A Fundação Champalimaud vai criar em Portugal o seu próprio centro de investigação científica, que reunirá sob o mesmo tecto dois tipos de pesquisa, a básica e a clínica, e também o passo seguinte a sua aplicação aos destinatários finais, os doentes. Esta particularidade fará dele um centro pioneiro no País, já que este modelo, comum por exemplo nos Estados Unidos, nunca foi aqui verdadeiramente implantado. O cancro será a área de eleição na pesquisa clínica..Esta não foi, no entanto, a única novidade anunciada ontem por Leonor Beleza, a presidente da instituição. A escolha das neurociências e do cancro como áreas prioritárias para a pesquisa científica, um prémio anual para a ciência, capaz de rivalizar em montante com os melhores do mundo, incluindo o Nobel, e um programa de pós-graduação em colaboração com uma universidade no topo do ranking mundial são os outros projectos em que a Fundação Champalimaud vai empenhar-se a partir de agora (ver caixa). .Quanto a prazos temporais, Leonor Beleza preferiu ser cautelosa. "Não é possível adiantar neste momento quando poderá o centro estar a funcionar", disse aos jornalistas, explicando que é preciso "primeiro programá-lo, depois fazer um projecto e escolher um local". .Até lá, no entanto, a fundação não vai estar parada. Pelo contrário. "Até final do ano, teremos investigadores financiados por nós a trabalhar em instituições de pesquisa nacionais ou estrangeiras", concretizou a presidente da instituição, sublinhando que essa será também uma preparação "para o que vai ser o futuro centro de pesquisa"..Para financiar esses cientistas haverá este ano concurso, "cujos critérios de avaliação serão exclusivamente os da excelência científica", garantiu ainda Leonor Beleza..No que respeita às áreas científicas prioritárias definidas pela fundação, as neurociências, enquanto agregadoras de "grande multidisciplinaridade", serão sobretudo objecto de investigação básica, enquanto a investigação clínica estará centrada na área do cancro. ."As neurociências estão numa fase em que é necessário estudar mecanismos básicos que ainda são desconhecidos, enquanto no cancro a maior necessidade é hoje na área da pesquisa clínica", justificou a responsável da fundação..Interligando os dois tipos de investigação, o futuro centro funcionará também como pólo clínico, com um objectivo prioritário de traduzir os novos conhecimentos em terapias para os doentes. A escolha do cancro como área de eleição, eventualmente com particular atenção às doenças cancerosas mais frequentes na população portuguesa, torna-se portanto evidente..Numa primeira fase, e na sua vertente hospitalar, esse centro funcionará exclusivamente em ambulatório, até porque, sublinhou Leonor Beleza, hoje a maioria destas doenças é dessa forma que são tratadas.