Freud no Coliseu

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Senti tristeza ao ler a moção que Passos Coelho apresentou ao Congresso do PSD. O País real e angustiado, que não vê o mundo com lentes partidárias, estaria pronto para aderir a uma liderança que tivesse um rasgo de lucidez. Contudo, na moção do primeiro-ministro não há vestígio de capacidade de reconhecer os problemas que nos sufocam. Roosevelt, Churchill, Gorbachev ou Mandela foram grandes porque chamaram o mal pelo seu nome. O discurso de Passos Coelho, pelo contrário, recalca e ilude a verdade. Merece uma crítica mais psicanalítica do que estritamente política. Como compreender, a não ser como um "ato falhado", a ausência da palavra "emigração" numa moção de 25 pp., onde existe um capítulo sobre "natalidade"? Em menos de três anos, mais de 300 mil portugueses, em idade ativa e muitos altamente qualificados, são obrigados a sair de um país que lhes rouba o futuro. E Passos Coelho apela à intensidade reprodutiva dos casais! Outra ausência, que é um verdadeiro "sintoma" patológico, é o vazio de uma reflexão sobre o descontrolo da dívida pública. O chefe do PSD esconde que a deriva da dívida pública é a prova de que austeridade da troika é a receita errada para enfrentar esse problema. Quando o resgate chegou, o País tinha 94% de dívida pública. A troika falava de um teto máximo de 114, 9%. Ora, em menos de três anos, a dívida explodiu mais de 35 pontos percentuais, ultrapassando mesmo em 15 pp o limite antecipado pela troika. Entre 2000 e 2007, a dívida aumentou 17 pp. Era o tempo do "despesismo". Com a austeridade, que visa controlar e reduzir, a dívida cresceu a um ritmo quatro vezes superior! O País precisaria de um governo lúcido e vigilante e não de gente mergulhada numa alucinação organizada, como a que decorre no Coliseu.

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