Varandas promete novo contrato a Bruno Fernandes, "o melhor médio da Europa"

Presidente do Sporting deu uma entrevista à televisão do clube para abordar a atualidade leonina. Diz que o novo técnico Leonel Pontes "não tem prazos, mas sim uma tarefa" e não poupou nos elogios ao capitão. Sobre decisões difíceis: "Um verdadeiro líder não pode fazer toda a gente feliz. Se quer fazer toda a gente feliz, que vá vender gelados."
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Em entrevista à Sporting TV, Frederico Varandas abordou a decisão de avançar para o despedimento de Marcel Keizer, um técnico que cumpriu a sua missão.

"Entendemos que o ciclo de Marcel Keizer se fechou. Mas é importante também e justo, inteiramente justo, relembrar como o clube estava em novembro. Olho não só para o lado financeiro. Quando me perguntam: "presidente, olhe o treinador A, B ou C," é muito importante que as pessoas percebam que nenhum clube treinador quer vir para um clube com essa instabilidade e Marcel Keizer mesmo com essa instabilidade aceitou este desafio e cumpriu a sua missão. Num ambiente difícil, num contexto difícil consegue vencer dois títulos importantes. Um último extremamente importante e simbólico. Tínhamos a expectativa que continuasse a crescer", admitiu o presidente leonino.

O ponto de viragem foi a Supertaça e a derrota com o Benfica (5-0). "A final da Supertaça magoou-me muito e a confiança em Marcel Keizer baixou e isso sentiu-se a passar ao grupo. A equipa do Sporting tanto podia fazer um jogo bom, como um jogo muito mau. Nós decidimos que era altura de fechar esse ciclo", defendeu, atacando que questiona os timings. "Primeiro a decisão não teve a ter com o resultado com o Rio Ave, foi uma decisão ponderada depois da final da Supertaça. E muitos dizem: 'Para isso, devia ter saído no final da época'. Mas aí eu pergunto: Mas alguém iria despedir um treinador que tinha acabado de vencer uma Taça da Liga e uma Taça de Portugal naquelas condições? Alguém? Tenho a certeza que não", questionou o líder leonino, garantindo que a saída de Keizer não compromete o projeto.

Leonel Pontes é o senhor que se segue. Está a prazo? "Leonel Pontes não tem prazos, tem uma tarefa. Estaremos com ele para observar aquilo que tivermos de observar. Não foi escolhido para ser treinador dos sub-23 por acaso. Tem muitos anos de Sporting, conhece a realidade do futebol português e hoje tem a perfeita noção do que se passa no Sporting, reconhece a evolução que a estrutura teve nos últimos anos, conhece os Sub-23, o plantel principal, as rotinas de trabalho, o gabinete de observação, o departamento médico e é um treinador português. Em novembro, para mim também era importante. Mas uma vez o facto de não haver instabilidade afasta o facto de fazermos coisas que gostaríamos de fazer noutras circunstâncias", respondeu.

Qual o perfil do futuro treinador? "Não ter medo de apostar na formação. Um treinador competente que aposte na formação e que tenha resultados", respondeu.

"Bruno Fernandes, o melhor médio da Europa"

Feliz por manter Bruno Fernandes, o presidente da Europa não se coibiu de elogiar o "melhor médio da Europa" e que irá ver o seu contrato revisto em alta. "Não vão ser pagos cinco milhões [pela proposta do Tottenham que foi recusada]. O Bruno Fernandes vai ter o contrato revisto. Não porque está previsto contratualmente, mas porque merece. O Bruno Fernandes merece que sejam revistas as suas condições até para exemplo para todos os outros jogadores. É assim que funciono. Se me derem, eu dou. Estamos totalmente alinhados: empresário, jogador e Sporting", garantiu o presidente leonino, adiantando que o jogador "não está apalavrado" com outro clube.

O líder do clube leonino explicou a nega à proposta do Tottenham, o único clube que fez uma proposta séria: "A única proposta séria foi de 45 milhões do Tottenham, mais 20 milhões por objetivos que era eles vencerem a Premier League e a Champions. Achei esses objetivos difíceis de concretizar. Entendi não vender. Faltava um mês de mercado, continuei à espera, de clubes de fora da Inglaterra, mas percebi que não ia haver mais propostas."

Depois disso, a primeira coisa que fez foi chamar o jogador e explicar porque recusou a proposta. "Bruno compreendeu perfeitamente. Isto não implica que desista dos seus sonhos, porque quero jogadores com sonhos e ambição, que tenham o sonho de vencer a Champions, de ir para a Premier League, para o Real Madrid. Percebeu, como capitão, que o valor não era justo", informou Varandas.

O líder leonino fez ainda "um balanço muito positivo" do mercado: "Conseguimos encaixar cerca de 60 milhões de euros, perdendo apenas um dos titulares indiscutíveis e mantendo o melhor médio da Europa. Há um aspeto muito importante e que foi pouco valorizado: vimo-nos livres de um lastro de jogadores excedentários que ocupavam cerca de 25% do nosso orçamento. Não foi fácil tirar estes jogadores daqui. Entendemos que esses jogadores não tinham valor desportivo, mas estavam muito acima do valor de mercado, o que dificultava muito as suas saídas. Não podíamos aumentar despesas sem tirar estes jogadores, em janeiro e agora. Estou a falar de Petrovic (ganha três milhões de euros), André Pinto (3 milhões), os irmãos Ruiz (1,5 milhões), Jefferson (1 milhão), Wallyson (meio milhão). Estes jogadores impediam-nos de atacar o mercado. Nas próximas janelas de mercado, vamos ter mais força."

Raphinha vendido no fecho do mercado por uma razão. "Não ia vender Raphinha sabendo que podia vir Real, Juventus ou City e bater 70 milhões por Bruno Fernandes. Ia correr o risco de perder os dois jogadores. O Sporting não pode dizer não a uma proposta de 70 milhões. No Mónaco (sorteio da Champions) estavam todos os responsáveis desportivos dos clubes mais importantes e logo percebi que Bruno Fernandes não ia ser vendido. Decidimos partir para outro plano, vender Raphinha, não queria perder dois titulares indiscutíveis. O Sporting não é irresponsável, não podia correr o risco de vender Raphinha e em cima do mercado perder Bruno Fernandes. O meu objetivo é manter o rigor financeiro, mas também competitividade desportiva", explicou, lembrando que dos que saíram (Bas Dost, Thierry Correia e Raphinha, só este último era titular indiscutível e por isso a questão do desequilíbrio do plantel não se coloca.

Bas Dost, o negócio possível

"Muito honestamente, foi o negócio possível". Foi assim que Varandas se referiu à saída do jogador antes de recordar "a novela". "Quando ouço um jogador a dizer em maio que não quer ficar, e quando esse jogador, paralelamente a esse desejo, significa um custo de 5,9 milhões de euros por ano... Não é um custo suportável para o Sporting e até para a realidade do futebol português. Não podemos ter um jogador que custa seis milhões por ano no nosso plantel. É quase 10% do nosso orçamento. Não gostei da maneira como ele saiu, mas não foi o Sporting. Lamentavelmente, fomos obrigados a fazer aquela troca de comunicados, porque, por muito que eu goste do jogador, da pessoa e do homem, não posso ficar refém de um agente. Foi a venda possível. Sei que ser líder, e ter que tomar decisões, faz com que muita gente não fique feliz. Um verdadeiro líder não pode fazer toda a gente feliz. Se quer fazer toda a gente feliz, que vá vender gelados", afirmou.

Já a venda de Thierry Correia foi muito boa [12 milhões de euros]: "É um jovem formado no Sporting, considerando o nosso momento, o valor do jogador, e a proposta, considero que foi um bom negócio."

O que valem os reforços?

"Optámos por estes três jogadores [Fernando, Jesé e Bolaise] que estavam na lista do nosso scouting. O Bolasie é um jogador de rendimento, é um jogador feito, maduro. Temos um plantel muito jovem e precisámos de jogadores com maturidade. É um extremo com 120 jogos na Premier League. Na última época, no Anderlecht, fez oito golos, oito assistências e 38 jogos. Está habituado a campeonatos de alta intensidade", elogiou o presidente.

Quanto a Jesé: "É um avançado que está identificado há muito tempo. Finalmente encontra-se comprometido com a sua profissão. Se me perguntarem se gostaria de ter o Jesé de há três anos eu digo que não. E disse isso mesmo ao jogador. Mas agora é diferente, recolhi informações com pessoas que partilharam o balneário com ele e hoje sei da vida dele dentro e fora de campo. Saiu o Bas Dost, mas o Jesé é também um avançado centro. Não é igual ao Dost ou ao Luiz Phellype, mas também não queria isso. O Jesé é avançado centro, mas mais móvel, dá outras mais valias. E o Vietto também pode jogar a avançado centro, fez assim a melhor época no Villarreal."

Já Fernando "é um extremo que foi considerado dos melhores do campeonato brasileiro em 2016/17 e 2017/18" e "foi uma revelação do campeonato brasileiro".

Um ano de mandato

Frederico Varandas está a completar um ano na presidência e faz "um balanço positivo". "Entrámos em setembro de 2018 com o clube estilhaçado, com cinco principais jogadores que tinham rescindido sem compensações financeiras e desportivas. Tínhamos a necessidade de resolver um problema de tesouraria de 100 milhões de euros. Tivemos de fazer duas operações em tempo recorde. Ainda resolvemos três processos de rescisão, ficámos em terceiro lugar e conseguimos dois títulos. Chegámos depois de uma época terrível, sem condições e ainda assim, a nível de títulos, fizemos a melhor época dos últimos 17 anos. Isto não é positivo?.Já me disseram que estou no cargo mais difícil que existe em Portugal. Pior do que ser primeiro-ministro. O Sporting agora está muito mais governável", desabafou o líder leonino.

Quanto "à situação financeira está muito melhor do que em setembro de 2018, mas não é a ideal" e há a necessidade de" criar mais talento para utilizar na equipa A". A reestruturação "é um processo longo e muito duro", mas está "prestes a ser finalizado" e com boas perspetivas.

Melhor momento no Sporting neste primeiro ano de presidência? "O dia a seguir à conquista da Taça de Portugal", respondeu, recordando que "o pior foi a final da Supertaça."

Sobre as críticas, pediu honestidade a quem as profere: "Vou ser curto e grosso. Depois do que esta direção fez, da forma como agarrou o clube e olhando para a história das últimas duas décadas... Bem, tínhamos necessidade imediata de 100 milhões de euros, um contrato com a NOS por assinar, voltar a apostar na formação, conquistámos dois títulos - repito, dois títulos. E isto foi tudo feito. E depois, ao primeiro desaire, aparece a contestação? Os sportinguistas não são estúpidos. Ao primeiro desaire aparecem lá os esqueletos... Mas deles todos, não ouvi nem uma palavra quando ganhámos a Taça da Liga e de Portugal. Meus senhores, eu tenho defeitos, muitos defeitos, mas não sou estúpido. Os sportinguistas não gostam disto. É gente sem humildade democrática, que se intitulam porta-vozes do Sporting na desgraça. Ou não percebem nada de futebol ou são intelectualmente desonestos."

E deixou ainda um recado à oposição."Quando dizem que existe um fosso grande para os nossos rivais, eu perguntou: mas fui eu que criei este fosso? Eu nasci no Sporting, amo o Sporting, e sempre vi estes senhores a gravitar à volta do clube. Este fosso parece que interessa a alguns. Mas, nesta altura, estamos a trepar para sair do fosso, apesar de haver muita gente a tentar puxar-nos para baixo. Nos últimos 10 anos, o Benfica fez cerca de 900 milhões de euros em vendas, nós fizemos 400 milhões. Temos de trabalhar muito. Temos uma equipa de sub-23 com uma média de idades inferior a 18 anos. É aí que está o nosso futuro. Temos de fazer muitos negócios para conseguirmos olhar os nossos rivais nos olhos. Não é a bater no peito, no leão, que vamos ganhar jogos. Vamos ganhar jogos com trabalho e competência. Não abdico dos valores do Sporting", prometeu Frederico Varandas.

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