Passam hoje 10 anos sobre o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, ocorrido na sequência de um violento terramoto e de um tsunami, que causou a morte a cerca de 19 mil pessoas. Apesar de os estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) não estabelecerem ligação significativa com alguns casos de cancro detetados, há peritos que consideram ser muito cedo para avaliar esses danos..Luís Neves, geólogo e professor catedrático na universidade de Coimbra, é um dos dois representantes de Portugal na Euratom - Comunidade Europeia da Energia Atómica, que mede os impactos transfronteiriços de instalações nucleares. Integra este organismo desde o final do ano passado, a par de Isabel Paiva, da Agência Portuguesa do Ambiente. Lembra-se bem de quando lhe chegou a notícia há dez anos, pois um acidente numa central nuclear é "a última coisa de que nós queremos ouvir falar". E também dos dias que se seguiram, em que foi acompanhando através das estações de monitorização da radiação dos níveis atmosféricos, difundidos pela internet. Luís Neves lembra que "nalgumas zonas do Japão, onde os valores tinham subido consideravelmente em relação ao que eram os valores de referência anteriores, ainda assim eram mais baixos do que são por vezes em muitas zonas de Portugal"..O professor refere-se a "zonas de natureza granítica e que habitualmente têm um valor mais elevado do que é o normal no Japão", colocando a realidade em perspetiva. Em 2011, 41% das amostras apanhadas na costa perto de Fukushima apresentavam níveis acima dos máximos seguros, mas em 2015 essa percentagem caiu para 0,04%, garantem os especialistas..Sem desvalorizar o acidente e as consequências, Luís Neves alude à confusão muitas vezes criada "entre o acidente nuclear e as circunstâncias que levaram à sua ocorrência: um terramoto e um tsunami". E por isso sublinha que "não morreu ninguém diretamente da exposição à radiação do acidente nuclear. Morreram 18 mil pessoas, sim, mas como consequência do terramoto que aconteceu naquela altura"..Os reatores da central nuclear desligaram-se automaticamente como consequência do sismo (cuja magnitude foi a maior alguma vez registada) e a central ficou sem energia elétrica quando chegou o tsunami. "Tal como acontece na indústria aeronáutica quando há acidentes, aprende-se com eles", considera Luís Neves. O perito considera que dez anos "é demasiado cedo" para avaliar as consequências na saúde e na vida humana. "Vai demorar muitos anos para se provar se existiu ou não um acréscimo de mortalidade diretamente relacionada com o acidente", embora avalie como "um bom indicador" não se provar a correlação com algumas doenças, tendo em conta "as ações que foram tomadas de imediato, e que terão minimizado a exposição da população à radiação..As emissões radioativas libertadas após o acidente na central nuclear japonesa de Fukushima, em 2011, não produziram efeitos negativos para a saúde, segundo as conclusões de um comité de investigadores da ONU, apresentadas nesta semana em Viena. De acordo com o estudo, noticiado pela agência Lusa, "não foi documentado nenhum efeito adverso na saúde dos habitantes de Fukushima que possa ser diretamente atribuído à exposição à radiação", disse a presidente do Comité Científico da ONU sobre as consequências das Emissões Radioativas (UNSCEAR), Gillian Hirth..O aumento acentuado do número de cancros da tiroide em crianças é atribuível a uma melhoria das técnicas de rastreio, que permitiram mostrar "a prevalência de problemas na tiroide na população jovem não detetados anteriormente"..O desastre de Fukushima aconteceu devido a um terramoto com magnitude 9 na escala de Richter, seguido de um tsunami, que inundou a fábrica e levou a que três dos seis reatores nucleares derretessem. O acidente causou a libertação de emissões radioativas significativas no ar, água e solo da região, localizada a 220 quilómetros de Tóquio..Às 14.46 de 11 de março de 2011, um terramoto de 9,0 graus de magnitude, com epicentro uns 100 quilómetros a nordeste da central nuclear de Fukushima, causou um triplo desastre. Dez minutos depois do sismo que deslocou o eixo da Terra, seguiu-se um tsunami, o qual levou a um desastre nuclear: três reatores entraram em fusão parcial..Mais de 18 mil pessoas morreram e quase meio milhão de pessoas foram obrigadas a abandonar as casas. Até hoje mais de 36 mil pessoas não regressaram à região, parte da qual continua interditada..As operações de descontaminação dos solos deverão continuar nos próximos largos anos enquanto o milhão de toneladas de águas radioativas (nos tanques em frente à central) poderão ter como destino o oceano Pacífico - uma decisão que não agrada nem a pescadores nem a ambientalistas.