Funeral de Manel d'Novas hoje à tarde no Mindelo
O corpo de Manel d'Novas, a pedido dos familiares, está a ser velado na sua residência no Monte Sossego, no Mindelo (ilha de São Vicente), de onde sairá para o cemitério às 17:00 locais (19:00 em Lisboa).
Entretanto, as reacções à morte de um dos maiores vultos da música cabo-verdiana não têm cessado, com particular destaque para a do ministro da Cultura de Cabo Verde, Manuel Veiga, que sublinhou que Manel d'Novas, 70 anos, foi um dos compositores que "soube desvendar a alma crioula", traduzindo-a em muitas canções.
"[Manel d'Novas] foi grande, um grande homem, um grande poeta, que soube como ninguém interpretar a alma crioula à cultura cabo-verdiana. Hoje, Cabo Verde perdeu um grande compositor e todos os homens e mulheres da cultura cabo-verdiana estão de luto", disse.
A presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Isaura Gomes, lamentou a morte do compositor e disse que a autarquia vai prestar uma "homenagem à altura do artista", sem adiantar pormenores.
Manel d'Novas, nasceu em Santo Antão e ficou conhecido essencialmente por ter uma postura crítica em relação à sociedade mindelense (S. Vicente), ilha onde vivia e que o adoptou como filho.
"Dizem-me que ele é natural de Santo Antão. E, no entanto, ele é acima de tudo um mindelense. Não no sentido de ser um «produto», mas antes no de ser um «revelado» pela cidade do Mindelo, mas por, sem qualquer esforço ou estudo particular, ter apreendido e interiorizado a vivência deste povo brincalhão, satírico, mundano e festivo", escreveu o escritor Germano Almeida no prefácio do livro "Manuel d'Novas - Vida, Música e Cabo-Verdianidade", do sociólogo César Augusto Monteiro.
Esse "povo mindelense" - acrescentou Germano de Almeida - "devolve (essa vivência) em forma de composições musicais, onde a ironia, o bom humor, o deixar andar, marcas individualizadas de Mindelo, são presença e componente mais importantes".
Durante a sua longa carreira, Manuel d´Novas escreveu vários sucessos, como "Nôs Morna", "Stranger ê um Ilusão", "Lamento d'um Emigrante", "Apocalipse", "Cmé Catchorr", "Cumpade Ciznone", "D. Ana", "Ess País", "Morte d'um Tchuc", "Nôs Raça" e "Psú Nhondenga", interpretadas nas vozes sublimes de Ildo Lobo, Bana e Cesária Évora, entre cantores cabo-verdianos que imortalizaram as suas composições.
Internado há cerca de uma semana na Unidade de Cuidados Especiais do Hospital Baptista de Sousa, o compositor, considerado um dos mais importantes trovadores de Cabo Verde e o compositor preferido da diva Cesária Évora, faleceu devido a complicações decorrentes do AVC que sofreu há três anos em Portugal.
Em termos de reconhecimento, Manel d'Novas foi homenageado no Festival da Baía das Gatas, em 2003, pela Câmara de São Vicente, e pela Presidência da República a 05 de Julho de 1997.