Frauke Petry: do ódio ao euro para os tiros contra os refugiados
Frauke Petry e Angela Merkel têm em comum o facto de liderarem um partido político alemão, de serem formadas em Química, de usarem o apelido dos ex-maridos, de terem crescido na ex-RDA e de terem tido na família um pastor (num caso um evangelista e noutro caso um luterano). Mas os pontos de contacto entre as duas mulheres que aparecem frequentemente nos noticiários alemães parecem acabar aqui. A líder da Alternativa para a Alemanha (AfD) posicionou o partido na extrema-direita e usa um discurso xenófobo, defendendo a expulsão de migrantes e uso de armas contra refugiados que entrem ilegalmente no país. A líder da União Democrata-Cristã e chanceler da Alemanha (atualmente no terceiro mandato) defende a política de integração de refugiados vindos de países em guerra. Porém, as sondagens estão a correr melhor à primeira do que à segunda.
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"Em caso de necessidade" a polícia deveria utilizar armas para ameaçar pessoas que tentam refugiar-se ilegalmente na Alemanha, declarou Frauke Petry, numa entrevista publicada no fim de semana pelo Manheimer Morgen. "Precisamos de controlos eficazes para prevenir a entrada, via Áustria, de tantos refugiados não documentados", disse a líder da AfD, sublinhando que no entendimento do partido que lidera a polícia de fronteiras da Alemanha "deveria poder fazer uso das armas em caso de necessidade". Petry, de 40 anos, sugeriu sem hesitar: "Nenhum agente policial quer disparar contra um refugiado e eu também não. Mas como último recurso, devem poder utilizar armas de fogo". As declarações foram alvo de fortes críticas, tendo motivado mesmo uma intervenção por parte do vice-presidente do sindicato de polícia alemão Joerg Radek: "Quem propõe uma abordagem tão radical parece querer, aparentemente, derrubar o Estado de direito".
A realidade, porém, é que os ataques de Frauke Petry aos migrantes e refugiados que têm chegado à Alemanha - 1,1 milhões em 2015 - têm feito a AfD subir nas intenções de voto dos eleitores. Nas legislativas de 2013 o partido conseguiu 4,7% dos votos. Três anos depois, tem 12% nas intenções de voto, segundo uma sondagem Emnid divulgada no final de janeiro. Nesse mesmo inquérito de opinião, os conservadores de Merkel surgem em primeiro lugar com 34% e os sociais-democratas do SPD, seus aliados na grande coligação, surge em segundo com 24%. A formação liderada por Petry posiciona-se assim como a terceira força política da Alemanha. Apesar de estar ausente do Bundestag (por não ultrapassar a barreira dos 5%), entrou no Parlamento Europeu com sete deputados em 2014 e está nos parlamentos regionais de cinco estados federados alemães. No próximo mês de março um novo teste surgirá nos escrutínios regionais de Bade-Vurtemberga, Renânia-Palatinado e Saxónia-Anhalt.
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Natural de Dresden, cresceu em Brandemburgo (na ex-RDA). "Eu cresci na Alemanha de Leste, onde só se podia dizer a verdade em casa ou então na igreja. Chegámos a um ponto, na Alemanha e na Europa, em que as pessoas dizem: não foi por isto que saímos à rua em 1989 [ano da queda do muro de Berlim]. Há a sensação de que a democracia não correu lá muito bem", declarou Frauke Petry à revista 'Economist'. Os alemães, notou, nunca foram questionados sobre se queriam o euro ou sobre qualquer outro tratado da União Europeia. Estava-se em maio de 2013 e AfD tinha acabado de ser criada por um grupo de académicos, jornalistas e economistas que contestavam o resgate a países do euro em crise e até a própria integração da Alemanha na moeda única.
Mas desde então, muita água correu no partido e começou a haver disputas internas. Petry, mãe de quatro filhos que teve com o pastor evangélico Sven Petry (de quem se separou no final do ano passado), representa a ala mais à direita da Alternativa para a Alemanha, crítica do islão e anti-imigração, partidária do fortalecimento da relação com o regime russo. Frauke Petry foi eleita em julho do ano passado como a porta-voz principal do partido com 60% dos votos (em teoria, a formação tem um outro porta-voz: Jörg Meuthen). Bernd Lucke, professor universitário e conhecido eurocético que liderou o partido desde a fundação, cedeu-lhe o lugar na chefia do mesmo. Mas não sem antes denunciar uma escalada xenófoba e pró-Rússia no interior da AfD. E acusar a sucessora de estar a transformar uma formação que nasceu da oposição ao euro num "partido ao estilo Pegida".
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