Frankie Chavez: "Sinto-me mais confiante para escrever em português"

Cinco anos depois do último registo em nome próprio, o músico lisboeta está de regresso com Alcântara, o primeiro álbum cantado em português, que vai apresentar ao vivo "olhos nos olhos" com os fãs, numa digressão de clubes que se iniciou no Bang Venue, em Torres Vedras, e chega esta sexta-feira a Lisboa.
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Soa estranhamente natural, a música de Frankie Chavez cantada em português, depois de toda uma carreira, iniciada em 2011 com Family Tree, desde sempre alicerçada no imaginário folk-blues americano - idioma incluído. Agora, pela primeira vez, arriscou escrever na sua língua mãe e o resultado disso é Alcântara, um álbum "menos guitarrístico", segundo o próprio "mais focado na mensagem e na canção", em que "a expressão se centra mais na composição e na letra e não tanto na execução". Não se assustem no entanto os fãs do virtuoso guitarrista, este é sem dúvida um disco de Frankie Chavez, feito de "canções tocadas à guitarra", embora talvez mais folk que blues, quando comparado com os anteriores. E depois há as letras em português, que fazem este conjunto de belas canções funcionar como um todo, sem destoar do passado, mas acrescentando algo novo ao universo musical do músico e cantor. "Deu-me muita pica não repetir processos e procurar um caminho novo, que é afinal um dos fundamentos da arte", defende.

A vontade de começar a escrever em português surgiu após a participação no Festival da Canção de 2019, com a canção Mundo a Mudar, feita a meias com Pedro Puppe (letra) e interpretado pelos Madrepaz. Cerca de um ano mais tarde, quando escreveu o tema Cheguei Bem, entretanto lançado como single de antecipação a Alcântara, pediu novamente ao amigo para lhe escrever a letra e o resultado excedeu as suas melhores expectativas. "Em poucos dias conseguiu escrever uma história que tinha tudo a ver comigo e com o que se passava na minha vida nessa altura. Fiquei cheio de inveja, porque é uma daquelas letras que gostava mesmo de ter escrito", diz com humor. A vontade ia assim crescendo e quando começou o segundo confinamento, no início de 2021, montou um miniestúdio em casa e começou a compor, a escrever em português e "a coisa foi saindo", sem grandes planos. "Fui fazendo como faço sempre, sem pensar muito no que poderia dar", esclarece. Mas afinal deu um belo conjunto de canções, que abrem todo um novo caminho para a música de Frankie Chavez, depois de toda uma vida a cantar em inglês. "Para alguém como eu, que sempre ouviu mais música anglo-saxónica, era mais fácil escrever também em inglês. E como quando comecei só cantava canções de outros, mais fácil se tornou", recorda, acrescentando que "o inglês acaba sempre por funcionar como uma proteção para os músicos".

Não é por isso de admirar que o português surja assim numa altura em que se sente "muito mais confiante" enquanto artista: "Deixei de sentir essas barreiras iniciais e aprendi o valor da letra para uma canção, de como passar essa ideia pela música", refere. Curiosamente, um dos fatores que também contribuíram para esta mudança foi o projeto instrumental Miramar, que mantém com Peixe, guitarrista de Ornatos Violeta e Pluto. "O Peixe é uma pessoa com muita experiência de composição, que já colaborou com alguns dos melhores letristas portugueses e trabalhar com ele alargou-me bastante os horizontes, a vários níveis", assume. Frankie Chavez conhecia o trabalho de Peixe nos Ornatos, mas especialmente nos Pluto, uma das suas bandas favoritas, o que o fez voltar a esses discos, ouvindo-os de toda uma nova forma. E deles seguiu para outros, de "gente como Sérgio Godinho, Clã ou Jorge Palma", de quem faz uma bela versão do clássico Só no disco. "Tudo isso contribuiu para começar a escrever em Português, porque me deu outra visão de como as músicas podem ser lidas. Portanto posso dizer que Miramar influenciou este disco mais ao nível da escrita e não tanto musicalmente, o que é estranho, tratando-se de um projeto instrumental", ironiza.

Agora é tempo de apresentar Alcântara, de voltar a uma rotina de estrada da qual está afastado há muito tempo. "O meu último álbum é de 2017 e entretanto veio a pandemia, portanto é mesmo um regresso muito especial", admite. Também por isso, em vez de um único e maior espetáculo de apresentação, o músico optou por realizar uma digressão por alguns dos principais clubes de música em Portugal. Ou seja, "em salas mais pequenas, olhos nos olhos com o público e a sentir a energia das pessoas ali mesmo à nossa frente". A primeira apresentação foi no dia 3, no Bang Venue, em Torres Vedras, e hoje chega ao Musicbox, em Lisboa, amanhã o Salão Brazil, em Coimbra, a 18 o M.Ou.Co., no Porto, a 24 o Texas Bar, em Leiria, 25 o Sons de Vez, em Arcos de Valdevez, e a 1 de abril o Lustre, em Braga.

dnot@dn.pt

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