permitindo cumprir melhor a sua vocação de "financiar famílias e empresas, sobretudo projetos estruturantes que contribuem para fomentar a sustentabilidade da economia angolana", precisou Carlos Silva na apresentação da fusão.

Fortemente apostado no financiamento às empresas e líder no Programa Angola Investe, com uma quota de 30%, o Millennium Angola era o segundo maior banco privado em volume de crédito a famílias e empresas. Características que complementam a vocação de banco de investimento da instituição liderada por Carlos Silva.

A nova instituição nasce com mais de 3,4 mil milhões de euros em ativos, dois mil colaboradores, 150 balcões - a aposta no digital é reforçada, num país onde mais de metade da população é jovem e o número de telemóveis está a crescer exponencialmente - e mais de 500 mil clientes.

BCP reduz exposição a Angola e ganha rendibilidade

Com a fusão hoje formalizada, o Millennium Atlântico nasce com um valor consideravelmente maior para acionistas e clientes do que a soma dos bancos que lhe dão origem. E com uma vantagem acrescida para o BCP: resolve o problema de sobre-exposição ao mercado angolano, uma vez que a sua participação na nova instituição cai de 50,1% para 22,5% - com quase certa subida da rendibilidade, dado o tamanho e sinergias criadas pela fusão. O restante capital do Millennium Atlântico fica nas mãos a Global Pactum, maior acionista do Atlântico.

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Também para o Atlântico esta união traz outras vantagens. Incluindo o facto de se juntar a uma instituição que beneficia de aceitação e credibilidade aos olhos do Banco Central Europeu. Além do que esse aval representa em termos de parcerias futuras, para Carlos Silva trata-se de um fator de extrema relevância no reforço das regras de compliance e adequação às instituições de supervisão europeia e norte-americana.

O BCP revelou ontem as contas relativas ao primeiro trimestre deste ano, com os resultados a cair 33,7% por comparação com os mesmos três meses do no passado. Mas descontado de imparidades e venda de dívida pública, os lucros de 46,7 milhões euros representam até um aumento de 3,6%, para 213 milhões de euros - com o peso da operação angolana a quase duplicar (29 milhões de euros).

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