Freakeconomia, ou simples economia

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Um dos aspectos mais curiosos da vida profissional de um economista é o desconhecimento por parte da maior parte das pessoas do que é realmente ser um economista. Ao contrário de outras profissões, não existe um acto específico pelo qual o economista se defina, daí que cada pessoa acabe por criar a sua imagem do que o economista faz. Calculo que na maioria dos casos seja a de indivíduos pouco interessantes, com obsessão por números, com uma linguagem de código própria, frequentemente contraditórios, tanto falando de aumentar a poupança como de aumentar o consumo, à procura de uma chave mágica não se sabe bem para que porta (a do desemprego, a do crescimento, a da inovação, etc...). Muitos dos livros publicados em economia não permitem fugir a essa imagem. Mas de quando em quando surge algo de diferente. A recente publicidade dada ao livro Freakeconomia de Steven Levitt e Stephen Dubner, no seguimento do seu sucesso nos EUA, vem tentar dar a conhecer a um público genérico um certo tipo de análise económica.

O livro Freakeconomia ilustra como certos problemas que aparentemente não fazem parte do que a maior parte das pessoas considera ser análise económica, podem ser objecto de um tratamento rigoroso, e de como a procura da abordagem certa origina frequentemente respostas surpreendentes. Em particular, este livro ilustra muito bem as diferenças entre correlações e causalidade.

A um outro nível mostra também que a economia não é apenas números e contas. Os economistas procuram soluções e respostas para problemas e questões armados de uma simples caixa de ferramentas - partir do princípio de que as pessoas têm objectivos e que os procuram alcançar da melhor forma possível.

Apesar da popularidade que o livro possa alcançar nos meios de comunicação social, se quiser começar a conhecer melhor o pensamento dos economistas, há outras obras, também interessantes na sua forma de observar e compreender a realidade de um ponto de vista "económico": os livros de Fried-man, Krugman e Landsburg.

Sendo a actividade do economista pensar de certa forma, para compreender o comportamento humano, tal obriga a combinar em doses variáveis de acordo com a situação, teoria, intuição, realidade e procura de soluções (por vezes estranhas, reconheço). Estes livros ilustram muito bem como pequenas e grandes decisões de todos os dias têm uma componente de análise económica, mesmo que apenas implícita e não reconhecida, no comportamento de cada pessoa. Como num dos exemplos usados por Friedman, não sabemos exactamente como andamos, basta ver as dificuldades em criar máquinas que reproduzam fielmente esse andar, mas fazemo-lo todos os dias. Também os grandes jogadores de bilhar não saberão muito de matemática e física, mas quando jogam actuam como se o soubessem.

A leitura e compreensão dos livros propostos não o irão ajudar a perceber como prever o PIB ou a encontrar a solução para o desemprego, mas talvez o convençam de que economia é mais do que contas e previsões, e muito mais fascinante e interessante por isso mesmo. Em cada pessoa há um economista à espera de ser despertado.

Livros: Steven Leavitt e Stephen Dubner, Freakeconomics; David Friedman, Hidden Order -The Economics of Everyday Life; Paul Krugman, The Accidental Theorist and Other Dispatches from the Dismal Science; e Steven Landsburg, Arm-chair Economist - Economics and Everyday Experience. C

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