Furto de obras de arte tem estatísticas pouco fiáveis
França, Itália, Rússia, Alemanha. Segundo a Interpol, são estes os países que anualmente registam maior número de ocorrências em matéria de furto de obras de arte, pertençam elas a colecções de natureza pública ou privada. As principais vítimas, essas, continuam a ser, a par da arte sacra, peças de pintura, escultura e estatuária.
Não há, porém, números rigorosos que permitam conhecer a real dimensão do tráfico de obras de arte no mundo, sendo a própria Interpol a lamentá-lo: em larga medida porque a generalidade dos Estados não lhe fornece, com a celeridade, frequência e detalhe que seriam desejáveis, um conjunto de dados essenciais. "Todos os anos", lê-se no seu site na Internet, a Interpol solicita aos países com que mantém protocolos de cooperação "dados estatísticos sobre número de ocorrências, sua localização e tipologia dos bens furtados. Em média, e num universo de 184 países, recebemos 60 respostas por ano, muitas das quais incompletas". Casos há, também, em que a resposta que chega é ainda mais vaga porque o país visado "não dispõe desses dados estatísticos" sequer.
Neste quadro, lembra a Interpol, "é impossível saber" se o desvio de obras de arte, flagelo "de que nenhum país está livre", constitui ou não "a terceira ou quarta forma de tráfico mais comum, como por regra é apresentado". Pela mesma ordem de razões, os valores em apreço são também impossíveis de calcular na sua globalidade. Sobretudo porque, lê-se ainda, "o valor [material] de um bem furtado pode variar substancialmente" entre o que lhe é atribuído no seu país de origem e o país para onde se vê desviado.
Ordem para modernizar
Inventários desactualizados, incompletos ou desfasados relativamente às normas de registo de bens culturais móveis constituem, por outro lado, um convite à dispersão e desvio de colecções, como os recentes acontecimentos na Rússia, ambos envolvendo instituições de prestígio internacional, vieram lembrar com renovada acuidade.
Em ambos os casos, recorde-se, essa perda só tardiamente foi detectada: o mega-roubo de 221 peças do Ermitage, em Sampetersburgo, terá sido consumado ao longo de seis anos; o furto de centenas de documentos do Arquivo Estatal de Arte e Literatura de Moscovo, anunciado pouco depois, só foi detectado quando desenhos do arquitecto vanguardista Yakov Chernikhov (1889-1951) haviam saído já do país, surgindo num leilão da Christie's, em Londres.
O ministro da Cultura, Mikhail Sokolov - que já antes referira que "a reputação das instituições culturais russas está dependente dos resultados" que se obtiverem -, considerou, esta semana, que o caso Ermitage constitui "um poderoso argumento para modernizar os sistemas de segurança" de todos os museus do país.
Vladimir Putin exigira celeridade, mas, no plano do levantamento da totalidade das colecções públicas, os prazos deverão ser bem mais longos: "Só nos museus estamos a falar de um universo de 79 milhões de peças", alertou esta semana fonte oficial ligada à Cultura citada pela ITAR-TASS, "pelo que esse trabalho poderá levar uma década a ser concretizado".
As medidas anunciadas não amenizaram, porém, o clima de acusações mútuas: repudiando o "manto de suspeição que se abateu sobre os profissionais do sector", a União dos Museus da Rússia considerou estar-se perante uma "campanha de caça às bruxas" destinada a abrir caminho à privatização dos museus do país.