Fronteiras geram tensão em visita de Erdogan à Grécia

Esta foi a primeira vez em 65 anos que um presidente turco visitou solo grego.
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Recep Tayyip Erdogan esteve na Grécia em 2004 e de novo em 2010, quando era primeiro-ministro. Mas ontem foi a primeira vez que visitou aquele país como presidente - tornando-se no primeiro chefe do Estado turco a fazê-lo em 65 anos. Após décadas de relações tensas entre os aliados da NATO, ontem o encontro em Atenas com o homólogo Prokopis Pavlopoulos também não foi pacífico, com Erdogan a apelar à atualização do tratado de Lausanne, assinado em 1923 e que define várias fronteiras na Europa e Médio Oriente no pós-I Guerra Mundial.

No tratado há questões em suspenso e coisas incompreensíveis, foi assinado há 94 anos, pela Grécia e Turquia e por mais 11 países e é necessária uma atualização, garantiu o presidente turco. Uma reivindicação inaceitável para Pavlopoulos. Um dos melhores juristas da Grécia, o presidente garantiu: O tratado não é negociável, não precisa nem revisão nem atualização.

Erdogan lamentou que os direitos da minoria muçulmana de 120 mil pessoas que vive na Trácia, no nordeste da Grécia (onde os cristãos ortodoxos são maioria), não sejam respeitados. O presidente turco acusou os responsáveis gregos de nomearem os muftis, impedido que sejam os muçulmanos a fazê-lo.

Depois do choque com Pavlopoulos, Erdogan suavizou o tom com o primeiro-ministro Alexis Tsipras. Este convidou o presidente turco a abrir em conjunto um novo capítulo nas relações greco-turcas, que não seja baseado em provocações mas na construção de pontes. Sublinhando que não fazer teria repercussões não só nas relações greco-turcas mas também nas relações entre a Turquia e a Europa. Ora apesar de afirmar querer ver o copo meio cheio, Erdogan não deixou de se queixar que as promessas da UE não se tenham realizado em termos de ajuda económica, apesar de respeitarmos os compromissos.

Em 2016, a Turquia assinou com a UE um pacto que limitou as chegadas de refugiados à Grécia, vindos da Turquia. Desde então os dois países têm trabalho em conjunto. Mas nem sempre foi assim. Parte do império otomano, a Grécia torna-se monarquia em 1830 após a guerra de independência. Na guerra greco-turca de 1919-22, os gregos tentam anexar a Ásia Menor após o fim do império otomano, mas acabam derrotados pelas forças turcas de Ataturk. Segue-se uma troca de populações com critério religioso - um milhão e meio de cristãos para a Grécia e meio milhão de muçulmanos para a Turquia. Após um período de acalmia entre as duas guerras, em meados dos anos 50 a questão de Chipre reacendeu a tensão, culminando com a invasão turca em 1974. Seria preciso esperar por 1999, quando ambos os países sofreram terramotos devastadores, para que a chamada diplomacia do sismo aproximasse os aliados da NATO, com gregos e turcos a trocarem ajuda. A recusa da justiça grega em entregar oito militares turcos que ali se refugiaram após a tentativa de golpe de julho de 2016 foi o último episódio de tensão entre os dois países. Ontem Erdogan voltou a exigir que estes sejam extraditados.

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