A eleição do presidente do Partido Liberal Democrata (PLD), o maior do Japão, não costuma oferecer grandes emoções aos compatriotas, mas o facto inédito de terem concorrido duas mulheres e de um dos candidatos ser bastante popular e um sucesso nas redes sociais trouxe um acrescido interesse. No fim de contas, acabou por vencer o mais moderado e de baixo perfil, a opção do establishment. Ainda assim, Fumio Kishida promete mudanças..Ao fim de duas semanas de campanha, essencialmente nos corredores, a primeira volta ditou a eliminação das duas candidatas de perfil oposto e Fumio Kishida recebeu mais um voto do que o favorito, Taro Kono, entre os 764 possíveis (metade dos votantes são deputados e a outra metade delegados do partido). Na segunda volta, que tem a particularidade de o número de delegados baixar de 382 para 47, dando aos deputados o papel principal, Kishida obteve 257 votos e Kono 170..Para trás ficaram uma feminista defensora da inclusão (Seiko Noda), uma ultranacionalista que contava com o apoio do antigo primeiro-ministro Shinzo Abe (Sanae Takaichi) e o candidato mais popular entre os japoneses (Taro Kono). Ministro da Reforma Administrativa e encarregado pela campanha de vacinação anticovid, o mais novo dentre os candidatos encarnava o voto na modernização e na abertura. Kono é favorável, por exemplo, ao casamento entre homossexuais, o que não é permitido no Japão..Alguma imprensa viu numa fotografia publicada no Twitter o fim de linha para o candidato que se diz não ter carisma: sentado à mesa, de fato e gravata, a preparar-se para comer uma refeição preparada pela mulher, que o observa de pé, de avental. Um "anacronismo", comentaram os críticos. Os deputados mais conservadores não entenderam assim. "Os poderes no seio do PLD decidiram por várias razões que Kishida é a melhor aposta para a estabilidade, longevidade, etc. Eles já fizeram esta aposta antes", comentou à AFP Brad Glosserman, conselheiro do think tank Pacific Forum. "As expectativas são baixas, o que pode ser bom... porque se se espera pouco de alguém, é fácil surpreender", disse Glosserman..À liderança no partido segue-se a chefia do governo, a qual vai acontecer numa sessão parlamentar na segunda-feira. Até ao fim de novembro serão convocadas eleições gerais, nas quais o PLD de Kishida parte como favorito, como é tradicional. À exceção de duas breves interrupções, o partido conservador governa desde 1955..Após o momento da consagração, no qual recebeu no palco cumprimentos do líder cessante, Yoshihide Suga, e dos restantes candidatos, Kishida seguiu para a primeira conferência de imprensa enquanto presidente do PLD, na qual se comprometeu em dar seguimento ao desejo de reformas que ouviu dos eleitores e também em fazer cumprir as suas promessas..Entre estas estão a de limitar os mandatos das chefias (exceto a presidência) do PLD a três anos, o que irritou os deputados mais velhos, entre eles o secretário-geral do partido, Toshihiro Nikai, de 82 anos. Também prometeu maior transparência e pôr em prática um "novo capitalismo" menos dado a desigualdades. Em seguida, enumerou as principais prioridades: combater o coronavírus, injetar estímulos económicos, pôr fim à estagnação salarial, melhorar as relações regionais como contrapeso à China e lidar com os problemas decorrentes do rápido envelhecimento da sociedade japonesa..Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros durante quatro anos e meio, Kishida firmou um acordo com a Coreia do Sul em 2015 para resolver "final e irreversivelmente" a questão das "mulheres de conforto", as sul-coreanas que foram escravas sexuais dos invasores nipónicos. O assunto acabou por conhecer um recuo quando Seul deu ouvidos às vítimas, que acusaram o governo de ter feito um acordo sem o seu consentimento..A sua experiência diplomática será bem-vinda, tendo em conta que a Coreia do Sul é só um dos muitos assuntos prementes na frente externa, a começar pela cimeira do clima em Glasgow, em novembro. Antes, Kishida deverá estrear-se nos palcos mundiais na reunião do G20 em Itália, no final de outubro, onde se espera uma reunião bilateral com o presidente dos EUA, Joe Biden. Não é de esperar outra coisa que não o reforço da aliança com Washington. A dúvida é se este homem moderado, por força das alianças que o levaram ao poder, irá premiar a controversa Sanae Takaichi com a chefia dos Negócios Estrangeiros, o que poderá levar a uma postura mais agressiva face a Pequim..Deputado há 28 anos pelo círculo de Hiroxima, de onde a família é originária, Fumio Kishida segue a profissão do avô e do pai. Entre os cargos no governo destaca-se a chefia dos Negócios Estrangeiros. Aos 64 anos, vive na Tóquio natal com a mulher e os dois filhos, e em casa diz ser responsável pela limpeza da loiça e da casa de banho, como conta o Mainichi. É adepto de basebol e de beber o seu copo.cesar.avo@dn.pt
A eleição do presidente do Partido Liberal Democrata (PLD), o maior do Japão, não costuma oferecer grandes emoções aos compatriotas, mas o facto inédito de terem concorrido duas mulheres e de um dos candidatos ser bastante popular e um sucesso nas redes sociais trouxe um acrescido interesse. No fim de contas, acabou por vencer o mais moderado e de baixo perfil, a opção do establishment. Ainda assim, Fumio Kishida promete mudanças..Ao fim de duas semanas de campanha, essencialmente nos corredores, a primeira volta ditou a eliminação das duas candidatas de perfil oposto e Fumio Kishida recebeu mais um voto do que o favorito, Taro Kono, entre os 764 possíveis (metade dos votantes são deputados e a outra metade delegados do partido). Na segunda volta, que tem a particularidade de o número de delegados baixar de 382 para 47, dando aos deputados o papel principal, Kishida obteve 257 votos e Kono 170..Para trás ficaram uma feminista defensora da inclusão (Seiko Noda), uma ultranacionalista que contava com o apoio do antigo primeiro-ministro Shinzo Abe (Sanae Takaichi) e o candidato mais popular entre os japoneses (Taro Kono). Ministro da Reforma Administrativa e encarregado pela campanha de vacinação anticovid, o mais novo dentre os candidatos encarnava o voto na modernização e na abertura. Kono é favorável, por exemplo, ao casamento entre homossexuais, o que não é permitido no Japão..Alguma imprensa viu numa fotografia publicada no Twitter o fim de linha para o candidato que se diz não ter carisma: sentado à mesa, de fato e gravata, a preparar-se para comer uma refeição preparada pela mulher, que o observa de pé, de avental. Um "anacronismo", comentaram os críticos. Os deputados mais conservadores não entenderam assim. "Os poderes no seio do PLD decidiram por várias razões que Kishida é a melhor aposta para a estabilidade, longevidade, etc. Eles já fizeram esta aposta antes", comentou à AFP Brad Glosserman, conselheiro do think tank Pacific Forum. "As expectativas são baixas, o que pode ser bom... porque se se espera pouco de alguém, é fácil surpreender", disse Glosserman..À liderança no partido segue-se a chefia do governo, a qual vai acontecer numa sessão parlamentar na segunda-feira. Até ao fim de novembro serão convocadas eleições gerais, nas quais o PLD de Kishida parte como favorito, como é tradicional. À exceção de duas breves interrupções, o partido conservador governa desde 1955..Após o momento da consagração, no qual recebeu no palco cumprimentos do líder cessante, Yoshihide Suga, e dos restantes candidatos, Kishida seguiu para a primeira conferência de imprensa enquanto presidente do PLD, na qual se comprometeu em dar seguimento ao desejo de reformas que ouviu dos eleitores e também em fazer cumprir as suas promessas..Entre estas estão a de limitar os mandatos das chefias (exceto a presidência) do PLD a três anos, o que irritou os deputados mais velhos, entre eles o secretário-geral do partido, Toshihiro Nikai, de 82 anos. Também prometeu maior transparência e pôr em prática um "novo capitalismo" menos dado a desigualdades. Em seguida, enumerou as principais prioridades: combater o coronavírus, injetar estímulos económicos, pôr fim à estagnação salarial, melhorar as relações regionais como contrapeso à China e lidar com os problemas decorrentes do rápido envelhecimento da sociedade japonesa..Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros durante quatro anos e meio, Kishida firmou um acordo com a Coreia do Sul em 2015 para resolver "final e irreversivelmente" a questão das "mulheres de conforto", as sul-coreanas que foram escravas sexuais dos invasores nipónicos. O assunto acabou por conhecer um recuo quando Seul deu ouvidos às vítimas, que acusaram o governo de ter feito um acordo sem o seu consentimento..A sua experiência diplomática será bem-vinda, tendo em conta que a Coreia do Sul é só um dos muitos assuntos prementes na frente externa, a começar pela cimeira do clima em Glasgow, em novembro. Antes, Kishida deverá estrear-se nos palcos mundiais na reunião do G20 em Itália, no final de outubro, onde se espera uma reunião bilateral com o presidente dos EUA, Joe Biden. Não é de esperar outra coisa que não o reforço da aliança com Washington. A dúvida é se este homem moderado, por força das alianças que o levaram ao poder, irá premiar a controversa Sanae Takaichi com a chefia dos Negócios Estrangeiros, o que poderá levar a uma postura mais agressiva face a Pequim..Deputado há 28 anos pelo círculo de Hiroxima, de onde a família é originária, Fumio Kishida segue a profissão do avô e do pai. Entre os cargos no governo destaca-se a chefia dos Negócios Estrangeiros. Aos 64 anos, vive na Tóquio natal com a mulher e os dois filhos, e em casa diz ser responsável pela limpeza da loiça e da casa de banho, como conta o Mainichi. É adepto de basebol e de beber o seu copo.cesar.avo@dn.pt