Frente Nacional já não assusta os franceses. E Marine sonha com o Eliseu
Desde que, há quatro anos, Marine Le Pen tomou ao pai as rédeas da Frente Nacional que o seu objetivo é construir uma base de eleitos locais que a ajudem a limpar a imagem radical do partido... já com as presidenciais de 2017 em mente. O caminho para o Eliseu parecia ser menos árduo após a vitória na primeira volta das regionais, na semana passada, mas as sondagens mostram que hoje não será um dia de festa para a extrema-direita. Mesmo assim, a filha de Jean-Marie Le Pen já garantiu que "aconteça o que acontecer" será candidata a sucessora de François Hollande.
O primeiro sinal de que o desejo de conquistar o Eliseu corria no sangue dos Le Pen, e de que deveria ser tido em conta, foi dado nas presidenciais de 2002, quando Jean-Marie Le Pen ousou passar à segunda volta com Jacques Chirac, obrigando os partidos tradicionais a unir-se para evitar a sua eleição. Avançando 13 anos, a filha, Marine, primeiro afastou-o da liderança do partido, depois expulsou-o, e suavizou a mensagem anti-imigração e eurocética da formação. Em 2014, a Frente Nacional foi o partido mais votado nas europeias em França e, no último domingo, ficou à frente na primeira volta das regionais.
Nesta saga dos Le Pen, e nas ambições presidenciais de Marine, há também que ter em conta a sua sobrinha Marion, de 26 anos, que hoje deseja ver confirmada a liderança que obteve na primeira volta em Provence-Alpes-Côte d"Azur, uma região do tamanho da Bélgica. Tal como a tia, o desejo de Marion é tornar a Frente Nacional mais mainstream e menos ligada à era de Jean-Marie Le Pen. "Estamos a avançar passo a passo, estamos a construir credibilidade... isto tranquiliza os franceses e destrói o "argumento do medo" que usam contra nós", declarou Maréchal-LePen.
Enquanto Jean-Marie Le Pen atraiu os votos de protesto, filha e neta têm conquistado um eleitorado desiludido com os partidos tradicionais e zangado com a governação socialista, principalmente no que diz respeito aos altos números do desemprego e a uma crescente preocupação com a imigração.
[citacao:Não há comparação com 2002. A Frente Nacional já não assusta tanto as pessoas, os eleitores socialistas estão mais relutantes em votar no partido de Nicolas Sarkozy]
"Não há comparação com 2002. A Frente Nacional já não assusta tanto as pessoas, os eleitores socialistas estão mais relutantes em votar no partido de Nicolas Sarkozy e as pessoas estão mais abertas a uma ideia de ter regiões da Frente Nacional, não é algo tão repulsivo para elas como ter Jean-Marie Le Pen presidente", explicou à Reuters François Miquet-Marty, diretor da empresa de sondagens Viavoice.
Para saber se Marine Le Pen chegará ou não ao Eliseu teremos de esperar ainda dois anos, mas na ficção essa questão já foi resolvida, graças a La Présidente (A Presidente), uma banda desenhada do historiador François Dupraire e do ilustrador Farid Boudjellal e que antecipa uma vitória da líder de extrema-direita nas presidenciais de 2017.
Pragmatismo
A Frente Nacional conquistou 11 das 36 mil autarquias francesas em 2014, ano em que foi também o partido mais votado nas europeias. Está ainda representada na Assembleia Nacional por dois deputados, sendo um deles Maréchal-Le Pen.
Conquistar hoje pelo menos uma região - depois de na primeira volta ter ficado à frente de 6 das 13 regiões francesas, o melhor resultado jamais alcançado pela formação da extrema-direita - iria provar que a Frente Nacional é cada vez mais um partido do sistema e daria a Marine Le Pen e à sobrinha a hipótese de mostrarem que sabem governar.
[citacao:Vamos respeitar a lei até governarmos a um nível nacional e podermos mudá-la]
"Vamos respeitar a lei até governarmos a um nível nacional e podermos mudá-la", já garantiu a sobrinha da líder da Frente Nacional, que, apesar da sua juventude e discurso polido, é bem mais conservadora do que a tia e mais próxima das ideias anti-imigração do avô.
Uma vitória hoje ajudaria também as perspetivas de Marine Le Pen nas presidenciais de 2017, eleições que estão a desassossegar o PS de Hollande e Os Republicanos de Sarkozy. Em 2012, a líder da extrema-direita teve 17,9% dos votos na primeira volta das presidenciais, não passando à fase seguinte.
Para já, as últimas sondagens parecem indicar que este será um domingo bem mais amargo do que o anterior para a Frente Nacional. "A palavra-chave tem de ser pragmatismo, não ideologia", declarou Marine, depois de serem conhecidos os primeiros indicadores desfavoráveis ao seu partido, mostrando que as alianças à esquerda e à direita - desta vez não haverá uma Frente Republicana - para impedir a subida ao poder dos nacionalistas irão resultar. O Partido Socialista retirou as suas candidaturas das regiões onde Marine e Marion ficaram em primeiro lugar, apelando ao voto n"Os Republicanos.
Segundo a TNS Sofres-OnePoint, Marine deve obter hoje 47% em Nord-Pas-de-Calais-Picardie, onde ficou à frente no passado domingo, mas a região será conquistada por Xavier Bertrand, d" Os Republicanos. Marion também não deve repetir o êxito da primeira volta em Provence-Alpes-Cote d"Azur - aqui, as sondagens apontam que o vencedor será, com 54%, Christian Estrosi, do partido de Sarkozy.